Truque e prisão: Como 'farsa' da Angelina Jolie zumbi levou iraniana à fama
Do UOL, em São Paulo
27/10/2022 08h47Atualizada em 27/10/2022 13h08
Buscando ser famosa, a iraniana Fatemeh Khishvand decidiu em 2017 usar as redes sociais e seus dons com edição e maquiagem para criar uma personagem controversa que logo ganhou popularidade no seu país e internacionalmente.
As primeiras notícias sobre "Sahar Tabar", nome que ela usava no perfil do Instagram, contavam que ela passou por mais de 50 cirurgias plásticas para ficar parecida com a atriz Angelina Jolie, chegando a um resultado divergente.
Ela logo ganhou o apelido de "Angelina Jolie Zumbi", chegando aos 500 mil seguidores na rede social e recebendo mensagens com críticas.
A popularidade fez com que muitos dos seguidores a questionassem sobre a veracidade das fotos, que apresentavam claras distorções visuais.
Em uma entrevista dada ao jornal russo Sputnik em dezembro de 2017 ela foi questionada sobre se as fotos eram verdadeiras e assumiu a "farsa", garantindo que não tinha mentido sobre o assunto e culpando as interpretações da mídia local pelo boato espalhado.
"É tudo maquiagem. Todas as vezes que eu publico uma foto, torno meu rosto ainda mais engraçado. É a minha forma de se expressar, um tipo de arte. Meus seguidores sabem disso", afirmou.
"As pessoas devem estar vivendo no século 18, sem ter visto ou ouvido falar de qualquer tipo de tecnologia, ou maquiagem", ironizou, ao reconhecer a mentira publicamente a outro jornal.
Ela também negou que tivesse qualquer interesse em parecer com Angelina Jolie ou com a personagem principal do desenho "A Noiva Cadáver"
Ao jornal russo, porém, ela confirmou que fez pelo menos três cirurgias plásticas para investir na própria autoestima: uma rinoplastia, preenchimento nos lábios e lipoaspiração.
Os procedimentos, segundo ela, custaram 10 milhões de reais iranianos (equivalente a R$ 1,3 mil).
A jovem contou, na época, que os familiares foram contra as cirurgias, mas terminaram dando apoio às escolhas dela. Ela também disse que não ligava para os comentários de críticos nas redes sociais.
"Eu ignoro negatividade", afirmou.
Prisão
Em outubro de 2019, quando tinha 19 anos, a influenciadora foi presa junto a outras duas mulheres pelos crimes de blasfêmia, instigar violência, comprar propriedades de forma ilegal, insultar o código de vestuário do país e encorajar jovens a cometer corrupção.
Ela apagou o perfil na rede social e foi condenada a 10 anos de prisão, o que criou repercussão internacional.
"A piada dela fez com que ela terminasse na prisão. A mãe dela chora todo dia para libertar a filha inocente. Angelina Jolie, precisamos da sua voz aqui, nos ajude", afirmou a jornalista Mashid Alinejad, do DailyMail, em publicação no Twitter em dezembro de 2019, quando a jovem estava detida há mais de um ano na prisão de Qarchak.
Em 2020, ela contraiu covid-19 na cadeia e chegou a pedir libertação por causa da doença, mas o pedido foi negado.
Segundo o jornal IranWire, a prisão na qual Fatemeh ficou presa é considerada uma das piores para mulheres no país. Em junho de 2022, o jornal publicou uma denúncia sobre a prisão, afirmando que haviafalta de comida, prescrição frequente de tranquilizantes para presas, água contaminada e superlotação em celas.
Ela ganhou liberdade nesta semana, mostrou seu rosto em público pela primeira vez após ser solta, e virou mais uma vez notícia no mundo ao dar uma entrevista mostrando o seu rosto real a um jornal estatal do país.
Segundo transcrição feita pelo canal, a mulher disse que não usará as redes sociais novamente e que estava em busca da fama quando se tornou influencer.
"A internet era uma forma fácil de fazer isso. Era muito mais fácil do que virar uma atriz. Com certeza eu nunca mais baixarei o Instagram no meu telefone", afirmou a mulher.
A motivação da libertação da jovem não foi detalhada pelo governo iraniano, mas a suspeita da imprensa internacional é que ela tenha sido reflexo dos protestos que ocorrem no país após a morte de Mahsa Amini, 22, morta sob custódia da polícia da moralidade iraniana após não usar o hijab, véu obrigatório que cobre a cabeça das mulheres, de forma correta.