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ANÁLISE

Marilyn Monroe foi a indecifrável esfinge que acabou devorada por Hollywood

"Blonde": Ana de Armas é a grande estrela da cinebiografia de Marilyn Monroe - Divulgação/Netflix
'Blonde': Ana de Armas é a grande estrela da cinebiografia de Marilyn Monroe Imagem: Divulgação/Netflix

Renan Martins Frade

Colaboração para o UOL

29/09/2022 17h47

Esta é a versão online da edição desta quinta-feira (29) da newsletter Na Sua Tela. Nesta semana, destaques para "Blonde", "A Queda", "Abracadabra 2" e outros filmes que chegam aos cinemas e aos streamings, além de uma curadoria do que vale assistir. Quer receber a edição da semana que vem no seu email? Inscreva-se. Os assinantes UOL ainda têm 12 newsletters exclusivas.

"Decifra-me ou te devoro", diz a esfinge em "Édipo Rei". No mundo do cinema, podemos dizer que Marilyn Monroe foi uma esfinge às avessas. Ícone do cinema, a atriz nunca foi bem entendida por seus pares, nem por ela mesma. Acabou engolida pelo rolo compressor mercadológico de Hollywood, que a sugou até a sua exaustão final.

Exatamente por isso, a figura de Marilyn ainda chama a atenção no imaginário popular, 60 anos após a sua trágica morte. Acrescentando a essa iconografia, chega à Netflix nesta semana o filme "Blonde", com Ana de Armas no icônico papel.

Com um gancho tão forte, esta edição do Na Sua Tela não tinha outro caminho a não ser homenagear essa lendária atriz, trazendo filmes que ajudam a entender toda a mítica de Marilyn - principalmente para as gerações mais novas, que conheceram a figura histórica, mas não tiveram a oportunidade de assistir aos seus filmes.

Quer mais? Nesta semana ainda tem a estreia do aguardado "A Queda" e o terror de "Sorria" nos cinemas, enquanto o Disney+ traz a continuação do clássico "Abracadabra".

Agora é só escolher o que assistir.

O que tem de novo?

BLONDE

Blonde - imagem - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Ana de Armas é a grande força de "Blonde"
Imagem: Divulgação/Netflix

  • Assista ao trailer
  • Onde: Netflix
  • O que tem de bom: Existe Marilyn Monroe. E existiu Norma Jeane. O filme de Andrew Dominik ("O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford") é quase que um estudo dessas duas personas, e como a interação entre elas resultava em toxicidade. Dessa forma, ainda que de maneira bastante ficcional, o longa-metragem parte da problemática infância de Norma, passando pela descoberta por Hollywood e chega ao estrelato - culminando com os abusos que ela passou, causando um grande impacto em sua vida pessoal e em seus relacionamentos amorosos. Para além da polêmica sobre o sotaque cubano de Ana de Armas, a atriz entrega uma atuação que foi bastante elogiada no Festival de Veneza deste ano. Vale dizer que a produção investe em um certo ar experimental, brincando com os elementos do próprio cinema, o que dá um ar mais fantástico para a trama.
  • O que te faz sentir: vulnerabilidade, compaixão


A QUEDA

A Queda - imagem - Divulgação/Paris Filmes - Divulgação/Paris Filmes
'A Queda' mexe com o medo de altura do espectador
Imagem: Divulgação/Paris Filmes

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  • Onde: Nos cinemas - clique para comprar ingressos
  • O que tem de bom: "A Queda" é um daqueles filmes que foi, aos poucos, gerando um burburinho entre fãs de cinema. O motivo é claro: o longa-metragem sabe criar suspense ao brincar com os medos do público. Dirigido por Scott Mann ("O Sequestro do Ônibus 657"), a produção traz um elenco de apoio com rostos conhecidos: Robert De Niro (dispensa apresentações), Jeffrey Dean Morgan ("The Walking Dead") e Dave Bautista ("Guardiões da Galáxia"). As estrelas, no entanto, são as jovens Becky (Grace Caroline Currey) e Hunter (Virginia Gardner), que, na busca por adrenalina, sobem uma torre de TV no meio do deserto. Como você pode imaginar, a aventura dá errado e elas ficam presas bem lá no alto - o que é o ponto de partida para momentos de muita ansiedade. Um longa simples, mas feito na medida para deixar o espectador tenso.
  • O que te faz sentir: nervoso, ansiedade

