Topo

Pedro Antunes

Obrigado, BBB 21: Ludmilla é a maior artista do Brasil. E ponto.

BBB 21: Ludmilla e Brunna dançam juntas na festa - Reprodução/ Globoplay
BBB 21: Ludmilla e Brunna dançam juntas na festa Imagem: Reprodução/ Globoplay

Colunista do UOL

04/04/2021 07h35

"Respeita o nosso funk, respeita a nossa cor, respeita o nosso cabelo. Respeito, caralh*!"

Ao microfone, no programa de maior audiência da TV da atualidade, o BBB 21, Ludmilla falou o que o Brasil precisava, deveria e e queria ouvir.

Surrou.

Sabe aqueles tabefes bem dados? Ludmilla foi lá e deu dois de uma só vez. O primeiro acertou o elitismo cultural, aflorado recentemente por comentários de Rick Bonadio, produtor que já fez funk ruim e reclamou de ouvir funk brasileiro contemporâneo no Grammy 2021.

Também esbofeteou, de forma proposital ou não, o racismo ocorrido no BBB 21 quando Rodolffo comparou a peruca que usava, de um homem das cavernas, com o cabelo do outro participante do jogo, o professor João.

Plaft! Plaft!

Ludmilla abriu o show no BBB 21 na noite de sábado (3) com "Fala Mal de Mim", música dos tempos em que respondia como MC Beyoncé. "Não olha pro lado, quem tá passando é o bonde", diz a música do início da década passada.

O ano de 2016, importantíssimo para a carreira de Ludmilla, foi representado por "Bom" e "Sou Eu", hits tamanhos que se tocados em uma festa de aniversário de Bonadio veríamos gente dançando a raba sem pudor.

E o BBB 21 segue tornando cada vez mais difícil a escolha por qual será o primeiro show que vamos querer assistir quando a gente puder se aglomerar de novo, não é? Barões da Pisadinha, Thiaguinho, Pedro Sampaio, Dennis DJ ou Lud?

Da época de MC Beyoncé até os momentos mais recentes da carreira, como com a música gravada com Ivete Sangalo (com "Pulando na Pipoca", de 2020), Ludmilla se agigantou no palco do BBB 21.

Camilla de Lucas, que tanto abraçou o professor João quando a artista pediu por "respeito caralh*", chorava sem parar. Emocionante de ver.

Alguns artistas pipocam. Outros lacram sem conteúdo.

Ludmilla não é nem um, nem outro.

Ludmilla é a maior artista do Brasil da atualidade porque representa muito de um País que é castigado e punido, mas resiste.

Maior do Brasil não somente em números, porque quem gosta de números são robôs e algoritmo. Números que também podem ser pesadelos para tipos como de Paulo Guedes, com uma demonstrada inaptidão em lidar com a economia brasileira, apesar de ministro, e até para mim, que admito sofrer no cálculo do troco na padaria.

Se números de plays no Spotify e views no YouTube fossem sinônimo de que artista é bom de verdade, não seriam tão usados por assessores de imprensa e gente de marketing para tentar "emplacar" uma pauta sem um link para ouvir a música, não é?

Mas além de ter esses milhões de views, plays ou qualquer que seja a métrica, Ludmilla é gigantesca em questões mais importantes que isso.

Ela é exatamente o oposto em tudo que a máquina de privilégios brasileira gosta de criar em massa e ditar como regra.

Ludmilla é mulher, é negra, é funkeira, é pagodeira, é casada com outra mulher - inclusive, tascou-lhe uma beijoca em uma versão mais vagarosa de "Bom", hit da artista de 2016, durante o show.

No BBB 21, ela foi a voz de tanta gente que precisa se sentir representada. E se você não entende o que é isso, é porque está sentado no seu trono de privilégios, alto demais para enxergar o que está ao redor.

Ludmilla mostrou no BBB 21 que é gigante, sim. É a maior do Brasil. E ponto.