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Arte Fora do Museu

OPINIÃO

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O mais novo escultor italiano é um robô

Demonstração virtual de máquina da Robotor operando - Reprodução
Demonstração virtual de máquina da Robotor operando Imagem: Reprodução

Felipe Lavignatti

Colunista do UOL

14/07/2021 16h05

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Resumo da notícia

  • Robotor realiza esculturas com precisão e de forma rápida
  • Empresa fica em Carrara, famosa por seu mármore
  • Artistas têm comprado o serviço da Robotor

Há poucas semanas, em uma conversa com a gente, o curador Marcello Dantas falava da possibilidade da criação artística das máquinas. Que o homem deveria reivindicar seu espaço na criação. O que parece cenário de ficção não está muito longe da realidade. Inclusive, na Itália, terra dos grandes renascentistas, o mais novo talento em esculturas atende pelo nome de ABB2, um robô.

O artista italiano é um braço robótico de liga de zinco de quase 4 metros com um pulso giratório e dedo revestido de diamante. Sabe a precisão de uma máquina? ABB2 é uma e aplica isso em esculturas. Ele é só um dos robôs da empresa Robotor, situada em Carrara. A iniciativa da empresa tenta retomar os dias de glória do uso de mármore, grande símbolo da cidade, que deixou de ser associado com esculturas e passou a ser mais popular como piso de banheiro.

A Robotor está trazendo de volta o uso do mármore de Carrara para o universo das artes. Michelangelo era frequentador da cidade em busca de material para suas esculturas. O uso no meio das artes foi deixado de lado justamente pela dificuldade e o tempo para se esculpir nesse tipo de pedra, o que afasta muitos artistas. Mas um robô faz o mesmo serviço de uma maneira mais rápida. Um trabalho que levaria meses ou até mesmo anos é feito por um dos artistas da Robotor em questão de dias.

Nem sempre os trabalhos de ABB2 ou dos outros artistas robôs da empresa recebem o crédito. Muitos dos clientes são artistas que contratam os serviços dos braços precisos desses escultores tecnológicos - claro, exigindo que a identidade não seja revelada. Ou seja, você pode estar vendo uma nova escultura em algum museu ou praça pública que foi feita (quase) totalmente por um robô e assinada por um humano.

Tudo bem, não precisa se sentir enganado. Há muito tempo que as artes usam esse recurso. De Leonardo da Vinci a Banksy, vários artistas trabalham com assistentes que fazem boa parte do trabalho sujo (de tinta). A assinatura acaba sendo do artista, mas a realização passa por mais mãos. E não há problema em uma dessas mãos ser um braço com potência de esculpir nas mais duras pedras em muito menos tempos e com mais precisão. E cada criação dali começa antes na cabeça de um homem, que programa os robôs para realizarem seus projetos. É um trabalho humano, afinal. Por enquanto.