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Ricardo Feltrin

Crítica: Especial dá ibope recorde, mas Roberto e Globo pararam no tempo

Roberto Carlos em seu tradicional especial de fim de ano - Divulgação/Rede Globo
Roberto Carlos em seu tradicional especial de fim de ano Imagem: Divulgação/Rede Globo

Colunista do UOL

23/12/2017 10h48Atualizada em 23/12/2017 11h51

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Roberto Carlos, 76 anos, é contratado exclusivo da Rede Globo. Dizem nos bastidores da emissora, é um dos únicos artistas que ganha mensalmente o equivalente a Fausto Silva, cerca de R$ 5 milhões.

Só que, ao contrário de Faustão, Roberto praticamente não dá lucro. O salário milionário que ele recebe é muito mais para NÃO aparecer nas outras emissoras do que para ser um artista presente à grade da Globo.

Notem que o “rei” mal aparece na programação o ano inteiro, exceto no indefectível show de fim de ano.

Se Roberto dá audiência? Como nunca! Ainda não há dados consolidados de ibope, mas a prévia de dados em tempo real medida pela Kantar mostra que o programa terminado nesta madrugada ficou na casa dos 30 pontos em São Paulo, uma das maiores dos últimos 10 anos.

É muito acima dos 25,1 pontos de 2015 ou os 22 pontos do ano passado. Mais da metade das TVs ligadas na região estava sintonizada na Globo

Cada ponto do ibope em SP (desde ontem) agora vale por cerca de 72 mil domicílios.

CAPRICHOSOS

Apesar desse público gigantesco, ainda assim, nestes tempos bicudos de terceirização e demissão em massa nas TVs, o contrato generosíssimo  que a Globo mantém com o “rei” há mais de 40 anos parece um capricho. Um capricho totalmente factível, sim, mas sem paralelo na história da TV brasileira.

Além de audiência, Roberto evidentemente dá dinheiro. Se não tanto para Globo, ao menos para si mesmo.

Conforme esta coluna informou com exclusividade em abril de 2014, o cantor chegou a pedir naquele ano R$ 25 milhões para a GM-Chevrolet para emprestar para publicidade sua música “Esse Cara Sou Eu”, que teria o nome rebatizado para “Esse Carro Sou Eu”.

A montadora achou o preço salgado demais e pulou fora.

Claro que seria idiotice tentar sequer questionar o lugar de Roberto no panteão dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos.

Também é bobagem questioná-lo como cantor. Voz poderosa e com ampla tessitura, sua afinação é absolutamente perfeita, além de uma tonalidade muito bonita.

RC não erra, semitona e nem sequer desliza em uma única nota. E não estou falando só da apresentação na TV, mas de shows em navios, casas e até mesmo em ensaios.

Conheço músicos que o acompanham há décadas e a opinião é uma só: Roberto é dono de um provável ouvido absoluto.

Dito tudo isso a seu favor, é incompreensível que a Globo e Roberto tenham passado as últimas quatro décadas reproduzindo basicamente a mesma fórmula, o mesmo show, o mesmo design e, pior, as mesmas músicas.

Todo ano os convidados do “momento”, com raras exceções. Todo ano o palco elevado com a plateia ilustrada por famosos da própria Globo e seus funcionários; todo o ano os mesmíssimos arranjos para as quase mesmíssimas canções. Precisa mesmo colocar uma carcaça oca de piano branco no palco só para inserir dentro dela um Yamaha Motif?  

Com o tamanho e o poder que ambos têm --Globo e Roberto--, soa no mínimo como acomodação o motivo para que nunca tenham renovado o bendito especial de fim de ano. Duro dizer isso, mas ambos pararam no tempo.

O programa poderia trazer mais informações e imagens que todos os fãs do cantor gostariam de saber; inserir entrevistas com velhos amigos; ou exibir externas das cidades importantes para o artista; e que tal divulgar imagens dos bastidores do especial? Afinal, imaginem a operação anual de guerra que é preparar o programa da Globo! Por que não contar e mostrar algumas dessas histórias ao público?

As prováveis respostas devem ser tão clichês e previsíveis quanto o especial em si: “porque em time que está ganhando não se mexe”; “porque o show do rei é tradição”; “por que mudar o que está funcionando”?

Bom, talvez porque quem esteja perdendo mais é o imenso público do artista e da Globo.

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