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Emicida: 'Pessoas acham que inventaram a roda; doc mostra quem veio antes'

De Splash, em São Paulo

08/12/2020 04h00

O documentário "AmarElo - É Tudo Para Ontem", do rapper Emicida, estreia nesta terça (8) na Netflix. Em um ano como 2020, em que a luta antirracista foi protagonista após casos como Beto Freitas, George Floyd, e a morte das crianças Emilly e Rebeca, o filme em questão é conteúdo prioritário.

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Dividido em três atos (Plantar, Regar e Colher), o filme tem cerca de 1h30 e traça um fio sobre a história da cultura e dos movimentos negros no Brasil, com destaque para o último século.

Em conversa com Splash, Emicida falou sobre a importância do trabalho para as gerações do passado, presente e futuro. "Temos de dar continuidade às edificações da geração anterior. Precisamos continuar essa construção com algo que tenha uma grandiosidade proporcional", diz.

Acho que a contribuição que a gente dá para essa discussão é fazer com que uma certa ansiedade jovem diminua. Tem pessoas achando que inventaram a roda. Tem pessoas incríveis que produziram conhecimento sobre isso. O que o documentário faz é mostrar quão grandiosas essas pessoas são.

Além de trechos do show no Theatro Municipal, realizado em novembro de 2019, o documentário passa pela história de personalidades negras da música, do teatro, da literatura e ativistas, e conta com a presença de personalidades como Fernanda Montenegro, Zeca Pagodinho e Pabllo Vittar.

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O rapper Emicida, no centro - Jef Delgado/Divulgação - Jef Delgado/Divulgação
O rapper Emicida, no centro
Imagem: Jef Delgado/Divulgação

O filme funciona como uma grande provocação. Ele faz a gente se perguntar: por que essas informações [sobre figuras negras] não chegaram até nós? Porque, se elas chegassem, nossa concepção a respeito do que é o nosso país seria completamente diferente.

Arte além dos likes

O documentário que estreia hoje na Netflix é um desdobramento do álbum "AmarElo". Sucesso de público e de crítica, o trabalho ganhou o prêmio de "Álbum do Ano", no Prêmio Multishow, e um Grammy Latino na categoria melhor álbum de rock ou música alternativa em língua portuguesa.

Emicida diz estar muito feliz com o reconhecimento do meio sobre a sua obra e comentou que o sucesso mostra que a valorização da arte é fundamental.

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Acho que tudo vem para coroar um projeto experimental. As pessoas estão com uma visão muito nebulosa a respeito de como se tocar um projeto artístico. Imagina passar uma década e o único ponto de análise da sua obra ser o quanto de likes ela gerou? Isso é publicidade, não é arte.

'Vício' em Mário de Andrade

Se quem assiste ao documentário vai aprender um pouquinho, com Emicida não foi diferente. E o personagem que mais chamou sua atenção durante a pesquisa foi Mário de Andrade. O rapper tem uma meta ousada: ler toda a obra do escritor até o final do ano.

Estou acabando, faltam quatro (risos)! Eu fiquei profundamente impactado não só pela sua capacidade intelectual, mas pela sensibilidade artística, visão de mundo e necessidade que ele se colocava de construir um Brasil partindo do ambiente da cultura.