Diogo Cortiz

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Opinião

Para ter mais bebês, Japão cria o app de date mais burocrático do mundo

A queda na taxa de fecundidade é uma preocupação de muitos governos ao redor do mundo, mas talvez ninguém esteja mais preocupado com esta situação do que o Japão.

A gente ouve falar há muitos e muitos anos que o Japão tem uma pirâmide populacional invertida, com mais idosos do que jovens, o que é um desafio econômico e social para o país.

Mas a situação que já era crítica, parece estar atingindo patamares sem precedentes.

Em 2023, o número de bebês nascidos no Japão caiu pelo oitavo ano consecutivo para um novo recorde mínimo. O efeito é tão drástico que o país registrou um número de mortes que é o dobro da quantidade de nascimentos.

As projeções do "Instituto Nacional de Pesquisa sobre População e Segurança Social" do Japão indicam que a população do país cairá cerca de 30% até 2070, com 40% dos cidadãos com 65 anos ou mais.

Como um país pode garantir desenvolvimento econômico e estabilidade social com essa mudança demográfica?

Essa é uma pergunta para a qual tem um monte de economistas, cientistas sociais e estatísticos trabalhando para tentar encontrar possíveis respostas. Há até projetos que investigam como a IA pode facilitar as coisas atuando como um motor de produtividade em uma população envelhecida.

O fato é que muitos governos não querem apostar em soluções mirabolantes e optam pelo mais simples: criar políticas públicas que incentivem os casais a terem filhos para reverter essa situação.

O problema é que a queda do número de nascimentos no Japão está associada ao fenômeno da redução de casamentos. O número de matrimônio no país caiu para menos de meio milhão pela primeira vez em 90 anos, e a proporção de pessoas com 50 anos solteiras é a maior da história, sendo 32% de homens e 24% de mulheres.

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Então, diferentemente de outros lugares no mundo em que casais estão optando por não ter filhos, no Japão o problema é ainda pior: as pessoas não estão nem namorando.

É por isso que Tóquio decidiu apostar na 'tecnologia do amor'. O governo da capital está lançando um novo aplicativo de namoro para promover casamentos e, quem sabe, conseguir reverter a queda na taxa de natalidade nacional.

Mas por que não usar os aplicativos comerciais existentes no mundo inteiro?

O que acontece é que a população japonesa se mostra desconfiada e hesitante em usar um aplicativo para procurar um parceiro que pode ser um perfil fake ou fazer parte de golpes. A proposta do governo é criar um senso de segurança e que esteja conectado com as necessidades locais por meio de um aplicativo próprio.

E para garantir isso, o processo de cadastro no aplicativo chama atenção pela sua burocracia.

Os usuários terão que passar por um processo de registro detalhado, que exige que as pessoas apresentem documentação para comprovar que são legalmente solteiras, além de ser obrigatório a assinatura de uma carta confirmando sua intenção de casar.

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O aplicativo também exigirá que os usuários forneçam um comprovante de imposto para provar seu salário anual e mais de 15 informações pessoais, como altura, formação e ocupação. Também será obrigatória uma entrevista com o operador do aplicativo antes do seu uso.

Se vai dar certo, eu não sei. Vamos ter que esperar alguns anos para ter evidências. Mas, parece que não vai rolar entrar no aplicativo só para buscar uma diversão. A parada é séria. Eu fiquei um pouco em choque com a formalidade, mas talvez seja isso que o Japão precise. No país onde eu nunca vi um trem atrasado, quem disse que o amor não pode ser agendado com precisão?

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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