Roberto Sadovski

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Opinião

'Dinheiro Fácil' transforma a chatice do mercado de ações em cinema pop

É impressionante como algumas histórias chegam ao cinema em velocidade supersônica. É o caso deste "Dinheiro Fácil". A movimentação no mercado de ações por investidores amadores que quebrou fundos bilionários de Wall Street aconteceu em janeiro de 2021, no meio da pandemia da Covid-19. Em setembro do mesmo ano já havia virado livro. Agora, está adaptada em um cinema perto de você.

O motivo, claro, é aproveitar um gancho bacana enquanto ele ainda está quente. Melhor ainda quando a trama vem acompanhada do prazer perverso e irresistível de ver gente muito rica quebrando a cara de maneira espetacular. É uma história de Davi contra Golias em que o titã, honestamente, não teve a menor chance. De vez em quando o universo marca um golaço para os rejeitados!

Foi o que aconteceu quando Keith Gill (Paul Dano), analista financeiro de classe média, percebeu que as ações da loja de eletrônicos GameStop estavam em queda, o que o levou a investir suas economias em títulos da empresa. Ao compartilhar suas atividades em fóruns online e em seu canal no YouTube, Gill incentiva outros investidores a comprar as mesmas ações, causando uma disparada em seu preço.

A movimentação desestabilizou o cenário financeiro, em especial empresas de investimento robustas que apostavam na venda a descoberto, termo do mercado que indica uma operação que necessita da queda de preço de um ativo para dar lucro. Como as ações da GameStop não paravam de subir, saltando de US$ 19 para US$ 380 dólares em espaço curtíssimo de tempo, fundos como a Melvin Capital perderam centenas de milhões de dólares.

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O diretor Craig Gillispie ("Eu, Tonya", "Cruella") pega todo esse blablablá hermético do mercado financeiro e traduz em um filme ágil e extremamente divertido, apoiado por um elenco (Dano, Shailene Woodley, Pete Davidson, America Ferrera, Seth Rogen, Sebastian Stan) que sempre dá o seu melhor, não importa a musculatura de seu papel.

Mesmo que boa parte dos bastidores seja resumida para efeitos dramáticos, "Dinheiro Fácil" aposta no bom humor como âncora para se conectar com o público - identificação facilitada com a inclusão de pessoas comuns e sem a menor experiência em investimentos que seguiram a cartilha de Keith Gill e, quase sempre, se deram bem.

"Dinheiro Fácil" de cara escolhe um lado na história, e é fácil simpatizar com um filme que celebra a luta de pessoas comuns que tentam usar o mercado de ações como alavanca para uma vida melhor. Como o personagem de Paul Dano coloca a certa altura, investir na Bolsa foi uma ferramenta criada para ajudar qualquer anônimo a ter uma fatia de empresas que fazem parte de sua vida. Os fundos bilionários distorceram o jogo, e o que Gill fez foi contribuir para, pelo menos por um momento, virar a mesa.

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Um momento breve, claro, mas de alto impacto, o que o fez ganhar as manchetes. O que Gillispie faz em "Dinheiro Fácil" é mostrar que, no fim, não há soluções mágicas para bater de cara com "o sistema", e que a longo prazo subir a ladeira da desigualdade é uma jornada que depende do tamanho da carteira de quem se arrisca. Ricos continuam megarricos, o trabalhador segue na batalha. Mas, de vez em quando, todos merecemos celebrar uma vitória.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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