Roberto Sadovski

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Reportagem

George Miller sobre 'Furiosa': 'Nossa contradição é buscar sentido no caos'

George Miller gosta de dar respostas longas. Sugerir uma pergunta sobre o mundo que ele ergueu há mais de quatro décadas com "Mad Max" e pedir para que ele elabore sua expansão equivale a uma aula sobre cinema, sobre arte, sobre paixão. Sobre vida. "Bom, vou tentar dar respostas curtas", ele deixa escapar logo no começo de nosso papo. Tarefa difícil.

O assunto, claro, é "Furiosa: Uma Saga Mad Max", em que ele retorna ao outback australiano depois de filmar "Mad Max: Estrada da Fúria" na Namíbia. Essa volta para casa também vem após o pouco visto - e absurdamente inventivo e envolvente - "Era Uma Vez um Gênio", que ele rodou com Tilda Swinton e Idris Elba.

"Furiosa", por sua vez, experimentou uma certa dança das cadeiras. Charlize Theron, que habitou a personagem em "Estrada da Fúria", cedeu o lugar para Anya Taylor-Joy, que veste o manto - ou melhor, coloca o braço mecânico - com a mesma disposição vingativa. "São histórias diferentes que caminham juntas", aponta Miller, "'Estrada da Fúria' acontece em três dias e uma noite, ao passo que 'Furiosa' se estende por cerca de 18 anos."

Construir "Furiosa" obedeceu uma única máxima: não dá para repetir o que já foi feito. "Para contar a história de 'Estrada da Fúria', tínhamos de saber tudo que acontece neste mundo", continua. "Contar a história de Furiosa, sendo que os dois filmes se sobrepõe, foi natural." A dinâmica narrativa, claro, se adequou às necessidades do novo filme: " Um exercício diferente usando algumas das mesmas ferramentas".

George Miller, diretor de 'Furiosa: Uma Saga Mad Max'
George Miller, diretor de 'Furiosa: Uma Saga Mad Max' Imagem: Reprodução

Depois de versar sobre a crise do petróleo e a crise ambiental, "Furiosa" estreita o paralelo com os choques políticos do mundo atual. "Ao contar a história de um indivíduo num mundo de extremos, vemos a dinâmica de todas as forças a seu redor, inclusive políticas", teoriza Miller. "A condição de todo ser humano, nossa contradição, é que vivemos no caos e tentamos lhe dar algum sentido."

A expansão posterior do mundo de "Mad Max", inclusive na mão de outros cineastas, empolga George Miller. "Gostaria de ver o que outros diretores poderiam fazer com o deserto", continua. "Cineastas que tenham uma abordagem multifacetada, que usem todas as técnicas e ferramentas do cinema para contar uma história."

Uma história que infelizmente ficou na promessa foi a versão de "Liga da Justiça" assinada por Miller, um projeto desenvolvido por mais de um ano e que, por fim, sucumbiu a forças econômicas externas. Quando pergunto se um retorno ao mundo dos super-heróis estaria nos planos, ele reafirma o interesse por esse mundo.

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"Meu interesse é em mitologia e alegoria, e essas histórias trazem elementos poéticos que permitem que o público tenha sua própria interpretação", teoriza. "A jornada do herói é parte de nosso tecido como seres humanos, e os super-heróis são herdeiros dessa tradição, descendentes diretos dos deuses gregos, romanos e nórdicos. Eu sempre estarei interessado nessas histórias."

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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