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Inventor do repique de mão, cria de Ramos e sambista fino: quem foi Ubirany

Morre Ubirany, sambista do Fundo de Quintal, aos 80 anos; músico estava internado com Covid-19
Morre Ubirany, sambista do Fundo de Quintal, aos 80 anos; músico estava internado com Covid-19
Divulgação

De Splash, em São Paulo

12/12/2020 04h00

A música brasileira perdeu um dos seus bambas na sexta-feira (11). Ubirany Félix do Nascimento morreu em decorrência da covid-19, aos 80 anos.

Integrante e um dos fundadores do Grupo Fundo de Quintal, Ubirany era, além de sambista, um visionário.

O músico foi responsável pela criação do repique de mão, instrumento que virou peça-chave nos sambas de roda pelo Brasil —não confundir com o repique, instrumento similar, que é usado com baquetas.

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No vídeo abaixo, ele explica como criou o instrumento, os detalhes do som que sai do repique de mão e, de brinde, dá uma pequena aula de como tocar.

Nós fazemos shows pelo Brasil, mas o que eu curto é tocar [o repique de mão]. Tem gente que fala "canta isso ou aquilo", mas o gostoso pra mim é tocar.

Ubirany Félix do Nascimento, do Fundo de Quintal

Com o instrumento no colo, Ubirany rodou o Brasil com o Fundo de Quintal. O grupo, que foi berço de nomes como Arlindo Cruz, Almir Guineto, Jorge Aragão e outros tantos sambistas, é apadrinhado por Beth Carvalho.

Ela é a pessoa a quem somos mais agradecidos. Sem ela, talvez o Fundo de Quintal nem existisse. Seria aquela coisa bonita que não teria, talvez, saído do anonimato.

Ubirany, em entrevista ao Extra

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Junto de Sereno e Bira Presidente, Ubirany era um dos remanescentes da primeira formação do Fundo de Quintal, lá no final dos anos 1970.

O Cacique de Ramos e a arte de sambar

O Fundo de Quintal surgiu do bloco Cacique de Ramos, que iniciou os desfiles por ruas cariocas em 1961. Em entrevista à TV Cultura, Ubirany falou sobre a criação do bloco carnavalesco e o porquê do nome.

Existiam alguns grupos, de vários amigos, que saíam para curtir carnaval. Cada um se juntava para tomar uma e outra, cada um ao seu jeito. De repente, esses grupos se reuniram e nasceu o Cacique de Ramos. Tinha muito nome de índio na parada: Ubirajara, Ubiracy, Ubirany, Aimoré. Acabou pegando.

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Além de percussionista inovador, Ubirany era um sambista elegante e refinado. Em apresentações do Fundo de Quintal, era comum vê-lo sambando na ponta do pé.

Um gentleman bem cheiroso e atencioso

O cantor Sombrinha conheceu Ubirany como poucos. Em 1979, ele foi integrado ao Cacique de Ramos e, poucos meses depois, faria parte da primeira formação do Fundo de Quintal. A Splash, o sambista falou sobre a generosidade do companheiro.

Foi um cara que me recebeu no Cacique e em 1980 fundamos o Fundo de Quintal, pessoa que me deu muita oportunidade. Era um ser humano especial, uma perda não só para o samba, para a música, é para toda a cultura nacional.

Sombrinha, em entrevista a Splash

Sombrinha tinha no parceiro do repique um amigo também de boemia. Cria do bairro de Ramos, Ubirany gostava de andar na estica.

Ele era um negrão cheiroso, estava sempre bem alinhado. Em certo período dos anos 1980, ficamos bem juntos. Saíamos do Cacique de Ramos de manhã, às 6h, 7h. Tempo bom demais.

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Ubirany também tinha cuidado com o futuro do samba. Certa vez, num show em São Paulo pelo final dos anos 1980, ele recebeu um jovem de 16 anos no camarim. Era Pinha Presidente, que viria a se tornar integrante do Exaltasamba —tocando o repique de mão criado pelo sambista do Fundo de Quintal.

Eu sou sambista graças ao Ubirany. Nesse dia, ele me recebeu no camarim depois do show, pegou o instrumento e me ensinou a tocar. Eu tinha uns 16 anos. Ele foi de uma generosidade incrível. Depois, eu já tocando no Exaltasamba, dividimos palcos e viagens. Ele participou do meu álbum solo também.