Roberto Sadovski

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Reportagem

'Donzela' traz Millie Bobby Brown tomando o controle de seu próprio destino

"Donzela" é um conto de fadas às avessas. Em vez de resgatar uma dama em perigo, é o príncipe quem atenta contra a vida de sua prometida, oferecendo-a literalmente em sacrifício a um dragão. A jovem, Elodie, também não espera ser salva por algum cavaleiro de armadura reluzente: é ela quem traça sua própria jornada para driblar a morte certa e ressurgir triunfante.

Millie Bobby Brown, por sua vez, nunca teve de encarar uma fera determinada a lhe fazer de churrasco. Mas à exemplo de Elodie, que ela interpreta em "Donzela", a jovem atriz tomou as rédeas de sua carreira e está traçando seu destino no cenário da cultura pop. Não somente na frente das câmeras, mas também no papel de produtora - além de escritora, diretora e ativista. Isso tudo antes de atingir a idade legal para beber cerveja nos Estados Unidos.

O ponto de partida da trajetória da jovem de 20 anos foi a série "Stranger Things", que se tornou em 2016 uma das séries mais sensacionais da Netflix. Agora caminhando para sua quinta e última temporada, a criação dos irmãos Matt e Ross Duffer, uma fantasia de ficção científica ambientada nos anos 1980, deixa como seu maior legado um elenco de jovens astros, responsável por uma bem-vinda renovação no rosto da cultura pop do novo milênio.

Entre conspirações governamentais, criaturas inter dimensionais e o resgate de uma estética nostálgica como ferramenta de marketing, a jovem paranormal Eleven, papel de Millie, logo foi elevada à posição de ícone pop. Boa parte do mérito se deve à atriz, que chamou a atenção de uma Hollywood ávida por novos talentos e passou a dividir as temporadas seguintes da série com projetos que culminaram com sua estreia no cinema, o que ocorreu em 2019 com "Godzilla: O Rei dos Monstros".

Millie Bobby Brown em 'Donzela'
Millie Bobby Brown em 'Donzela' Imagem: Netflix

Esse tipo de atenção seria o bastante para tirar o foco de qualquer jovem galgando as escadarias da fama hollywoodiana. Não foi o caso de Millie Bobby Brown. Em vez de diluir sua "marca", ela negociou um contrato como produtora com a Netflix, criando uma série para chamar de sua, "Enola Holmes" - já em seus segundo filme. "Donzela" é a evolução desse acordo, em que a atriz seleciona projetos, os talentos envolvidos e os temas que são preciosos para uma jovem antenada com os anseios do novo século.

Para o diretor espanhol Juan Carlos Fresnadillo, trabalhar com uma jovem tão determinada foi uma boa surpresa. "Ela é muito jovem, mas sua alma é complexa, profunda e muito rica", derrete-se sobre sua protagonista. "Millie é uma pessoa muito atenta, e seus anos nessa indústria, em que ela começou tão jovem, lhe deram a experiência para entender a mecânica de uma produção que poucos atores de sua idade possuem."

Boa parte da ação em "Donzela" acontece com Millie sozinha, esgueirando-se pela caverna de uma fera mítica que cospe fogo. "Eu queria manter a câmera muito próxima a seu rosto para que o público experimentasse seu sofrimento", continua. "Millie adorou a ideia, mesmo que isso significasse que ela teria de fazer algumas cenas sem dublês em um trabalho físico mais rigoroso. E ela encarou tudo sempre com a mesma energia."

Robin Wright em 'Donzela'
Robin Wright em 'Donzela' Imagem: Netflix
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Robin Wright tinha 21 anos quando estrelou "A Princesa Prometida", e também se viu em meu ao atribulado jogo hollywoodiano. A atriz navegou a indústria em projetos de prestígio como "Forrest Gump", "Corpo Fechado" e, mais recentemente, se reconectou com o cinema fantástico ao fazer parte do elenco estendido da série "Mulher-Maravilha".

Foi na TV, contudo, que Robin encontrou sua personagem de maior sucesso, a implacável Claire Underwood de "House of Cards". Na série co-criada por David Fincher, ela terminou creditada como produtora executiva e, em dez episódios, também como diretora - posição que repetiu no cinema no drama "Um Lugar", de 2021.

Para ela, "Donzela" é a oportunidade de assistir à ascensão de uma jovem como Millie Bobby Brown em uma aventura que fala diretamente com essa nova geração. "O mais interessante é ver a própria dama se livrando do perigo", brinca. "Millie é uma potência, e é revigorante ver uma jovem com tamanha força." Quando pergunto qual a maior qualidade que ela enxerga na atriz, Robin é direta: "Sua honestidade! Quando ela está atuando eu não acredito que exista um osso falso em seu corpo!".

Juan Carlos Fresnadillo dirige Millie Bobby Brown em 'Donzela'
Juan Carlos Fresnadillo dirige Millie Bobby Brown em 'Donzela' Imagem: John Wilson/Netflix

"Donzela" é parte do plano de amadurecimento de Millie Bobby Brown. Ela tinha 12 anos quando "Stranger Things" se tornou um fenômeno, e navegou por sua adolescência de forma cuidadosa - especialmente em tempos de superexposição e de redes sociais. Seus trabalhos seguintes a colocaram em plataformas diferentes.

Ela publicou "Nineteen Steps", romance inspirado na história de sua família, tornou-se embaixadora da UNICEF, é dona de sua própria marca de produtos de beleza, Florence by Mills, e estreou como diretora em um curta-metragem patrocinado pela Samsung. Para seu próximo filme, ela foi selecionada pelos diretores Joe e Anthony Russo como protagonista da ficção científica "The Electric State", dividindo a cena com Chris Pratt e Ke Huy Kuan.

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Sair sem arranhões do vale dos astros infantis não é fácil - especialmente quando a indústria dispara as expectativas. Alicia Silverstone e Lindsay Lohan tentaram ampliar seu alcance como produtoras e foram engolidas por Hollywood. Felizmente, a história não parece se repetir na trajetória de Millie Bobby Brown, que decifrou o mecanismo das celebridades no século 21 a seu favor. "Donzela" é o reflexo de uma jovem determinada a fazer sua própria história.

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