SORRIA

Sorria - imagem - Reprodução/Paramount Pictures - Reprodução/Paramount Pictures
'Sorria' é um terror que mistura psicológico com sobrenatural
Imagem: Reprodução/Paramount Pictures

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  • Onde: Nos cinemas
  • O que tem de bom: Uma das coisas mais interessantes do terror é que, com pouco dinheiro e risco baixo, um cineasta iniciante pode mostrar o seu trabalho para um grande público - e, quem sabe, conquistar o seu espaço nessa indústria. Desta vez, quem tenta abrir essa porta é Parker Finn, que estreia na direção e no roteiro de um longa-metragem com "Sorria". O filme é sobre Rose (Sosie Bacon), uma psiquiatra que presencia o suicídio de um paciente. Após esse fato traumatizante, uma série de acontecimentos estranhos começam a ocorrer, dando contornos de terror sobrenatural e psicológico para a história. Um daqueles filmes que investe bastante nos "jump scares", ou seja, naqueles sustos que vêm do nada, surpreendendo o espectador.
  • O que te faz sentir: ameaça, susto


ABRACADABRA 2

Abracadabra - imagem - Divulgação/Disney+ - Divulgação/Disney+
As irmãs Sanderson retornam na continuação de 'Abracadabra'
Imagem: Divulgação/Disney+

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  • Onde: Amanhã (30) no Disney+
  • O que tem de bom: O primeiro "Abracadabra" se transformou rapidamente em um clássico da Sessão da Tarde, da TV Globo. Quase 30 anos depois, na tentativa de turbinar o seu streaming, a Disney apresenta uma aguardada continuação. "Abracadabra 2" traz de volta Bette Midler, Sarah Jessica Parker e Kathy Najimy como as três irmãs Sanderson, em uma aventura que promete investir bastante na nostalgia de quem, hoje, passou dos 30 anos de idade. O elenco ainda adiciona Doug Jones, ator extremamente especializado em interpretar as mais estranhas figuras da ficção - como fez em "A Forma da Água". Na nova história, as três bruxas retornam para buscar vingança contra Salem - mas ficam cara a cara com um grupo de adolescentes que vão proteger a cidade. Para as novas gerações, há o apelo da temática da bruxaria, que, aliada com o humor, tende a render momentos memoráveis
  • O que te faz sentir: galhofa, coragem

Filmes para entender a lenda de Marilyn Monroe

Marilyn - Reprodução - Reprodução
Por meio da obra de Andy Warhol, Marilyn solidificou de vez o seu lugar de ícone pop para além da sétima arte
Imagem: Reprodução

É difícil transformar em palavras o que foi o fenômeno Marilyn Monroe. Uma figura tão forte que foi imortalizada não apenas em seus próprios filmes, mas que conquistou o imaginário popular e se tornou até quadro de Andy Warhol.

Marilyn morreu jovem, em 4 de agosto de 1962, quando tinha apenas 36 anos. Nas fontes oficiais, a causa foi overdose de barbitúricos - um remédio para ansiedade. Na prática, foi resultado da enorme pressão da fama e de uma indústria do cinema que não sabia como usar a sua maior estrela. Que a vulgarizou apenas pelos lucros no curto prazo, sem pensar no futuro da carreira da atriz.

Com o tempo, Marilyn caiu no "typecasting", que é quando um intérprete fica fortemente identificado com apenas um tipo de personagem - algo que, se explorado em excesso, cansa o público e se torna um beco sem saída.

Tudo isso levou a atriz a um rápido declínio na carreira, aos problemas financeiros e à depressão. Foi mastigada por aqueles que nunca entenderam a revolução sexual que ela ajudou a desbravar. Ou que subestimaram o fato dela ser uma das primeiras a lutar pela igualdade salarial entre gêneros e pela importância da gestão de imagem.

A seguir, o Na Sua Tela traz alguns dos mais importantes filmes de Marilyn, todos disponíveis para assistir no streaming. Ainda que fora do contexto de sua época, ajudam a entender toda essa explosão - e o potencial nunca compreendido da atriz.

Inspirado em Warhol, vou fazer aqui também a minha apropriação - no caso, do próprio enigma da esfinge: que criatura pela manhã tem quatro patas, ao meio-dia tem o mundo aos seus pés, e à tarde é a estrela mais brilhante do céu, eternamente projetando uma figura icônica na Terra?

