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PF apreende celular de Bolsonaro: o que acontece agora? Como é a perícia?

Jair Bolsonaro falou com jornalistas sobre ação da Polícia Federal realizada na manhã desta quarta-feira (3) - Jovem Pan News/Reprodução de vídeo
Jair Bolsonaro falou com jornalistas sobre ação da Polícia Federal realizada na manhã desta quarta-feira (3) Imagem: Jovem Pan News/Reprodução de vídeo

Abinoan Santiago

Colaboração para Tilt, em Florianópolis

03/05/2023 12h21Atualizada em 05/05/2023 08h20

A PF (Polícia Federal) apreendeu hoje (3) o celular de Jair Bolsonaro (PL) em sua casa, em Brasília, em uma operação que investiga se houve adulteração de dados de vacinação do ex-presidente envolvendo a covid-19.

Bolsonaro negou a suspeita, e não forneceu códigos de desbloqueio do celular: "meu telefone não tem senha, não tenho nada a esconder sobre nada", afirmou. Veja a seguir perguntas e respostas sobre como funciona a análise de dados de um celular.

O que acontece agora?

Em posse do aparelho, os peritos da PF buscarão indícios que auxiliem na investigação. Dependendo do que for encontrado, as pegadas digitais podem beneficiar ou serem usadas como provas contra o investigado.

O ex-presidente terá o celular analisado mediante a autorização da Justiça, assinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Invadir o telefone alheio sem aval judicial é crime e pode anular uma investigação, segundo a APCF (Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais).

No caso de Bolsonaro, os agentes da PF deverão buscar elementos relacionados à possível adulteração de dados do cartão de vacinação associados ao ex-presidente, conforme determina a ordem de Moraes.

Como é feita a perícia?

Uma fase importante da análise pericial do celular do investigado é saber o que tem guardado no aparelho.

O primeiro passo após ter o celular em mãos é desbloqueá-lo, se for o caso, e colocá-lo no modo avião, desligando wi-fi e GPS. Isso ajuda a impedir que outras pessoas consigam acessar o aparelho de maneira remota, o que pode atrapalhar o andamento da investigação.

A segunda etapa é usar ferramentas especializadas. Os investigadores puxam para uma máquina, geralmente um computador ligado a um servidor de dados, as informações que constam na memória do aparelho.

Após isso, os peritos organizam os dados por tipo de item: foto, vídeo, áudios, conversas de aplicativo de mensagens. Isso, segundo investigadores ouvidos por Tilt, em reportagem especial publicada em 2021, ajuda a focar em determinado tipo de arquivo para depois partir para outro, e não analisar tudo só de uma vez.

E se alguém apagou algum dado, já era?

De forma geral, caso algum investigado tenha se adiantado à apreensão e apagado dados do celular, como imagens ou vídeos recebidos, a perícia ainda tem chance de recuperar as informações. Contudo, isso deixa o trabalho mais dificultoso e vira uma corrida contra o tempo.

Mais de 90% dos dados que são deletados dos aplicativos e sistemas continuam no aparelho. Você só move de uma pasta para outra, que funciona como lixeira. Os aplicativos precisam ter certeza que de fato o dado foi deletado, então conforme vai passando o tempo, periodicamente, o próprio aplicativo sobrepõe os arquivos e apaga os antigos.
Hiago Kin, presidente da Abraseci (Associação Brasileira de Segurança Cibernética)

O mesmo serve para dados de programas que possuem armazenamento de dados na nuvem. A perícia também vasculha informações desse tipo.

Dependendo da situação, os peritos conseguem chegar até mesmo em conversas apagadas de WhatsApp. Um grande trunfo das perícias também costuma ser o backup, que fica fora do WhatsApp, no próprio dispositivo ou em serviços como Google Drive e iCloud.

E se acharem indícios de outro crime?

O perigo deverá comunicar às autoridades policiais competentes para avaliar a inclusão desses itens no processo atual ou se outro inquérito deve ser aberto.

"Já na ordem judicial é preciso dizer por que quer aquela informação. E não é falar 'acho que tem alguma coisa lá'. Precisa existir a suspeita do crime tal e pedir uma apreensão por motivo tal", explicou Evandro Lorens, diretor da APCF, em entrevista anterior a Tilt.

*Com informações de reportagem especial de Gabriel Francisco Ribeiro, publicada em 8 de fevereiro de 2021.