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Vingança, amor e malandragem: Parte 2 de 'Lupin' celebra desvio moral

De Splash, em São Paulo

10/06/2021 04h00

A vida não é justa, isso eu e você sabemos. Mas, se tivermos as ferramentas certas, podemos torná-la um pouco mais tragável.

'Lupin', que estreia sua segunda parte na Netflix amanhã (11), é um ótimo exemplo de que ainda resta um pouco de esperança.

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Na segunda parte da série francesa que virou febre em todo mundo, o ódio e a vingança se tornaram os melhores combustíveis de Assane Diop (Omar Sy) para vingar a morte do seu pai, Babakar, acusado injustamente do roubo de uma joia valiosa por seu patrão, Hubert Pellegrini (Hervé Pierre).

Durante a saga, o protagonista se vê no dilema entre dar todo o amor que seu filho, Raoul, merece enquanto dedica todo seu tempo em busca de justiça pelo pai. Tudo isso, num país que dificulta —e muito— a vida de pessoas negras com ascendência africana.

Mas, com uma boa dose de sagacidade, Assane mostra que ter princípios, por mais que sejam conflitantes com a moral vigente, sempre vale a pena no final.

Atenção:

Daqui em diante esse texto entregará alguns spoilers.

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Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Um homem de família

Refrescando sua memória, a primeira parte de "Lupin" terminou com o sequestro de Raoul por um dos capangas de Hubert Pellegrini. A segunda parte retoma exatamente nesse ponto.

E essa questão fala sobre algo que ficará marcado durante boa parte dos primeiros episódios da sequência: como Assane pode continuar sua obsessão por justiça sem comprometer sua relação com Raoul, que vira alvo do seu algoz?

Em dado momento, quando a coisa entra num beco sem saída, o protagonista pergunta para o filho se deve ou não seguir com o seu objetivo pessoal, tentando convencer o filho de que sua missão com seu pai é uma questão de honra.

Divulgação / Netflix - Divulgação / Netflix
Raoul, filho de Assane na série 'Lupin'
Imagem: Divulgação / Netflix
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Além disso, Assane tem que lidar com Claire (Ludivine Sagnier). A mãe do seu filho já sofreu bastante com seus xavecos e tenta evitar que Raoul se decepcione com o pai e sua falta de responsabilidade afetiva.

Pitadas de discussão racial e imigração

Splash conversou com o diretor George Kay e Osmar Sy sobre a discussão racial presente na série. Ambos reforçaram que "Lupin" tem a função de entreter e que as discussões raciais são uma ferramenta, não a pauta obra em si.

Podemos dizer que o roteiro abriu a caixa de ferramentas na segunda parte. Durante os cinco episódios, temos casos onde o racismo fica um pouco mais subjetivo e casos explícitos. Num deles, Assane, na sua versão "jovem", chama um vendedor de racista por se recusar a vender um instrumento musical.

Omar disse que só de ter um protagonista negro numa série francesa é algo a se destacar. Mas a maneira como "Lupin" trata a discussão racial na França engrandece a série, sem torná-la uma referência política audiovisual sobre imigração e colonização.

Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Imagem: Divulgação/Netflix
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"Quem confia em polícia? Eu não sou louco!"

As relações amorosas de Assane se tornaram uma verdadeira confusão, sendo até difícil distinguir quem realmente tem a preferência do nosso bon-vivant: Claire ou Juliette Pellegrini (Clotilde Hesme), filha de Hubert.

Já a relação com a polícia não tem nada de turvo: é bem claro que o protagonista não gosta da instituição. Youssef Guedira (Soufiane Guerrab), o detetive que saca a inspiração do protagonista no personagem literário Lupin, até vira uma espécie de parceiro dentro do sistema, mas é sí.

Netflix - Netflix
Imagem: Netflix

No decorrer da segunda parte, quando as denúncias de crimes relacionados a Hubert Pellegrini vão se avolumando e sua interferência nas investigações vão ficando evidentes, Assane vira quase um coringa, que tem a polícia como uma parceira e inimiga.

O errado que faz certo

Assim como na primeira parte, Assane sempre estará na corda bamba. Inclusive em momentos do passado, quando suas malandragens nem sempre terminaram de forma bem-sucedida.

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Talvez esse seja um dos principais charmes da série. O protagonista furta, invade casa alheia, coloca a família em risco, mas por um propósito nobre: vingar a morte do pai que foi acusado injustamente de um roubo.

É quase impossível não torcer para esse herói imperfeito.

E para quem gostou da série, fica o recado sobre a parte três —que já está garantida:

Malandro não para, malandro dá um tempo...