Diogo Cortiz

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Opinião

Um ano de ChatGPT: como a história da humanidade agora é escrita pela IA

O ChatGPT completa 1 ano. Sem dúvidas, é a tecnologia mais disruptiva da década. A OpenAI rompeu com paradigmas antigos quando decidiu, de maneira corajosa, colocar uma IA poderosa na mão de qualquer pessoa com acesso à Internet.

Isso mudou a forma como as pessoas interagem e se relacionam com a IA.

Antes da OpenAI fazer esse movimento, as Big Techs trabalhavam em produtos parecidos. Aquele engenheiro do Google que disse que a IA tinha traços de consciência estava testando o chatbot da empresa quando teve uma experiência metafísica com a máquina, o que ilustra que a empresa de Mountain View tinha um sistema conversacional. Como estavam enfrentando escrutínio público e político, acusadas de fazer pouco para conter a disseminação de fake news, de viciarem crianças e minarem a democracia, essas não se sentiam confortáveis para lançar um produto sem entender muito bem o impacto dele na sociedade.

Não quer dizer que elas estavam estagnadas. A pesquisa avançava com o desenvolvimento de novas arquiteturas e modelos, mas sem o lançamento de um grande produto comercial de IA. Algumas semanas antes do lançamento do ChatGPT, a Meta até tentou lançar o Galactica, um chatbot para a área científica. Ficou poucos dias no ar. Assim que a IA começou a dar respostas erradas, a empresa foi massacrada nas redes sociais e aposentou o serviço.

A OpenAI tinha um diferencial por não vir do mesmo lugar das Big Techs. Ela se apresentava como laboratório independente. Poucas pessoas conheciam. Era o tipo de organização que podia se dar ao luxo de arriscar mais porque a régua de julgamento era infinitamente mais baixa. Foi o que fizeram ao lançar ao público o ChatGPT em 30 de novembro de 2022.

Em apenas 5 dias, a plataforma alcançou a impressionante marca de 1 milhão de usuários. A popularidade foi aumentando à medida que as pessoas compartilhavam suas experiências nas redes sociais. Muita gente ficou surpresa com a capacidade do chatbot responder perguntas difíceis ou gerar conteúdo criativo. Até mesmo as respostas erradas ajudavam na divulgação ao virarem memes.

Em janeiro, veio o impulso que a OpenAI precisava. O ChatGPT rompe a bolha da área da tecnologia ao virar assunto na imprensa. Não se falava em outra coisa a não ser do potencial da IA em transformar a sociedade como a conhecemos. Ainda não conhecemos todas as consequências da IA, mas muita coisa mudou no mercado da tecnologia desde o seu lançamento. Separei alguns marcos que acho importante.

Competição acirrada

Com a popularidade do ChatGPT, as Big Techs se viram ameaçadas e tiveram que correr para não ficar para trás. A discussão de ética, segurança e governança, antes atores principais, viraram coadjuvantes. Em alguns casos, viraram dublês de um filme romântico em que nunca entram em cena.

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O foco passou a ser a criação de produtos de IA ou a sua incorporação em serviços existentes:

  • A Microsoft tirou proveito de sua estratégica parceria com a OpenAI para impulsionar seu produto Copilot;
  • O Google lançou o Bard, sua resposta ao ChatGPT, e o experimento da integração da IA generativa no seu buscador;
  • A Meta, por sua vez, lançou um modelo de IA de código aberto e anunciou diversos serviços futuros que serão integrados às plataformas de redes sociais.

Todas as tecnologias que estavam sendo desenvolvidas em um ambiente controlado ganharam o mundo, ainda que as próprias empresas desenvolvedoras não soubessem exatamente todas as consequências na sociedade.

Toda essa competição leva a uma consequência: um possível fechamento da ciência aberta.

Até o ano passado, muito do que era desenvolvido em pesquisas IA seguiam uma prática de ciência aberta. Os pesquisadores publicavam um artigo explicando seus métodos e resultados, liberavam códigos e dados. Assim, outros pesquisadores, universidades e empresas podiam desenvolver novas coisas a partir do conhecimento existente.

A OpenAI desenvolveu o ChatGPT de uma maneira rápida por conta dessa configuração no ecossistema de IA. Para quem não sabe, o ChatGPT foi construído com base em uma arquitetura de redes neurais, chamada Transformer, que fora desenvolvida por pesquisadores do Google de maneira aberta alguns anos antes.

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Só que essa perspectiva de abertura muda depois do lançamento do GPT-4. No relatório técnico, a OpenAI deixa claro que não daria nenhum detalhe sobre a arquitetura de sua tecnologia por motivos de segurança e segredo comercial.

Qual deveria ser a resposta mais provável do Google? Continuar publicando suas descobertas para ser usada por um concorrente ou se fechar? De acordo o jornal "Washigton Post", a segunda opção parece ser o novo paradigma daqui para frente.

Regulação

A capacidade do ChatGPT de dar respostas e produzir conteúdos com tanta qualidade assustou muitas pessoas. Em poucos meses, surgiu a primeira carta, assinada por empresários e cientistas renomados, pedindo a pausa no desenvolvimento de modelos maiores do que o GPT-4.

Ao mesmo tempo, começou um movimento intenso de pesquisadores e pensadores que viam risco real de extinção da humanidade.

Esse discurso alarmista ganhou o noticiário no mundo inteiro e inflamou de vez o debate sobre regulação. Organizações internacionais e governos que já discutiam o tema estão acelerando ainda mais o processo. Um retrato desse cenário é a ordem executiva assinada pelo presidente dos Estados Unidos Joe Biden que, de maneira ampla, busca entender as vantagens e riscos da IA nas mais diferentes dimensões da vida humana cotidiana.

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Se até o ano passado, o tema de IA estava restrito aos laboratórios de pesquisas e comissões especializadas em parlamentos ao redor do mundo, agora o assunto é conversado na padaria, no ponto de táxi, no postinho de saúde e em rodas de amigos em um bar. Em apenas um ano, o ChatGPT inaugurou um novo capítulo na história da humanidade no qual a IA certamente será coautora.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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