Thiago Stivaletti

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Opinião

Filmes muito longos ou curtos, Cinemateca fervendo... o balanço da Mostra

Mais uma Mostra vai chegando ao fim. Nunca dá para ver tudo, mas é sempre emocionante ver a cidade toda dando um jeito, cancelando compromissos importantes, dando o cano em médico (tudo bem, a saúde vai continuar capenga em novembro), tudo para ver alguns dos melhores filmes do ano — e outros antigos que chegam cada vez mais em cópias lindamente restauradas.

A seguir, um balanço do que rolou na 47ª edição do evento cinematográfico mais importante do ano.

Duração 8 ou 80 - A coisa que menos vimos nessa Mostra foram filmes com aquela duração básica de filme comercial: 100 minutos, a tradicional uma hora e quarenta de filme. Ou os filmes tinham menos de uma hora e meia e mal podiam ser chamados de longas — como o mais disputado do ano, "Folhas de Outono" (1h21) ou boa parte dos brasileiros ("O dia que te conheci", "Leme do Destino", "Estranho Caminho").

Ou passavam fácil das três horas, como os dois filmes amarelos do ano: o vietnamita "Dentro do Casulo Amarelo", premiado em Cannes; e "A Longa Viagem do Ônibus Amarelo", de Julio Bressane, de fato a viagem mais longa desta Mostra, com sete horas e 12 minutos. Outros filmes longuíssimos foram o turco "Ervas Secas" (197 minutos), o espanhol "Fechar Os Olhos" (165 minutos) e as cópias restauradas do francês "Amor Louco" (252 minutos) e do português "Vale Abraão" (203 minutos).

Os novinhos descobrem os velhos - Eu digo e repito todo ano: não tem prazer maior para um cinéfilo que entrar numa sessão como a de "O Sangue", um filme português, em preto e branco e antigo (de 1989) e ver a sala lotada, com a maior parte do público formada por jovens de menos de 25 anos. OK, todos provavelmente estudantes de cinema da USP ou da FAAP, mas ainda assim dá um quentinho no coração.

Cinemateca em festa - Depois de anos de descaso no governo Bolsonaro que resultou até num incêndio em um de seus galpões que comprometeu parte de seu acervo, a Cinemateca Brasileira vem renascendo desde o início do ano com uma vasta programação. A Mostra foi o auge dessa retomada, sediando o Fórum de Ideias Audiovisuais, vários debates e lindas sessões na área externa.

O mau tempo às vezes deu uma atrapalhada, com o vento balançando a tela e a chuva atingindo quem sentava nas extremidades. Mas o espaço da Vila Mariana, antigo matadouro municipal, se mostrou uma boa opção para a carência de novos espaços de exibição da cidade — ainda que o local não fique exatamente perto de uma estação de metrô.

Os gringos em São Paulo - Um dos pontos fortes da Mostra é trazer diretores estrangeiros para conhecer São Paulo e os diretores brasileiros. Em anos anteriores, grandes nomes como o grego Theo Angelopoulos e o malaio Tsai Ming-Liang até chegaram a filmar curtas na cidade.

Quentin Tarantino segue como o nome mais famoso a ter passado pelo festival -- ainda nos anos 1990, quando tinha acabado de lançar seu primeiro longa, "Cães de Aluguel". O sérvio Emir Kusturica cancelou a vinda em cima da hora, mas tivemos o irlandês Lenny Abrahamson, do filme "O Quarto de Jack" e da série "Normal People"; a italiana Enrica Antonioni, viúva do diretor que ganhou retrospectiva; e muitos outros.

O aplicativo - A cada ano que passa, o aplicativo da Mostra fica um pouco melhor e mais cômodo, tanto para os credenciados quanto para o público que compra ingressos avulsos. Como sempre, os filmes mais disputados continuam esgotando seus ingressos em questão de minutos, o que não tem muito jeito.

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Mas é fácil buscar títulos na programação, montar a sua lista de favoritos e depois ir reservando (ou tentando reservar) os filmes que está a fim de ver, com dias de antecedência — quem deixa para o próprio dia ou mesmo para véspera muitas vezes fica na mão.

Lembrando que, nesta quarta, a Mostra divulga a programação da sua tradicional repescagem, em poucas salas de São Paulo. Fique ligado!

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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