Roberto Sadovski

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Ridley Scott: como o último general do cinema criou a guerra em 'Napoleão'

Ridley Scott faz uma operação de guerra parecer fácil. No caso de "Napoleão", as batalhas são quase literais, com o drama histórico encabeçado por Joaquin Phoenix recriando com precisão algumas de suas campanhas mais famosas. A tecnologia ajuda, claro. Assim como a produção esmerada que colocou milhares de figurantes, centenas de cavalos e dúzias de canhões disparando em campo.

A tarefa, contudo, só é mesmo fácil se seu nome for Ridley Scott. Poucos diretores em atividade hoje em dia seriam capazes de orquestrar uma produção tão complexa e tão exuberante como "Napoleão". Menos ainda tirariam o coelho da cartola em esparsos dois meses — exatamente o tempo que ele levou para filmar a história do imperador francês.

"Bom, tudo se resume a ter experiência", diz Scott, que conversou com a coluna alguns dias antes da estreia de "Napoleão". "Adquiri experiência trabalhando com publicidade, e quando eu filmei 'Os Duelistas', aos 40 anos, me pareceu muito fácil."

Em um contexto maior, Scott se formou primeiro em design, depois em cinema, trabalhando na TV britânica antes de criar sua produtora em 1968. Nos anos seguintes, ele se destacou no comando de comerciais emblemáticos, que não só ganharam prêmios como aos poucos lhe abriram as portas para o cinema.

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"Provavelmente, fui um dos diretores de publicidade mais diligentes em uma onda que transformou os comerciais em expressão artística", continua. "Meus concorrentes em Londres eram excepcionais, como Alan Parker e Adrian Lyne, além do meu irmão (o também diretor Tony Scott, morto em 2012) que era seis anos mais novo que eu."

Ridley Scott direto do campo de batalha em 'Napoleão'
Ridley Scott direto do campo de batalha em 'Napoleão' Imagem: Sony

Foi dirigindo comerciais que Ridley Scott descobriu que o trabalho rendia mais quando ele mesmo operava a câmera — trabalho que ele assumiu em boa parte das 2.000 peças criadas por sua produtora. "Quando eu filmei 'Os Duelistas', tínhamos uma câmera comigo como operador. Foi o mesmo em 'Alien, o Oitavo Passageiro', e em 'Thelma & Louise'. Eu estava sempre atrás da câmera."

O diretor explica que essa posição o fazia não apenas mais eficiente, como também desenvolveu seu apuro visual. Como operador de câmera, ele aprendeu com o tempo a planejar tomadas com duas máquinas simultâneas, depois com quatro, chegando à maestria de coordenar 11 câmeras rodando ao mesmo tempo. Todo esse trabalho é mapeado em storyboards desenhados pelo próprio Scott, o que ele chama de "a escrita da sinfonia das grandes batalhas".

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Foi assim que ele criou, ao longo de sua carreira, algumas das sequências de ação mais eletrizantes do cinema moderno. De "Gladiador" a "O Último Duelo", passando por "Falcão Negro em Perigo", "Cruzada", "Robin Hood" e "Êxodo", Scott aperfeiçoou a arte de encontrar beleza e precisão na coreografia de uma cena de guerra. "Meus olhos são meu melhor recurso", explica. "Com as cenas desenhadas em storyboards, e o posicionamento correto das câmeras, o trabalho é fácil."

'Napoleão' é espetáciulo em grande escala
'Napoleão' é espetáciulo em grande escala Imagem: Sony

Espetáculos visuais como "Napoleão" fazem parte do DNA do cinema. Akira Kurosawa escreveu parte do dicionário de guerra cinematográfico culminando em "Ran", assim como o britânico David Lean, sinônimo de épico com "A Ponte do Rio Kwai" e "Lawrence da Arábia" — em quem Ridley Scott claramente espelha seu próprio legado.

Stanley Kubrick mostrou a precisão do campo de batalha, ao passo que nele Steven Spielberg encontrou sensibilidade e crueza. Zhang Yimou foi poético em "Herói", John Woo foi brutal em "A Batalha dos 3 Reinos".

A tecnologia digital ajuda o cinema a ter novos mundos em produções de grande escala, como "Vingadores Ultimato" e o novo "Rebel Moon". Mas é impossível fugir do artificialismo das paisagens geradas por uma máquina, recurso que não tem um décimo do impacto de cenas como o cerco de Toulon e as batalhas de Austerlitz e Watertloo em "Napoleão", que Ridley Scott filmou em locações reais, com castelos e pradarias e o céu infinito ao fundo.

A naturalidade com que Ridley Scott descreve seu processo, contudo, faz com que ele pareça fácil. Ter experiência, operar uma dúzia de câmeras ao mesmo tempo, desenhar cada cena antes mesmo de iniciar uma produção. Tá certo. "É fácil", dispara, antes de dar a real num tom meio jocoso. "Mas se você tentar fazer, vai se atolar em merda." O diretor sorri e emenda: "Eu disse 'merda', mas essa parte você pode cortar".

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