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Thiago Gonçalves

REPORTAGEM

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Com dados do James Webb, brasileiros ajudam a desvendar formato de nebulosa

Telescópio Espacial James Webb oferece visões diferentes da Nebulosa do Anel Austral - NASA, ESA, CSA e O. De Marco (Macquarie University). Processamento de imagem: J. DePasquale (STScI)
Telescópio Espacial James Webb oferece visões diferentes da Nebulosa do Anel Austral Imagem: NASA, ESA, CSA e O. De Marco (Macquarie University). Processamento de imagem: J. DePasquale (STScI)

08/12/2022 13h07

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Uma equipe internacional de pesquisadores anunciou uma importante descoberta sobre a Nebulosa do Anel Austral, utilizando dados do telescópio espacial James Webb. O trabalho contou com a participação de cinco cientistas brasileiros, de diferentes estados do país.

A equipe aproveitou os dados tornados públicos no primeiro anúncio de imagens, em julho deste ano. Naquele momento, o Webb já havia demonstrado a presença de mais de uma estrela no centro da nebulosa, o que poderia oferecer uma explicação para o seu formato irregular.

Nebulosas planetárias

Para entender um pouco melhor o resultado, é importante antes saber o que são as nebulosas planetárias.

De planetárias elas só têm o nome. São na verdade o remanescente de estrelas que já morreram. Nos estágios finais de sua vida, expelem grande parte de seu material, e o que resta no centro da grande nuvem é uma anã branca.

Isso acontecerá com o nosso Sol, por exemplo, daqui a cerca de 5 bilhões de anos.

Sem uma estrela companheira, a nuvem poderia ser bem redondinha. Mas a coisa muda de figura com uma vizinha. A interação gravitacional com outra estrela pode resultar em emissões irregulares de gás e a possível formação de jatos, que podem perturbar a simetria da estrutura.

Em julho, as primeiras imagens do James Webb já haviam mostrado a presença de uma estrela companheira, escondida em nuvens de poeira e cuja presença foi revelada pelos sensores infravermelhos do telescópio espacial.

Investigando a cena do crime

Agora, no entanto, os pesquisadores puderam aproveitar a disponibilidade pública dos dados e analisaram as imagens com mais cuidado.

Como uma equipe de CSI investigando a cena do crime, eles puderam concluir que na verdade havia mais suspeitos: até cinco estrelas, a maioria ainda invisíveis, podem ter sido responsáveis pela formação da nebulosa com o formato curioso que ela possui.

Pequenos detalhes, como a variação da espessura das ejeções em direções diferentes, servem para reconstruir os pormenores da morte da estrela, oferecendo um complexo cenário digno de um livro de detetive.

Denise R. Gonçalves, astrônoma da Universidade Federal do Rio de Janeiro e uma das coautoras do trabalho, resume a importância da descoberta:

"Só é possível entender as estruturas reveladas pelo JWST se se postula uma multiplicidade de 3 a 5 estrelas no centro desta nebulosa."

Colaboração produtiva

Vale ressaltar aqui também o oportunismo da equipe, com participação ativa dos pesquisadores brasileiros.

Isabel Alemán, da Universidade Federal de Itajubá e também membro da equipe, explica:

"Surgiu a ideia de fazer um artigo no qual a comunidade dos pesquisadores que trabalham com nebulosas planetárias estudasse essas imagens. Enviamos convites e a resposta da comunidade foi maravilhosa. Juntamos quase 70 pesquisadores do mundo todo que ofereceram seu tempo e conhecimento para esse louco projeto."

Ela completa:

"Esse estudo só foi possível pelos detalhes revelados pelas imagens do James Webb e com a contribuição de muitos pesquisadores."

Que venham mais imagens do telescópio espacial, e que venham mais grupos de cientistas para analisar esses dados!