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Líder em lixo eletrônico na América Latina, Brasil tem só seis recicladoras

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Imagem: Getty Images

Rodrigo Lara

Colaboração para Tilt, em São Paulo

07/10/2021 05h00Atualizada em 08/10/2021 15h06

Você conhece os materiais que podem ser considerados lixo eletrônico? Uma pesquisa realizada com 2.075 pessoas chegou à conclusão de que 87% delas já ouviram falar sobre esse tipo de lixo, mas não sabe exatamente do que se trata.

O estudo foi realizado em parceria entre a Green Eletron, gestora sem fins lucrativos de logística reversa de eletroeletrônicos e pilhas, e a Radar Pesquisas. Para se ter uma ideia, 33% dos entrevistados acreditam que a expressão lixo eletrônico está ligada ao meio digital. Ou seja: aos spams que aparecem na caixa de email ou arquivos sem utilidade, como aquela foto torta que você tirou na última viagem.

Já 2% afirmaram que o termo se refere ao local onde eletrônicos descartados são jogados, enquanto 7% não souberam responder.

Os resultados não são nada animadores, uma vez que o Brasil produz muito disso: em 2019, foram mais de 2 milhões de toneladas geradas no país nessa categoria — o que dá pouco mais de 10 kg de lixo eletrônico gerado por habitante. O descarte incorreto desses materiais pode causar câncer e diferentes doenças.

Esse volume todo faz com que o país ocupe a quinta colocação no mundo na produção de lixo eletrônico, sendo líder na América Latina. Em termos mundiais, segundo The Global E-waste Monitor 2020, são geradas 53 milhões de toneladas de lixo do tipo por ano.

E o que é lixo eletrônico?

O lixo eletrônico envolve aparelhos alimentados por eletricidade, sejam os ligados diretamente na tomada ou que usam baterias e pilhas, assim como seus componentes, como periféricos e peças de PC, cartões de memória etc.

Fontes de energia, como baterias e pilhas, que chegaram ao fim da vida útil, seja por quebra, defeito ou defasagem, também encaixam no perfil.

Reciclagem seria a solução, se funcionasse melhor

Um dos caminhos para diminuir o impacto do descarte incorreto desse tipo de lixo são os pontos de coleta. Em grandes cidades, como São Paulo, é possível fazer o descarte em vários pontos, como em algumas estações do metrô, redes de supermercados, algumas lojas varejistas e em postos de coleta — aqui é possível ver uma lista de pontos instalados pela Green Eletron.

É possível ainda solicitar a retirada com empresas especializadas, como a Coopermiti. E, na maioria dos casos, não há custo para quem descarta.

A reciclagem desse tipo de lixo, porém, ainda é um desafio no Brasil. A estimativa é que, do lixo eletrônico gerado no país em 2019, menos de 3% foi reciclado.

"Além das possíveis contaminações de solo e água com o descarte incorreto, também há um grande desperdício, porque os materiais podem ser reutilizados em diferentes indústrias, evitando a extração de matérias-primas virgens", explica Ademir Brescansin, gerente executivo da Green Eletron.

Dos entrevistados na pesquisa, 33% afirmaram nunca ter ouvido falar desses locais de coleta e 25% nunca levaram algum dejeto do tipo em um desses pontos.

O resultado disso é o descarte incorreto, já que metade dos entrevistados afirmou já ter jogado itens do tipo no lixo comum e 65% disseram que descartam esses itens no lixo reciclável (o que não é o ideal).

Por fim, há os que sempre doam eletrônicos usados em condição de uso (20%), os que vendem (14%) e os que deixam aparelhos e pilhas sem condições de uso guardados em casa (10%).

Reciclagem restrita na mão de poucos

A baixa taxa de reciclagem de lixo eletrônico no país é preocupante, mas há outro ponto bastante problemático: a falta de estrutura para processar esses resíduos no país.

"Há centenas de empresas sem alvará para esse tipo de operação. Em nossos registros, há apenas seis empresas que atendem todos os requisitos para esse processo no país e a maioria está concentrada nas regiões Sul e Sudeste. Isso gera um desafio logístico e o transporte envolve altos custos e impactos ambientais", afirma Brescansin.

Ainda de acordo com o entrevistado, o país possui centenas de recicladoras na informalidade. As seis companhias citadas acima são homologadas para prestar serviços para a Green Eletron.

Esse baixo volume acontece, diz Brescansin, porque "a Green Eletron possui um padrão rígido de controle de qualidade que preza por trabalhar com empresas que possuem toda a documentação necessária para cuidar do processo de reciclagem dos eletroeletrônicos pós-consumo", já que os tipos de materiais necessitam de cuidados específicos.

Algumas situações são ainda mais críticas. Um exemplo são placas eletrônicas que contêm metais preciosos, como o ouro, que precisam ser exportadas para empresas especializadas nesse tipo de atividade e, depois, trazidas de volta ao país.

"As baterias de lítio são outro caso. Antes, havia uma empresa na Europa que fazia o processo de reciclagem, porém ela mudou sua atuação e, hoje, é preciso enviar as baterias para a Coreia do Sul para serem recicladas. Nunca foi economicamente viável implantar uma empresa do tipo aqui e, sem a tecnologia especializada, o resultado é que a cadeia de recicladores no Brasil ainda é bastante limitada", conclui Brescansin.