Roberto Sadovski

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Denzel Washington volta ultraviolento em 'O Protetor: Capítulo Final'

"Somos sacos de carne com olhos." A frase de efeito não é um bordão esperto dito por algum personagem de "O Protetor: Capítulo Final". Ela vem do diretor Antoine Fuqua, mais uma vez no comando da série que transforma Denzel Washington em Robert McCall, ex-fuzileiro e espião aposentado que também é uma máquina de matar fria e eficiente.

Sua ações, contudo, são atreladas a um senso de justiça. Assim como no seriado dos anos 1980 que inspirou os filmes, McCall usa suas habilidades para ajudar os desfavorecidos. Neste terceiro capítulo, esse "trabalho" o leva à Sicília, na Itália, onde ele confronta um criminoso internacional e descobre acidentalmente um imenso esquema de tráfico de drogas internacional.

Eficiente, ainda que derivativo, o roteiro deste terceiro "O Protetor" é um alicerce sobre o qual Fuqua desenha o que é seu filme graficamente mais violento. "A violência conta uma história, que é a coisa que eu amo", explica, direto de seu escritório em Los Angeles. "Então cada pedaço de ação violenta é para nós uma cena de diálogo. E normalmente eles são rápidos e brutais."

"O Protetor: Capítulo Final" é também o quinto filme em que Fuqua conta com Denzel Washington à frente das câmeras - além da série com Robert McCall, eles trabalharam na refilmagem de "Sete Homens e Um Destino" e, antes disso, em "Dia de Treinamento", que rendeu a seu astro o Oscar de melhor ator. "Naquele primeiro momento fizemos um acordo para sempre experimentar coisas novas", recorda. "Nossa relação é de total respeito e confiança."

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No caso da trilogia "O Protetor", é também questão de testar os limites. Na superfície os filmes são sobre vingança e justiça, mas Fuqua sempre estimulou seu protagonista a buscar algo mais profundo. "As cenas violentas estão te dizendo mais sobre McCall do que sobre os vilões", teoriza. "Eu o vejo como uma pessoa boa consumida por um dilema moral com a violência." O diretor procura não julgar o personagem: "A gente tem que manter a visão de que ele está fazendo o que acredita ser necessário".

Essa área cinzenta era matéria-prima justamente de "Dia de Treinamento". No drama de 2001, Denzel fazia o detetive veterano que passa 24 horas com outro policial, interpretado por Ethan Hawke, em avaliação para sua promoção. Ao longo do dia, o personagem de Washington revela sua face de corrupção e extrema violência, traços que ele acha essenciais para sobreviver na selva urbana - e que antecipam a brutalidade de seu fim.

"Acredito que 'Dia de Treinamento' equilibre a balança com 'O Protetor'", continua Fuqua. "Ambos trazem a fantasia e também a realidade feroz das coisas, retratando uma violência que não é 100 por cento real mas que também nos afeta." Quando pergunto se seria mais difícil fazer "Dia de Treinamento" hoje, ele não hesita: "Não tenha dúvida. Porque hoje nós vimos policiais matando possoas em vídeo, e antes havia surpresa que um policial fosse tão diabólico".

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O diretor Antoine Fuqua e Denzel Washington no set de 'O Protetor: Capítulo Final'
O diretor Antoine Fuqua e Denzel Washington no set de 'O Protetor: Capítulo Final' Imagem: Sony

Com o mundo ainda mais caótico do que já era na virada do século, uma série como "O Protetor" oferece, ao menos na fantasia, um senso de justiça que pode ser catártico. "O mundo não mudou, a injustiça ainda é injustiça, as pessoas se aproveitam do poder e se aproveitam da fraqueza", filosofa. "Se ainda não aprendemos nossa lição, acredito que a maioria das pessoas acredita na justiça. O filme é sobre isso."

É esse senso de justiça que faz Robert McCall proteger as pessoas do vilarejo italiano que o acolhem quando ele aparece ferido. Para um homem sem a ilusão de um mundo em paz, ele parece ter encontrado seu lugar. Quando a máfia ameaça essa tranquilidade, a violência se torna a única resposta. Entre a brutalidade e o sentimentalismo, é a figura de Denzel Washington que mantém o filme em pé.

"Ele é intenso", resume Antoine Fuqua sobre seu astro. "Não só a forma como ele interpreta Robert McCall, mas também como ele se expressa com seu corpo." Aos 68, o ator poderia facilmente cair na vala do "veterano casca grossa" que se tornou um nicho confortável para Liam Neeson ou John Travolta, mas escapa dessa armadilha ao manter a ação com os pés no chão.

Dakota Fanning em 'O Protetor: Capítulo Final'
Dakota Fanning em 'O Protetor: Capítulo Final' Imagem: Sony

"Não podemos criar nenhum movimento que pareça falso", explica Fuqua. "É como Denzel trabalha como ator, cada passo que ele dá tem de ser real. Os dublês constróem as cenas de ação e ele vai mudar algo se não sentir que é real." Pode parecer papo de diretor, mas mesmo as sequências mais improváveis de "O Protetor" passam veracidade pela forma como o astro as interpreta, pelo peso de seu talento.

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Curiosamente, seus ombros parecem mais leves quando ele divide a cena com Dakota Fanning, aqui no papel de uma agente da CIA envolvida no caso descoberto por McCall. Há quase duas décadas, Denzel Washington trabalhou com ela, então uma criança, em "Chamas da Vingança", filme de ação assinado por Tony Scott. A reunião deixou o set mais descontraído.

"Foi como assistir a 'Chamas da Vingança' de novo", diverte-se Fuqua. "Denzel se comportava como um pai orgulhoso, até por que eles nunca perderam contato." O diretor lembra que o astro ficou surpreso quando ele sugeriu Dakota para o filme, surpresa que logo se tornou empolgação. "Ele estava realmente feliz em ver como ela se tornou uma jovem tão talentosa", conclui. "Os dois estavam sempre se desafiando. Ela não é mais aquela garotinha. Ela é fantástica, cara!"

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