A resposta: Marilyn Monroe.

TORRENTES DE PAIXÃO

Torrentes de Paixão - imagem - Divulgação/20th Century Studios - Divulgação/20th Century Studios
No noir 'Torrentes de Paixão', Marilyn Monroe vive uma femma fatale
Imagem: Divulgação/20th Century Studios

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  • Onde: Star+
  • O que tem de bom: Os filmes noir são uma verdadeira joia da Era de Ouro de Hollywood, com suas histórias cínicas de crime. Ainda que tenha sido filmado em cores (o que foge do padrão do noir), "Torrentes de Paixão" (de 1953) é um grande exemplo desse tipo de longa-metragem. Traz Marilyn Monroe como a esposa de um homem mais velho e que, durante viagem às cataratas de Niágara, se vê envolvida em uma história de assassinato. No papel da típica femme fatale, "Torrentes de Paixão" foi o primeiro passo na consolidação de Marilyn não só como grande estrela, mas também como símbolo sexual.
  • O que te faz sentir: tensão, amargura


OS HOMENS PREFEREM AS LOIRAS

Os Homens Preferem as Loiras - imagem - Divulgação/20th Century Studios - Divulgação/20th Century Studios
'Os Homens Preferem as Loiras' é o musical mais icônico da filmografia de Marilyn Monroe
Imagem: Divulgação/20th Century Studios

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  • Onde: Star+
  • O que tem de bom: Filme extremamente ligado à Marilyn Monroe, com um título que virou clichê - sendo adaptado e reinterpretado por muita gente, inclusive pelo nosso Nelson Rodrigues. Diferentemente do longa anterior, "Os Homens Preferem as Loiras" (1953) é uma comédia musical que se aproveita de todas as famosas características do gênero, com Marilyn mostrando o seu talento como cantora e dançarina. A história, vamos ser sinceros, é o de menos, sobre duas dançarinas - Dorothy (Jane Russell) e Lorelei (Monroe) - que são perseguidas por um detetive, contratado pelo sogro de Lorelei, e por admiradores das duas. Dessa forma, vemos uma verdadeira colagem de esquetes de humor e de segmentos musicais, que tem como objetivo a diversão despretensiosa. Por conta das músicas, das coreografias e do figurino, "Os Homens Preferem as Loiras" se tornou um sucesso comercial na época de seu lançamento e influenciou diversas gerações de cantoras e atrizes, indo de Madonna e Ariana Grande.
  • O que te faz sentir: animação, alegria


O PECADO MORA AO LADO

O Pecado Mora ao Lado - imagem - Divulgação/20th Century Studios - Divulgação/20th Century Studios
'O Pecado Mora ao Lado' traz uma das mais famosas cenas da história do cinema
Imagem: Divulgação/20th Century Studios

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  • Onde: Star+
  • O que tem de bom: Sabe aquela cena icônica de Marilyn Monroe de vestido branco esvoaçante, revelando as pernas da atriz com o sopro de ar da tubulação do metrô? Pois ela é de "O Pecado Mora ao Lado" (1955), comédia romântica assinada por Billy Wilder ("Sabrina"). A base do enredo é bem simples: um homem fiel, Richard Sherman (Tom Ewell), se vê sozinho após a família fazer uma viagem de verão - e passa a ser tentado pela misteriosa e bela vizinha, identificada apenas como "a garota" (Monroe). Sherman, inclusive, brinca: "Talvez ela seja a Marilyn Monroe". Sucesso enorme, também é um dos primeiros retratos no desgaste da imagem da atriz. O então marido dela, o ex-jogador de baseball Joe DiMaggio, teria ficado extremamente irritado com a cena do vestido, por exemplo. Ao mesmo tempo, Hollywood exagerava na exploração da imagem sexual de Marilyn, o que, já naquela altura, era algo que a incomodava. Ainda assim, "O Pecado Mora ao Lado" é uma parte importante da filmografia da atriz, e um marco iconográfico do cinema mundial.
  • O que te faz sentir: excitação, galhofa

