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Netflix mais cara e centralização do conteúdo: streaming entra em nova era

A cobrança adicional de quem compartilha a conta da Netflix foi apenas o começo. Nos EUA e na Europa, o streaming subiu os preços dos planos Básico e Premium entre 12,5% e 33,3%. Não há, ainda, informações sobre a América do Sul, mas é possível que os brasileiros também precisem desembolsar mais para pagar pelo serviço em um futuro próximo.

Enquanto isso, concorrentes no mesmo setor preveem o encarecimento das assinaturas ou já cortaram descontos, além de articularem uma consolidação de suas ofertas - com menos plataformas, custando mais caro. Esse é o começo de uma nova era do streaming: a da consolidação e do custo mais salgado - algo que vai lembrar bastante a antiga TV paga.

O que está acontecendo:

Netflix reajustou o preço em alguns mercados. Por exemplo, nos EUA o plano básico foi de US$ 8,99 (R$ 44) para US$ 11,99 (R$ 58). É possível que a medida envolva o Brasil.

O aumento não ocorreu nos planos sem anúncios. Questionada sobre o assunto, a assessoria de imprensa companhia no Brasil informou que "não há novidades no momento".

Streaming fica cada vez mais caro

A notícia é a materialização de um grande problema enfrentado hoje pelos streamings: a conta não fecha.

Por anos, esses serviços cobraram dos assinantes um valor menor do que deveriam. Ao mesmo tempo, investiram pesado em produções próprias, exclusivas. A Netflix puxou essa tendência, que foi seguida, em maior ou menor grau, por Disney+, HBO Max e outros concorrentes. Tivemos uma ampla e pulverizada oferta de conteúdo.

A realidade mudou quando o mercado (e, principalmente, os investidores) percebeu que o teto do número de assinaturas era baixo, sem falar que os filmes e séries estavam saindo muito caro para o retorno que davam. Pronto: os grupos de mídia passaram a focar na rentabilidade. Resumindo: ter menos originais, mais publicidade e aumento de preço.

A Amazon já anunciou que, nos EUA, passará a cobrar US$ 3 (cerca de R$ 15) adicionais de quem não quiser ver publicidade no meio dos filmes e das séries do Prime Video. Não há ainda confirmação de que teremos isso no Brasil, mas é provável que o nosso país siga o mesmo caminho mais cedo ou mais tarde. Outro aumento recente na Terra do Tio Sam, já abordado nesta coluna, foi o do Disney+.

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O Apple TV+ também foi afetado pela era de "inflação": no final de outubro, o serviço teve um aumento de quase 50% por aqui, passando de R$ 14,90 para R$ 21,90. Nos Estados Unidos, foi de US$ 6,99 (R$ 34) para US$ 9,99 (R$ 49).

Esse é apenas o reflexo mais recente: de acordo com Wall Street Journal, os preços dos planos sem publicidade dos streamings tiveram um incremento de 25% em apenas um ano. No nosso país, que passou por um processo inflacionário mais acelerado recentemente e que tem uma flutuação no valor da moeda em relação ao dólar, os aumentos não foram tão fortes - por enquanto.

Concentração de mercado

Com preços menores e mais comodidade, o streaming — junto com a pirataria, é sempre bom lembrar — foi minando a TV paga. Como já contamos nesta coluna de Splash, esse modelo é, hoje, bem menor do que foi no passado.

Todavia, a televisão por assinatura tinha um trunfo, que certamente você, por anos, viu como uma desvantagem: os canais eram comercializados em blocos. Ou seja, quem assinava pelas notícias ou pelos desenhos animados era obrigado a ter a emissora de esportes ao vivo, mesmo sem ter interesse - e vice-versa.

As plataformas online não seguem a mesma estrutura. Cada serviço, que seria o equivalente moderno a um canal, é assinado separadamente. O cancelamento também é facilitado, permitindo pular de um para o outro de acordo com os lançamentos. Ao mesmo tempo, vimos uma pulverização na disponibilidade dos eventos esportivos, filmes e programas de TV.

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Só que essa época de "desagregação" está acabando.

Nos EUA, assistir a NBA no Max terá custo adicional
Nos EUA, assistir a NBA no Max terá custo adicional Imagem: Getty Images

No Brasil, o grupo dos Irmãos Warner já faz isso: a HBO Max exibe as partidas da Champions League, por exemplo — e sem custo adicional. Os esportes trazem mais assinantes, mas quem está lá por causa dos heróis da DC também paga, em certa medida, pelos direitos dos jogos de Real Madrid e companhia. Star+ (da Disney, com conteúdo da ESPN) e Paramount+ seguem a mesma linha aqui na América Latina. Resta saber se a conta fecha.

Agora, quem chutou mesmo o balde e levou para o streaming a fórmula da televisão por assinatura foi a Globo: o Globoplay simplesmente traz todos os canais do grupo em um único pacote, que tem um custo adicional e que precisa ser assinado em bloco.

Não será surpresa se outros concorrentes seguirem o mesmo caminho. A realidade é que o futuro vai lembrar cada vez mais o passado: menos pacotes, com mais conteúdo e preço mais caro. Será a TV paga na era do streaming.

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