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MBL diz que recuperou sites apagados pelo Facebook, mas páginas não existem

Deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) disse que MBL teria recuperado os perfis e páginas, mas Facebook nega - Agência Câmara
Deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) disse que MBL teria recuperado os perfis e páginas, mas Facebook nega Imagem: Agência Câmara

Carlos Madeiro

Colaboração para Tilt, em Maceió

10/07/2020 13h08Atualizada em 14/07/2020 20h46

O deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos líderes do MBL (Movimento Brasil Livre), afirmou em entrevista a Tilt que após o Facebook retirar do ar uma rede de contas ligadas ao grupo, em 2018, o movimento foi à Justiça e teria recuperado depois os perfis e páginas. O Facebook tem uma versão diferente: a plataforma diz que algumas das páginas novas foram criadas no lugar pelo MBL, mas os endereços antigos continuaram fora do ar.

A declaração de Kataguiri ocorreu quando a reportagem procurou o parlamentar para comentar a decisão do Facebook de retirar do ar páginas ligadas ao PSL e ao núcleo bolsonarista, ocorrida na quarta-feira (8). "Eu não cheguei a ver todas as páginas, mas pelo que vi são contas falsas, e isso vai contra a política da plataforma. Foi uma atitude correta, sim", diz.

Quando perguntado se a ação seria algo parecido com o que aconteceu com o MBL há dois anos, Kataguiri disse que o grupo conseguiu recuperar o conteúdo na Justiça. "Assim que a gente ajuizou, o Facebook nos falou que tinha sido um mal entendido e devolveu as contas, e nós retiramos a ação", afirmou Kataguiri. O deputado não especificou detalhes da ação judicial.

Na opinião de Kataguiri, é necessário que as empresas de tecnologia mantenham recursos dentro da própria plataforma para evitar que casos envolvendo políticas de redes sociais cheguem ao Judiciário.

"O que defendo é que haja um mecanismo de apelação, mas que não precise notificar antes a página: dependendo do conteúdo, defendo que ele possa retirar logo do ar. Aí sim, depois tem que haver direito à apelação, com prazo de defesa etc", diz.

Entretanto, procurado por Tilt, o Facebook negou que tenha reativado qualquer uma das das contas e páginas removidas em julho de 2018. Segundo a empresa, a remoção foi um "resultado de violação de sua política contra comportamento inautêntico coordenado" e as páginas e perfis não estão ativos novamente.

A reportagem pesquisou alguns dos perfis e páginas retirados do ar pelos seus endereços à época da ação da rede e comprovou que todos seguem fora do ar. Entretanto, algumas páginas com nome similar foram criadas de lá para cá. Das quatro páginas que foram retiradas do ar e continham "MBL" no título, pelo menos três existem hoje em novos endereços: MBL Caraguatatuba, MBL Taubaté e MBL São José dos Campos.

A lista completa de páginas do Facebook ligadas ao movimento que foram removidas em 2018 podem ser acessadas no site do Ministério Público de Goiás.

Após as informações obtidas com o Facebook, a reportagem tentou novo contato por telefone com o deputado Kim Kataguiri, mas não obteve retorno.

Relembre os casos

Em julho de 2018, o Facebook retirou do ar 196 páginas e 87 perfis do MBL que, segundo a empresa, violavam políticas de autenticidade e eram consideradas propagadoras de fake news.

Na época, a empresa chamou o montante de páginas de uma "rede coordenada que se ocultava com o uso de contas falsas no Facebook, e escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação". Fontes que falaram sob condição de anonimato disseram que a rede era administrada por membros importantes do MBL. O movimento protestou e chamou a medida de "censura."

Dois anos depois, na quarta-feira (8), o Facebook desarticulou uma rede de 73 contas, 14 páginas e um grupo na rede social e no Instagram de funcionários de gabinete do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), além de envolvidos com o PSL, partido pelo qual o presidente se elegeu.

As remoções ocorreram porque estas páginas empregavam ações vetadas pela plataforma, como o uso de contas falsas, envio de spam ou adoção de ferramentas artificiais para ampliar a presença online. Também na quarta-feira, a empresa derrubou outras redes coordenadas desse tipo nos Estados Unidos, na Ucrânia e em outros países da América Latina.