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Após aval da Anac, iFood iniciará testes de entregas com drones em SP

Teste de drone Speedbird com material do iFood - Divulgação
Teste de drone Speedbird com material do iFood Imagem: Divulgação

Felipe Oliveira

Colaboração para Tilt

12/08/2020 11h32Atualizada em 12/08/2020 15h04

A empresa brasileira Speedbird recebeu da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) um certificado de autorização de voo experimental para iniciar a fase de testes para entrega de produtos com drones. Inicialmente o projeto contará com o apoio do iFood.

"Nosso objetivo primário é utilizar o drone para trazer mais eficiência para a operação logística", disse em comunicado o vice-presidente de Logística do iFood, Roberto Gandolfo. Ainda no ano passado, a empresa de delivery já havia demonstrado interesse nisso. Os primeiros testes provavelmente ocorrerão a partir de setembro, na cidade de Campinas, interior de São Paulo.

A Al Drones, empresa especialista em projetos de certificações de aeronaves não tripuláveis, firmou acordo no ano passado com a Speedbird para apresentarem o projeto à Anac. Além do iFood, outras empresas devem participar dos testes em Campinas. Mas a Speedbird e a Al Drones não confirmaram os nomes das outras parceiras.

Segundo a Anac, o certificado tem validade de um ano e permite testes além da linha de visada visual (Bvlos, na sigla em inglês), ou seja, quando o operador não precisa ter contato visual para operar a aeronave.

"Essa é a grande chave para o drone delivery. Não adianta você fazer uma entrega e estar com o drone visível, seria mais fácil você entregar o produto em mãos para as pessoas. Por isso esse passo é fundamental", afirma André Arruda, cofundador da Al Drones.

Mas o certificado emitido não permite que as entregas sejam realizadas livremente. De acordo com a própria Anac, a certificação é mais um passo para o desenvolvimento do projeto.

"Esse certificado que a gente emitiu é a análise inicial de segurança. A aeronave atende os requisitos mínimos e pode fazer voos de experiência", afirmou Roberto Honorato, superintendente de Aeronavegabilidade da Anac.

Com a emissão do certificado, as empresas poderiam começar os testes de entregas já neste mês de agosto, mas a pandemia do novo coronavírus atrapalhou um pouco os planos.

"A gente estava com um projeto desenhado para fazer trabalhos com o Shopping Iguatemi de Campinas e com o iFood, mas por conta da pandemia os shoppings fecharam, então ainda estamos discutindo quando começar. Esperamos o início para o próximo mês", diz Samuel Salomão, fundador e chefe de produtos da Speedbird.

Para que os testes comecem, a Speedbird necessita agora da aprovação do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), que irá autorizar a operação na cidade do interior paulista. "Iniciaremos em Campinas, mas, futuramente, vamos partir para tentar a aprovação em outros locais do país para expandirmos esses ensaios", diz Arruda.

Teste de drone da Speedbird - Divulgação - Divulgação
Teste de drone da Speedbird
Imagem: Divulgação

O que será transportado?

Claro que a novidade é bastante interessante, mas o futuro usuário do drone delivery deve saber que nem tudo poderá ser transportado pelos céus da cidade. Primeiramente, o peso dos produtos é o principal empecilho.

Isso porque o modelo que recebeu autorização para os voos experimentais é o DLV-1, equipamento com cerca de nove quilos e com capacidade para transportar até dois quilos, com velocidade de 32 km/h.

"Podemos transportar qualquer tipo de mercadoria. Evidentemente que o transporte de cargas perigosas, como as hospitalares, ainda não está permitido. Mas poderemos, por exemplo, transportar qualquer tipo de coisa de consumo, de hamburguer a produtos mais complexos, desde que respeitando os limites de carga", ressalta André Arruda.

Entregadores farão parte do trabalho

Se você já quer receber comida na janela de seu apartamento, saiba que não é bem assim que o negócio vai funcionar. Os produtos ainda serão recebidos das mãos de entregadores, como ocorre atualmente. Os drones vão percorrer apenas parte do caminho.

O veículo partirá de um aeroporto de drones, seguindo por cerca de dois quilômetros até pousar em outro "drone porto", onde o produto será recebido pelos entregadores e encaminhado para a residência. "Isso será feito para garantir que a entrega seja segura", explica André Arruda.

O iFood calcula que um trajeto original de 400 metros entre o Shopping Iguatemi Campinas e o iFood Hub (uma estrutura que roteiriza os pedidos), que dura 12 minutos a pé, será feito em apenas dois minutos com drones. Além disso, as aeronaves fazem parte também da estratégia para diminuir o custo dos restaurantes na hora de entregar.

Há também uma segunda rota de voo a ser testada, que começa no iFood Hub e termina em um porto de drones de um complexo de condomínios próximo ao shopping. A rota de 2,5 quilômetros é feita em dez minutos por terra, mas passará a ser concluída em quatro minutos.

"Se a gente quer revolucionar o universo da alimentação, a gente tem que servir todo mundo com excelência durante o horário de pico. Temos que projetar entrega de comida para 50 milhões de brasileiros, no almoço e no jantar. E isso requer uma eficiência absurda e usando o máximo desse tipo de tecnologia para fazer tudo de uma forma automatizada", afirmou a Tilt Bruno Henriques, vice-presidente de Inteligência Artificial do iFood.

E a segurança?

O superintendente de Aeronavegabilidade da Anac disse que os testes mostrarão a necessidade de regulamentação para a construção desses aeroportos de drones.

"O requisito que existe é de distância mínima de pessoas não anuentes. Qualquer operação de drone precisa manter a distância de no mínimo 30 metros de pessoas que não reconhecem aquela operação", afirma Roberto Honorato.

Além disso, um dos pontos importantes do certificado emitido pela agência está relacionado à necessidade de um operador humano. "Essas aeronaves têm piloto, ele só não está a bordo. O nome técnico é aeronave remotamente pilotada. Ou seja, a todo momento terá que ter uma pessoa acompanhando a operação. Ela deve ter a possibilidade de intervir naquele voo a qualquer momento, mesmo que seja para interrompê-lo de maneira abrupta", explica Roberto Honorato.

O superintendente da Anac explica que essa fase de testes será crucial para que as entregas por drones possam ser autorizadas definitivamente. "Esses testes serão realizados com intuito de demonstrar o cumprimento com a legislação. Pode ser que tenhamos que acompanhar alguns ensaios para compreender se os resultados são validos e atendem os requisitos", explica.