Roberto Sadovski

Roberto Sadovski

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

'Oppenheimer' confirma favoritismo em Oscar de poucas surpresas

Com 13 indicações, inclusive como melhor filme, "Oppenheimer" dispara como o favorito para o Oscar 2024. Não é exatamente uma surpresa. O drama biográfico dirigido por Christopher Nolan tem acumulado prêmios ao longo de toda a temporada, coroando uma trajetória já aclamada pelo público, que depositou quase US$ 1 bilhão no bolso da produção.

Isso não significa, de forma alguma, que a disputa pelo prêmio da Academia esteja encerrada. Mesmo com a overdose de troféus e cerimônias, que saturam o mercado e parecem nivelar o meio de campo, o Oscar continua como a honraria máxima em uma indústria que não perde a chance de se autocongratular. Hollywood ainda adora uma festa, e não existe outra mais importante ou mais exclusiva.

Importante, exclusiva e, por vezes, surpreendente. Não que a lista de indicados para a cerimônia deste ano tenha fugido do roteiro, mas sempre impressiona ver quem se coloca à frente da concorrência, nem que seja por uma cabeça. A fantasia "Pobres Criaturas" é a bola da vez, disputando 11 Oscar, inclusive melhor filme, direção e atriz, posicionando-se levemente à frente de "Assassinos da Lua das Flores" (10 indicações) e "Barbie" (no páreo com oito).

Ah, "Barbie"... O filme de Greta Gerwig, maior bilheteria nos cinemas mundiais em 2023, é um candidato agridoce. Concorre como melhor filme, mas viu não só sua diretora ficar fora da disputa em sua categoria (Greta pode levar um careca dourado como roteirista), como também não cravou uma vaga para sua protagonista. Margot Robbie, presença certíssima em 9 entre 10 previsões.

É curioso observar como o Oscar, mesmo festejando as crias de casa, busca ampliar uma visão cinematográfica global. É um reflexo da expansão de seu corpo de votantes que consagrou "Parasita" em 2020. Este ano, o holofote brilha sobre "Anatomia de Uma Queda" e "A Zona de Interesse", ambos com cinco indicações.

"Anatomia de Uma Queda" é a consagração de sua diretora e roteirista, a francesa Justine Triet, que concorre nessas duas categorias e viu sua obra entre os dez indicados a melhor filme - além de sua protagonista, Sandra Hüller, entre as candidatas como melhor atriz. Curiosamente, a França não selecionou o drama para a categoria de filme internacional, optando por "O Sabor da Vida", que ficou de fora da disputa.

A indicação dupla - melhor filme e também filme internacional - ficou com o sombrio "Zona de Interesse". O trabalho de Jonathan Glazer, também indicado por direção e roteiro, não deve repetir o feito de "Parasita", que gabaritou as duas categorias. Ainda assim, é o favorito em uma disputa que inclui a Itália ("Io Capitano"), Japão ("Dias Perfeitos", que é dirigido por Wim Wenders), Espanha (o espetacular "A Sociedade da Neve") e Alemanha ("Das Lehrerzimmer").

"Assassinos da Lua das Flores" entra na disputa em uma posição curiosa. Não há dúvida que Lily Gladstone é a favorita a levar a estatueta como melhor atriz. As chances do filme em outras categorias, porém, sofreram um baque quando ele foi esnobado como roteiro adaptado - o que é curioso, já que o texto do roteirista Eric Roth, que assina com o diretor Martin Scorsese, mudou o foco do livro, criando uma nova experiência com a mesma história.

Scorsese, por sinal, crava aqui um recorde peculiar. Com sua indicação pela direção de "Assassinos da Lua das Flores", ele é o cineasta vivo mais festejado pelo Oscar, lembrado pela Academia dez vezes (vencendo por "Os Infiltrados"), uma a mais que o colega Steven Spielberg (que tem dois carecas em casa, por "A Lista de Schindler" e "O Resgate do Soldado Ryan").

Continua após a publicidade

Curiosa também é a ausência de uma data para "American Fiction", indicado a cinco Oscar, estrear no Brasil. Ao menos até o momento em que traço essas linhas, o filme de Cord Jefferson, protagonizado por Jeffrey Wright, segue fora do calendário, frustrando quem ainda não completou sua maratona do Oscar.

Por outro lado, quem deve estar estourando rojões é Bradley Cooper. Seu "O Maestro", um drama apenas ok, foi lembrado em sete categorias, inclusive melhor filme (que ele produziu), ator (o próprio Cooper), roteiro original (o próprio Cooper) e atriz (Carey Mulligan, porque não tem como). Pelo visto a campanha de distribuir chocolatinhos para os colegas funcionou.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

Só para assinantes