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Roberto Sadovski

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Cara Delevingne: 'É difícil enxergar a beleza quando ela é cercada de dor'

Cara Delevingne na série "Carnival Row" - Prime Video
Cara Delevingne na série 'Carnival Row' Imagem: Prime Video

Colunista do UOL

05/05/2023 04h23

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Cara Delevingne ficou muda. Mal começamos a papear, e ela dizia o quanto é apaixonada pelo Brasil, seu áudio decide passear. Nestes tempos pós-pandemia, em que entrevistas foram facilitadas pela tecnologia, uma conexão ruim prova que nada é substituto para o bom e velho olho no olho. Quando o wi-fi decide não cooperar de forma alguma, ela acena um adeus com um sorriso e retomamos a conversa no dia seguinte. Tudo bem. Difícil não se contagiar pela leveza da atriz.

Não foi sempre assim. Desde seus tempos como modelo, em que atingiu a fama aos 18 anos em 2011, Cara nutriu uma reputação festeira, temperada por um senso de humor irônico e personalidade libertária. Um papel menor no drama "Anna Karenina" abriu a porta para papéis de maior destaque, como em "Cidades de Papel" e "Esquadrão Suicida".

"Carnival Row" chegou em sua vida em 2019. A série, uma fantasia da era vitoriana mergulhada no estilo steampuk, a colocou no papel de Vignette Stonemoss, uma fada envolvida romanticamente com um detetive humano interpretado por Orlando Bloom. A segunda temporada experimentou um hiato para entrar em produção, especialmente por conta dos protocolos de segurança em resposta à pandemia, e chegou à plataforma Prime Video mais de três anos depois da anterior.

Nesse tempo, Delevingne não pisou no freio, abraçando todos os clichês e excessos do estrelato, culminando com um incidente bem público em setembro do ano passado. A atriz foi fotografada desgrenhada e aflita no aeroporto de Van Nuys, em Los Angeles, pouco depois de seu aniversário de 30 anos. Os tabloides logo questionaram seu estado mental.

"Aquelas fotos me causaram uma vergonha profunda", disse em entrevista à "Vogue" em março passado. "Mas elas também foram um alerta para eu despertar." A atriz buscou ajuda e entrou num longo programa de tratamento para encontrar a sobriedade, o que lhe deu uma nova perspectiva sobre sua vida e carreira.

O fato de ela ter assinado a produção dessa segunda temporada de "Carnival Row" mostra que havia um caminho já traçado para Cara deixar para trás os excessos - ou, como ela coloca, "os jogos, as performances e toda aquela maluquice". Ela parece ter se livrado de um peso enorme, e é assim que nos reconectamos para falar sobre a volta da série, seus paralelos com o mundo real e sobre como sobreviver no olho do furacão.

Roberto Sadovski - Cá estamos mais uma vez, depois de sermos tão rudemente interrompidos pela tecnologia!

Cara Delevingne - (risos) Olá de novo!

"Carnival Row" está de volta um pouco mais de três anos depois da primeira temporada. O que soa como uma eternidade, enpecialmente em um mundo em que fãs parecem demandar constantemente por algo novo. O que você acha que destaca "Carnival Row" de outras séries de fantasia que possa trazer seu público de volta?

Bom, eu acho que, mesmo que este seja um mundo de fantasia, é muito fácil se conectar com os personagens. Além disso a série usa essa ambientação lúdica para se conectar profundamente a um comentário social que espelha o que acontece no mundo real. Todas das histórias e todas as criaturas fazem alusão a algo que podemos identificar, o que eu acho que faz de "Carnival Row" um conceito único. Mesmo que o gênero fantástico por vezes seja muito repetitivo, histórias assim não saem de nossa cabeça, especialmente quando elas provocam tantas abordagens diferentes.

Um dos aspectos que mais me impressiona em "Carnival Row" é o escopo de sua produção. Tudo parece construído de forma muito meticulosa, como se cada centavo do orçamento estivesse em cena. Em um cenário em que você está cercada constantemente por elementos fantásticos, como manter seu personagem com os pés no chão?

Tem muito a ver com "Carnival Row" trazer tantos paralelos com nosso mundo. Mesmo que seja um lugar lindo, às vezes é difícil enxergar a beleza quando ela é cercada de tanta dor e sofrimento. É a forma como eu me sinto em relação a nosso planeta, ao mundo em que vivemos, com todas as imperfeições causadas por nossa mão. Exatamente como acontece na fantasia da série. Ainda assim, Vignette toma suas decisões guiada por seu coração. Às vezes, quando estamos perdidos em nossos pensamentos, nossa mente nos sabota e ficamos presos em um ciclo de pensar demais... Eu não sei. Vignette está sempre tentando fazer a coisa certa, defendendo as pessoas que ela ama, sabe? Mesmo encarando todas as adversidades ela mantém os pés firmes, mesmo quando eles não estão tocando o chão.

cararow entre - Reprodução - Reprodução
O papo com Cara Delevingne fluiu tranquilo um dia após a greve da conexão
Imagem: Reprodução

Você fala com muita propriedade.

Eu meio que uso esse método comigo mesma, e talvez eu nem sempre acerte. Mas é como estar no olho de um furacão. Tudo está se movendo furiosamente a seu redor, mas você tem de se manter sereno dentro dele.

Você fez outros personagens em histórias fantásticas antes, como em "Esquadrão Suicida" e "Valerian e a Cidade dos Mil Planetas". Qual o apelo da fantasia para você?

Eu não sei. (risos) Quando eu era criança adorava meio que ter um túnel de fantasia para o qual eu pudesse visitar e soltar minha imaginação. Agora como adulta, é uma oportunidade incrível fazer parte de uma série como essa, que pode sensibilizar as pessoas, ou ao menos iniciar uma discussão que muita gente prefere não ter. E eu adoro de verdade fazer parte de "Carnival Row", de ver até onde poderíamos chegar. Adoro a tecnologia por trás da fantasia e os avanços que nos permitem criar tantas coisas incríveis. Mas também é fascinante ver a emoção em cada personagem e a oportunidade de trazê-los à vida.

(fico em silêncio, já que aqui a tecnologia me dá uma rasteira e é Cara que perde o meu áudio...)

Eu não consigo te ouvir, acho que você desligou seu microfone! (risos)

(religo rapidamente) Opa, é verdade! Bom, espero que a gente possa conversar mais quando você vier ao Brasil.

Eu adoraria, de verdade! E desculpe toda a confusão em nosso bate papo interrompido de ontem!

Sem problemas.

Acho que me dou melhor com a fantasia do que com a tecnologia. (risos)