Luciana Bugni

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Opinião

Xuxa critica Fernanda do BBB sem saber o que é ser mãe sem rede de apoio

Eu posso conversar abertamente com minhas amigas sobre a vontade latente de deixar de ter filhos. É de verdade? Não é. O maior medo da minha vida é perder meu filho. É isso que me faz acordar de noite suando frio. Eu não quero deixar de ter filhos (nem minhas amigas). Mas então, como se explica esse sentimento esquisito? Deixar de ter filhos: uma aspiração momentânea que também é o meu maior pavor diário. Eita.

No BBB, Fernanda falou isso do jeito dela: um pouco menos sem filtro. Ela tem vontade de jogar as crianças pela janela, mas não faz isso. Sabe que é um crime. E, além disso, não quer fazer, porque ama os filhos. Xuxa não gostou da frase e criticou, associando à violência contra as crianças. Gente, o único casal que de fato jogou uma criança pela janela é execrado pelo crime até hoje. Ninguém quer jogar crianças! É um modo de falar.

Verbalizar isso, em tom de brincadeira, é um escape para a dificuldade que temos de criá-los. Para o cansaço que sentimos. Para a impossibilidade de achar um tempo para si. Olhar aquela coisinha fofa que por acaso está chorando e pedindo chocolate às 11h45 nem sempre é fácil. Quando você trabalha em casa, então, é uma demanda dupla muito louca — falo isso de um lugar de privilégio, pois o progenitor da criança é o pai que considero ideal e participa ativamente da educação na teoria e prática.

Xuxa, seguramente, nunca teve que confeitar um bolo para entregar para o cliente suando enquanto Sasha puxava seu avental e derrubava granulado no chão. Xuxa é rica, tem uma rede de apoio gigante em uma mansão. Mesmo que tenha sido difícil ser mãe (é para todo mundo), ela não sofreu esse perrengue como a maioria das mulheres comuns. E, na regra da empatia, o lance é se colocar no lugar do outro, mesmo que o outro nunca tenha se parecido com você.

O fato de Fernanda mostrar seu lado vulnerável e passível de cancelamento (querer matar) e seu lado materno (não matar) a humaniza. Mas prova que sabe falar sobre o que sente e reconhecer suas fragilidades. No discurso, seguramente pega mais o fim da frase "quando não aguento mais, deixo fazerem o que quiserem". É expor essa culpa materna das lacunas em que é impossível continuar educando. Deveríamos estar 100% alertas ensinando o certo e errado? Sim. Mas acontece de sermos humanas. Às vezes a gente falha. Às vezes a gente fala. Às vezes a gente acolhe.

Não falaria como Fernanda (nem sou mãe solo), mas tem dias em que penso bem forte: era só ter usado camisinha. Mas aí vem um beijo de boa noite, uma pergunta de porque as nuvens desmancham na chuva, um pokemon colorido, um golpe novo no kung fu. Que bom que não usei aquela camisinha. Mas bem que eu devia ter usado.

Sigamos aceitando a dualidade de sensações da maternidade: dá vontade de matar? Às vezes. O importante é não matar nunca, combinado?

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Esse texto partiu de uma conversa com Lucas Vasconcellos, meu fiel trocador de ideias <3

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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