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OPINIÃO

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Cai um confederado, surge uma divindade africana

Colunista do UOL

10/02/2022 11h53

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Resumo da notícia

  • Estátua representa Iemanjá
  • Lugar da nova arte ainda mantém o nome do general confederado
  • Mudança de nome também está em andamento na cidade

Esse espaço tem noticiado nos últimos tempos as derrubadas de monumentos retratando racistas históricos. O EUA é um campo rico dessas estátuas, principalmente dos militares confederados, aqueles mesmos que lutavam pela manutenção da escravidão no país. Mas melhor que tirar essas peças de mau gosto, é substituir por uma com valores totalmente opostos.

Mami Wata de Simone Leigh - Reprodução - Reprodução
Mami Wata de Simone Leigh
Imagem: Reprodução

É o que acaba de acontecer em Nova Orleans. Onde um dia foi a morada da homenagem ao general Robert E. Lee, agora reside uma representação de uma divindade africana. A obra chamada Sentinel (Mami Wata) foi realizada pela artista negra Simone Leigh, representante dos EUA na Bienal de Veneza desse ano. Pela cara dela em sua conta do Instagram dá pra ter uma noção da felicidade da conquista.

A instalação fez parte do encerramento da trienal Prospect New Orleans, de curadoria de Naima J. Keith e Diana Nawi. Em um comunicado oficial, os curadores disseram que o monumento a Robert E. Lee era uma presença ameaçadora da supremacia branca que pairava sobre a cidade e essa instalação é uma rejeição desse simbolismo.

A escultura de Leigh representa Mami Wata, uma corruptela de Mãe Água em inglês. Mami Wata é uma divindade que tem outros nomes pelo continente. No Brasil, Mami Wata é Iemanjá. A invocação de uma divindade da água é especialmente adequada em uma cidade onde o aumento do nível do mar representa uma ameaça existencial. E um monumento a uma deusa negra em uma cidade onde quase 60% da população é descendente de africanos tem muito mais representatividade do que um general que defendia a escravidão.

O próximo passo agora é renomear a área onde está Mami Wata, que ainda carrega o nome de Lee. Uma decisão que já passou pelo conselho da cidade de Nova Orleans, que recomendou a mudança do nome para Égalité Circle em reconhecimento aos laços linguísticos da cidade com o francês e o crioulo haitiano.