Flavia Guerra

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Opinião

Melhor filme e ator: 'A Sociedade da Neve' leva os Prêmios Platino 2024

"A Sociedade da Neve", de Juan Antonio Bayona, foi o grande vencedor dos Prêmios Platino 2024, com seis prêmios, incluindo os de Melhor Filme de Ficção, Melhor Direção e Melhor Ator para Enzo Vogrincic.

Confirmando o favoritismo, o filme, que reconta a história da tragédia do voo dos Andes nos anos 1970, pode ser visto como uma bela metáfora do que pretende justamente a premiação. Dirigido por um espanhol, representou a Espanha no Oscar de Melhor Filme Internacional 2024, sendo o único filme latino entre os indicados. "A Sociedade da Neve" tem elenco majoritariamente uruguaio, mas também argentino e equipe chilena, pois foi filmado também nos Andes chilenos, além de locações na Espanha.

"Este filme fala de como nós estamos, de certa forma, sozinhos, ou seja, só temos a nós mesmos, mas no sentido de que precisamos nos unir, trabalhar entre nós para que as coisas aconteçam. Vejo o filme em si e os Platinos também assim. É preciso que, nós, que fazemos o cinema ibero-americano, trabalhemos juntos, vejamos nossos filmes, incentivemos, divulguemos", comentou Bayona quando questionado sobre a importância de receber este prêmio, ao final de uma carreira de sucesso do filme, que encerra um ciclo importante também de sua carreira.

Longa que fez sua première mundial no Festival de Veneza em 2023, "A Sociedade da Neve" se revelou de fato uma bela surpresa. Em cartaz na Netflix, o filme não só refilma uma das histórias mais lendárias da América Latina contemporânea, que já havia ganhado versão anterior no cinema, como também faz isso de forma inovadora.

Não é exatamente reproduzir o acidente em si e nem explorar o caráter tétrico do acidente e de como os jovens sobreviveram tanto tempo até encontrarem ajuda, mas sim sobre como fizeram isso. O pacto de ética entre os sobreviventes ganha uma dimensão importante na história e revela que, mais que se unir para trabalhar junto, o pacto de colaboração e doação de cada um pelo bem comum é essencial para a sobrevivência. No caso do filme, um microcosmo muito específico, mas que pode e foi ampliado para a vida, principalmente pelo público jovem.

"O público jovem abracou o filme de uma forma muito especial. Creio que os jovens se encontram no mundo de forma que os personagens do filme se encontram em uma situação terrível que eles não provocaram. E só puderam sair dela ajudando uns aos outros. E penso que isso ressoa nos jovens de hoje, que enfrentam situações muito complicadas no mundo de hoje para seguir adiante. E acho que é por isso que o público jovem abracou o filme com tanto amor", completou o diretor a Splash.

O jovem que ganhou o coração do público de todo o mundo e também dos jurados do Platino, formado por profissionais de cinema de todos os países ibero-americanos, foi o uruguaio Enzo Vogrincic. Aos 31 anos, ele, que até então era desconhecido de grande parte do público mundial, tornou-se uma jovem estrela latina em ascensão e bateu nomes fortes e veteranos da disputa de Melhor Ator.

"Eu venho do Uruguai, um país pequeno, com poucas oportunidades e de um bairro que tem menos oportunidades ainda", declarou ele ao receber o prêmio. "Quando alguém te dá uma oportunidade, isso faz uma grande diferença", completou ele, que participou do Festival de Cinema de Gramado em 2022 com o filme "9", premiado no festival brasileiro.

"Adoro o Brasil, somos vizinhos e o público brasileiro me abraçou de uma forma muito linda. Ainda que seja uma história que parece muito específica, acho que qualquer um que vê este filme se apaixona e também fica meio obcecado com ela. E acho que a humanidade e o coração desta história é o segredo deste filme e também a direção de J. Bayona, que entende tudo de cinema e sabe como contar uma história", declarou Enzo a Splash.

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A Sociedade da Neve
A Sociedade da Neve Imagem: Netflix/Divulgação

Participação brasileira

Sempre presente desde a criação dos Prêmios Platino, há 11 anos, quando Sônia Braga foi a grande homenageada, o Brasil não foi finalista em nenhuma categoria da premiação neste ano, ainda que ótimos filmes tenham sido pré-finalistas.

A participação brasileira neste ano ficou por conta de Alice Braga e Gabriel Leone, que entregaram, respectivamente, os prêmios de Melhor Filme de Ficção, o principal da noite, e de Melhor Ator e Atriz em Minissérie ou Telessérie.

Sobre a importância de se manter presente, mesmo que apresentando prêmios e continuar trabalhando para que mais filmes brasileiros sejam vistos pelos países latino-americanos e Ibéria, Alice comentou ao Splash: "Me sinto muito honrada e acho que é muito importante o Brasil fazer parte porque somos parte, somos latinos e cada vez mais eu espero que a gente consiga fazer coproduções e fazer presença nesses eventos e mostrar nosso ponto de vista latino do mundo."

Questionada sobre a ausência de filmes brasileiros entre os finalistas e sobre como conseguir furar a bolha da barreira do idioma e conquistar mais o público e o mercado da América Latina, a atriz, que estrelou séries como "A Rainha do Sul", observou que "a gente consegue, mas há esta dificuldade de falar português, tem esta barreria, mas também passa pelo lado que precisamos mostrar que também somos latinos. A gente tem que tentar ter mais jurados brasileiros no Platino, fazer coproduções e nos fortalecer internamente como indústria."

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"A gente também tem que votar direito. Acabamos de passar por quatro anos de terror. A Argentina agora está passando por um terror, todos estes detalhes são muito importantes, mas, principalmente, coproduções e diálogos com os latinos, inclusive também assistir séries e cinema latino-americano. Estou aqui para isso, para trocar, encontrar gente. Tudo isso é importante", completou ela, que estrela a série "Matéria Escura", que entra em cartaz na AppleTV+ em oito de maio.

Já Gabriel Leone ponderou que é muito importante celebrar a cultura latina, mas que "lamento muito o fato de que hoje a gente só ter representantes brasileiros entregando prêmios ou coproduções internacionais."Na lista de pré-selecionados brasileiros tinham vários brasileiros que foram ficando pelo caminho. Acho que uma parte disso é interessante como autocrítica para a gente, pois o mercado brasileiro vem de um período muito ruim de pandemia, de guerra contra a cultura. Eu entendo que a gente está se reconstruindo, mas, ao mesmo tempo, acho que é um alerta que liga para a gente olhar e ver que nós, latinos brasileiros, não estamos aqui entre os finalistas", declarou o ator.

Gabriel, que atualmente passa uma temporada em Los Angeles, completou: "Então acho que vale uma reflexão nossa até para entender que do outro lado há a barreira da língua e cabe à gente, com toda potência de país e de cultura que a gente tem, se organizar para ter mais presença e mais força em premiações como um todo em grandes festivais, mas, principalmente em uma premiação latina como esta."

Ainda neste ano, o ator estreia a série "Senna", produção aguardada da Netflix e Gullane Filmes, que deve ter projeção internacional certa e estar presente nos Prêmios Platino 2025.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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