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Brasil tem o maior número de pessoas fora de casa: 60,8% ignoram isolamento

Circulação de pessoas no Grande Recife durante a quarentena - Jailton Jt./JC Imagem
Circulação de pessoas no Grande Recife durante a quarentena Imagem: Jailton Jt./JC Imagem

Fabiana Uchinaka

De Tilt, em São Paulo

30/05/2020 18h57

Enquanto parte dos Estados adota medidas mais rígidas e lockdown, outros começam a afrouxar as regras de isolamento. O resultado disso é que o IIS (Índice de Isolamento Social) nacional apresentou na sexta-feira (29) a menor taxa já registrada desde o início dos decretos de distanciamento. Isso significa que apenas 39,2% das pessoas monitoradas estavam em casa, uma queda de 23 pontos percentuais em relação ao pico máximo registrado até agora, de 62,2% no dia 22 de março. Os dados são da startup brasileira Inloco, que usa dados de geolocalização para calcular a movimentação de celulares pelo país.

Semana a semana, estamos vendo a adesão média ao isolamento social no Brasil cair:

  • 23/03 a 29/03 - 54,04%
  • 30/03 a 05/04 - 49,50%
  • 06/04 a 12/04 - 48,37%
  • 13/04 a 19/04 - 46,40%
  • 20/04 a 26/04 - 46,64%
  • 27/04 a 03/05 - 44,95%
  • 04/05 a 10/05 - 43,22%
  • 11/05 a 17/05 - 44,84%
  • 18/05 a 24/05 - 44,15%
  • 25/05 a 29/05 - 41,40%

A média desde o dia de 23 de março é de 46,5%, com picos de isolamento aos domingos.

Em São Paulo, principal foco da doença e maior Estado do país, nem mesmo o decreto de cinco feriados nos últimos dias ajudou a puxar o índice de isolamento social para cima. O IIS caiu para menos de 40% pela primeira vez desde o início da quarentena: 39,2%.

Apenas um Estado registrou índice perto de 50%, o Amapá (48,37%), o melhor da lista. Tocantins teve o pior índice: 34,21%.

Como é medido o IIS, da In Loco?

A In Loco possui uma tecnologia própria que puxa de forma automatizada (bot) dados públicos gerados pelos celulares das pessoas, que normalmente são usados para direcionar publicidade. É o chamado Advertising ID, um número único que constantemente identifica os interesses dos usuários que navegam pelos serviços de plataformas como Google e Facebook. Ele serve para mostrar anúncios segmentados ou personalizados (ou "anúncios com base em interesses"), que geram receita para os apps.

Entre seus clientes, há bancos e grandes varejistas, que usam essa tecnologia em seus aplicativos para detectar possíveis operações suspeitas e evitar fraudes.

Segundo a startup, esse identificador também serve para detectar se um celular fica por períodos prolongados em determinado local. Ele envia para os servidores da empresa o endereço e o identificador de publicidade do smartphone, com isso dá para estabelecer a razão entre quem está "estacionado" e quem se desloca —"uma tecnologia 30 vezes mais precisa que a do GPS", diz.

Por isso, a empresa conseguiu montar um sistema de monitoramento diário, que foi usado pela prefeitura de Recife. Eles têm acesso ao identificador de 30 milhões de celulares brasileiros —o que corresponde a uma parte da população estimada do Brasil, que hoje é de 211 milhões, segundo o IBGE.

O IIS é medido diariamente, mas demora alguns dias para ser publicado.

De onde vêm os dados de geolocalização?

O seu celular tem embutido um GPS (Sistema Global de Posicionamento, da sigla em inglês), que troca constantemente informações com um satélite para determinar a sua geolocalização. Isso, em geral, serve para coisas como: te ajudar a saber onde está num mapa, qual caminho tomar quando está perdido, se deve virar à esquerda ou quanto falta para chegar a um destino, onde está o seu celular perdido/roubado ou qual o nome do estabelecimento onde está para colocar na descrição de uma foto no Instagram.

Empresas como Google, dona de Google Maps, Waze e Google Fotos, e Facebook, dono de WhatsApp e Instagram, e Apple armazenam seus deslocamentos em históricos de trajetos ou locais visitados. Com esse tipo de informação, dá para saber se um celular fica no mesmo local todas as noites (que seria sua casa) e se move todos os dias para um outro (provavelmente seu trabalho).

O índice de isolamento social, neste caso, mede isso: o celular passou o dia num raio bastante próximo da localidade tida como sua casa? Entra para a estatística do grupo que respeitou a quarentena. Caso contrário, vai para o índice dos que saíram de casa.

Normalmente, você precisa ativar a função de geolocalização — alguns apps pedem autorização para enviar os dados, outros não. Quando isso acontece, eles se tornam públicos —mas há uma grande discussão sobre consentimento e direito a privacidade em jogo.