QUANTO MAIS QUENTE MELHOR

Quanto Mais Quente Melhor - imagem - Divulgação/MGM - Divulgação/MGM
Marilyn Monroe, Tony Curtis e Jack Lemmon, os protagonistas de 'Quanto Mais Quente Melhor'
Imagem: Divulgação/MGM

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  • Onde: No canal MGM no Prime Video; para aluguel ou compre em Google Play, Loja Prime Video e YouTube
  • O que tem de bom: Na segunda metade dos anos 1950, com muito custo, Marilyn foi consolidando o seu status de grande atriz para além da figura de símbolo sexual. Porém, os papéis de "loira estúpida" - como a própria definia - ainda surgiam (e se tornavam icônicos). Esse é o caso de "Quanto Mais Quente Melhor" (1959), outra comédia de Billy Wilder e que tem Jack Lemmon e Tony Curtis no elenco. Até por isso, o desinteresse de Marilyn pela produção se tornou lendário, com comentários sobre a falta de profissionalismo da atriz. Ok, temos que dar um desconto: além de todo o peso da fama exagerada, ela passava por uma série de problemas pessoais e de saúde. E, apesar da visão da estrela, a produção é considerada uma das maiores comédias já feitas e tem a sua importância cultural. O longa, sobre dois músicos que testemunham um crime e fogem vestidos de mulheres como membros de uma banda feminina, foi uma das primeiras produções de um grande estúdio a trazer os protagonistas fazendo cross-dressing (ou seja, com homens vestindo roupas identificadas com as mulheres). Soma-se a isso um final surpreendente, que quebrava os padrões sociais daqueles tempos, o que levou o filme a não receber a aprovação do Código Hays, que era o "código de ética" (ou a autocensura, como preferir) da época. De certa forma, essa história ajudou a derrubar tal regulamentação, iniciando a criação de uma futura classificação indicativa do conteúdo.
  • O que te faz sentir: animação, malandragem


OS DESAJUSTADOS

Os Desajustados - imagem - Divulgação/MGM - Divulgação/MGM
'Os Desajustados' foi o último filme tanto de Marilyn Monroe quanto de Clark Gable
Imagem: Divulgação/MGM

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  • Onde: Na Looke e no canal MGM do Prime Video; para aluguel e compra em Apple TV e Loja Prime Video
  • O que tem de bom: Último filme completo de Marilyn Monroe. "Os Desajustados" (1961) é dirigido por John Huston ("Fuga para a Vitória") e escrito por Arthur Miller, então marido de Marilyn e que queria dar à esposa um novo papel dramático. No longa, a atriz é uma mulher divorciada que fica amiga de três cowboys, interpretados por Clark Gable, Eli Wallach e Montgomery Clift. Ela se envolve justamente com o personagem de Gable, que, contraditoriamente, queria viver uma idealizada vida de liberdades. Mesmo com bastidores conturbados e com o casamento de Monroe naufragando de vez, o quarteto protagonista entrega uma atuação primorosa, em um verdadeiro clássico cult - que muitos críticos consideram como um dos melhores filmes daquela década. Curiosamente, este acabou sendo também o último longa-metragem de Gable, que morreu subitamente de um infarto no final de 1960.
  • O que te faz sentir: vazio, fragilidade

SETE DIAS COM MARILYN

Sete Dias Com Marilyn - imagem - Divulgação/Imagem Filmes - Divulgação/Imagem Filmes
'Sete Dias Com Marilyn' rendeu uma indicação ao Oscar para Michelle Williams
Imagem: Divulgação/Imagem Filmes

  • Assista ao trailer
  • Onde: Prime Video, UOL Play
  • O que tem de bom: Assim como "Blonde", este não é um filme de Marilyn Monroe, mas sobre Marilyn Monroe. A atriz é interpretada por Michelle Williams ("Manchester à Beira-Mar"), e a história descreve a passagem da atriz por Londres durante as filmagens de "O Príncipe Encantado". Dessa forma, diferentemente do longa da Netflix, "Sete Dias com Marilyn" pega um evento único, concentrado em apenas uma semana, para revelar o que a estrela representa - e as atribulações de sua vida pessoal e profissional. Vale dizer que Michelle Williams está incrível no papel, rendendo uma indicação ao Oscar para ela. Dessa forma, conseguimos entender melhor a complexidade (e as fragilidades) de uma figura tão icônica quanto Marilyn Monroe.
  • O que te faz sentir: isolamento, solidão

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