Roberto Sadovski

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Opinião

Rotineiro como filme de vampiros, 'Abigail' capricha no sangue e diversão

A essa altura, é difícil encontrar um novo ângulo para trazer alguma novidade ao manjadíssimo filme de vampiros. A boa notícia é que "Abigail" nem tenta. Em vez disso, ele segue a cartilha do filme de terror moderno ao se divertir com as convenções do gênero em um produto esperto e esquecível.

A premissa de "Abigail" é um primor. Um grupo de criminosos sequestra uma bailarina de 12 anos e a leva a uma mansão afastada. O plano é segurar a criança por 24 horas até que seu pai, supostamente um milionário, pague o resgate. A equipe, pincelada por um planejador (Giancarlo Esposito), não se conhece. Existe uma certa tensão, mas eles precisam se suportar por algumas horas até pegar sua recompensa e sumir.

A pegadinha é que a mocinha abduzida não é exatamente uma criança amedrontada e indefesa. Ela se revela uma vampira feroz, e os criminosos, agora presos em uma mansão que é, na verdade, uma grande armadilha, são sua caça. Sem ter como fugir, e sem absolutamente nenhuma maneira de barganhar com a pequena desmorta, eles têm de deixar as diferenças de lado e tentar sobreviver.

Alisha Weir é uma vampira bailarina em 'Abigail'
Alisha Weir é uma vampira bailarina em 'Abigail' Imagem: Universal

O barato em filmes como "Abigail" - ou "M3gan", ou "Maligno" - é não se posicionar como fitas de terror, e sim como o equivalente cinematográfico ao trem-fantasma de um parque de diversões. Existem sustos, claro, mas a experiência vale muito mais pela diversão.

Esse é claramente o foco dos diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, que também dividiram a função nos dois últimos exemplares da série "Pânico". A certa altura os personagens traçam verbalmente as "regras" para se enfrentar um vampiro, e na cena seguinte as convenções viram pó. Quando umas delas funciona, como a exposição à luz do Sol, os resultados até diferem do que o público, igualmente veterano, pode esperar. No frigir dos ovos, porém, é o esquema caninos afiados/mordida na jugular/desmortos à granel.

A fórmula para "Abigail" acertar no alvo talvez esteja na escolha do elenco. Se a turma em frente às câmeras não estiver disposta a abraçar o absurdo, toda a estrutura entra em colapso. Não é o caso, com atores como Melissa Barrera, Kevin Durant e Kathryn Newton injetando a dose certa de verossimilhança para a trama funcionar.

Melissa Barrera e Dan Stevens em 'Abigail'
Melissa Barrera e Dan Stevens em 'Abigail' Imagem: Universal
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O troféu "eu devoro os limites no café da manhã", contudo, vai para uma dupla que encara "Abigail" sem medo de ser feliz. A própria vampira é defendida com maturidade desconcertante por Alisha Weir. Quando ela para de brincar de garotinha indefesa e se revela predatória como um tubarão quando cheira sangue, a sensação de perigo é real.

Dan Stevens, por sua vez, parece que não sai da cama se seu personagem não for totalmente fora da casinha. Ele, claro, preenche todos os requisitos do galã hollywoodiano perfeito. Ainda assim, lá está Stevens sob quilos de maquiagem digital em "A Bela e a Fera", encarnando um astro pop ridículo em "Festival Eurovision da Canção" e, ainda em cartaz, bancando dentista de gorila gigante em "Godzilla e Kong".

Seu personagem em "Abigail" passa de líder de equipe a vítima tonta a adversário bestial sem perder o ritmo. Mesmo quando o roteiro deixa de fazer sentido - e, acredite, é inevitável -, Stevens defende todas as incoerências de cabeça erguida. É uma performance assumidamente trash bonita de se ver, mesmo quando ele e os outros (poucos) sobreviventes terminam literalmente cobertos em sangue. Com pipoca fica ainda mais gostoso.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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