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Críticas sobre suposta 'censura' e 'falta de transparência' do Facebook unem petistas e bolsonaristas

Ricardo Senra - @ricksenra - Da BBC News Brasil em Londres

10/07/2020 15h46

Contas ligadas a assessores da família Bolsonaro e de apoiadores foram derrubadas na rede social, depois de terem sido acusadas de agir para 'para enganar o público'; PT diz ter tido nove contas desativadas no WhatsApp.

Atingidos de formas distintas por investigações recentes do Facebook, bolsonaristas e petistas têm publicado críticas semelhantes às redes sociais controladas por Mark Zuckerberg. Na avaliação de ambos os lados, Facebook, WhatsApp e Instagram estariam se comportando como "censores", não seriam "transparentes" e agiriam com motivação política.

As redes sociais, por sua vez, dizem que reagiram a ''comportamentos abusivos'' dos perfis e grupos alvejados.

Os bolsonaristas sofreram um baque na última quarta-feira (8), quando o Facebook nos Estados Unidos anunciou a derrubada de 88 contas ligadas a assessores da família Bolsonaro e de apoiadores no Brasil - 14 páginas do Facebook, 35 perfis pessoais, um grupo e outras 38 páginas do Instagram.

O anúncio foi feito pela diretoria de cibersegurança do Facebook nos EUA e gerou manchetes em todo o mundo. Segundo a rede social, funcionários públicos empregados por bolsonaristas estariam envolvidos "em um comportamento não autêntico coordenado", trabalhando em rede "para enganar o público doméstico sistematicamente, ocultando a identidade dos operadores".

Em menor escala, no fim de junho, o WhatsApp desativou nove contas ligadas ao PT por supostos disparos automáticos de mensagens políticas.

Em nota, o WhatsApp informou seus "produtos não foram projetados para enviar mensagens em massa ou automatizadas, que violam nossos termos de serviço. Por meio de nossos avançados sistemas de aprendizado de máquina somos capazes de detectar essas práticas".

Apesar da diferença na escala e na gravidade dos supostos desvios apontados pela empresa americana, políticos tão antagônicos quanto os deputados federais Eduardo Bolsonaro e Gleisi Hoffmann surpreenderam seguidores ao fazerem coro em críticas ao Facebook.

Eduardo Bolsonaro

O filho do presidente Jair Bolsonaro critica o Facebook por agir arbitrariamente, sem transparência sobre o que define como "discurso de ódio".

"Mesmo sem definição do que seja crime de ódio, a rede de Mark Zuckemberg (sic) excluiu diversos perfis conservadores no Facebook e Instagram", criticou Eduardo Bolsonaro pelo Twitter.

"Tudo isso pega carona, e também dá carona, à narrativa dos inquéritos do STF e ao 3º turno no TSE, que não reconhecem o movimento espontâneo que elegeu Bolsonaro e bolsonaristas em 2018, preferindo acreditar na invenção de que há uma rede arquitetada por trás desse movimento", prosseguiu o deputado.

Assim como o pai e os irmãos Flavio e Carlos, Eduardo Bolsonaro emprega um dos funcionários públicos apontados pelo Facebook como operador de perfis falsos e propagador de notícias inverídicas.

Paulo Eduardo Lopes, conhecido como Paulo Chuchu, diz em suas redes sociais que trabalha para a família Bolsonaro há cinco anos. Atualmente lotado no gabinete de Eduardo Bolsonaro, ele é apontado pela investigação divulgada pelo Facebook como "um dos principais operadores da rede".

Chuchu, também líder da Aliança pelo Brasil, o partido que o presidente quer criar, em São Bernardo do Campo, recebe um salário de R$ 7,8 mil, segundo o Portal da Transparência.

A investigação aponta que Paulo Chuchu seria responsável pelo The Brazilian Post, um suposto site de noticias que não informava o vínculo com a família presidencial, mas fazia propaganda do novo partido e atacava rivais como se fosse um veículo independente. As páginas foram apagadas no Instagram e no Facebook.

A investigação contou com a participação do centro de estudos Atlantic Council, cujo laboratório forense analisou as páginas antes de serem derrubadas pela plataforma e investigou a rede de contas e notícias falsas. A investigação aponta, ainda, Tercio Arnaud Tomaz, assessor especial da Presidência da República, como administrador de uma conta de Instagram acusada de misturar "meias-verdades" para chegar a conclusões falsas na difusão de conteúdo.

"A atividade (da rede) incluiu a criação de pessoas fictícias fingindo ser repórteres, publicação de conteúdo e gerenciamento de páginas fingindo ser veículos de notícias. Os conteúdos publicados eram sobre notícias e eventos locais, incluindo política e eleições, memes políticos, críticas à oposição política, organizações de mídia e jornalistas, e mais recentemente sobre a pandemia do coronavírus", diz o comunicado do Facebook.

Gleisi Hoffmann

De outro lado, a presidente nacional do PT e deputada federal pelo Paraná Gleisi Hoffmann também teceu críticas às redes controladas por Zuckerberg.

"Sem explicações ou aviso, o WhatsApp suspendeu o canal do PT de distribuição de notícias, legítimas e voluntariamente consentidas pelos usuários. Enviamos carta a Mark Zuckerberg pedindo esclarecimentos. É muito estranho o que está acontecendo", disse a parlamentar.

Em nota, o PT diz que canais do partido no WhatsApp foram censurados. Segundo a secretaria de comunicação do partido, "a legenda ficou impedida de se defender diante de qualquer alegação".

"A falta de resposta oficial ao nosso comunicado de 26 de junho denota falta de transparência na relação do WhatsApp e do Facebook com seus clientes, e o bloqueio em si caracteriza prejuízo de nossos direitos como usuários do aplicativo", disse Gleisi, em nota.

"É grave o que está acontecendo. Quero denunciar publicamente o bloqueio arbitrário e a falta de transparência do Facebook".

Em nota enviada à reportagem, o WhatsApp no Brasil disse que as exclusões são praxe na plataforma.

"Constantemente, banimos contas por comportamentos abusivos: todo mês, mais de 2 milhões de contas são banidas globalmente. Estamos comprometidos em reforçar a natureza privada do serviço e manter os usuários protegidos contra abusos. Continuaremos a banir contas usadas para enviar mensagens em massa ou automatizadas e avaliaremos mais profundamente as nossas opções legais contra empresas que oferecem esses serviços, como fizemos no passado no Brasil", informou um porta-voz do aplicativo.

O PT diz que o canal, chamado "Zap do PT", foi criado para divulgação de informações institucionais a filiados, que por sua vez consentiram voluntariamente a receber as informações.

"O lançamento deste canal foi divulgado publicamente, inclusive por meio de outros canais oficiais de WhatsApp", diz o partido.