Arte Fora do Museu

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Reportagem

A história da primeira escultura pública de Porto Alegre

Recentemente, na ocasião do aniversário de São Paulo, contamos a história do primeiro monumento público da cidade, de 1814. Meio século depois, Porto Alegre dava início à sua história com a arte urbana e a inauguração de cinco esculturas em um chafariz público.

Batizada de Guaíba e Afluentes, a obra foi instalada na Praça da Matriz em 1867, onde permaneceu até 1907, quando teve que ceder espaço para a construção do monumento a Júlio de Castilhos - que segue lá até hoje. Guaíba e Afluentes foi então desmontada e levada para um depósito da prefeitura. Em 1924, um marmorista comprou as peças para dois propósitos: reduzi-las a pó de mármore ou usar as que estivessem em bom estado em algum mausoléu da cidade. Foi quando uma campanha foi lançada na imprensa local e conseguiram salvar o monumento.

Guaíba e Afluentes na Praça Dom Sebastião em Porto Alegre
Guaíba e Afluentes na Praça Dom Sebastião em Porto Alegre Imagem: Ricardo André Frantz/CC

Faltava colocá-lo de volta no espaço público. Em 1935, pelas celebrações do centenário da Revolução Farroupilha, a Praça Dom Sebastião foi reurbanizada e recebeu Guaíba e Afluentes no ano seguinte. Agora, no entanto, eram somente quatro estátuas, não as cinco originais instaladas em 1867. Até hoje não se sabe o paradeiro da escultura que sumiu. A relativa paz durou até 1983, quando foram novamente para um depósito da prefeitura. Em 1996, após uma reforma na praça, a obra voltou, agora protegida por uma cerca.

Em 2014, finalmente, após anos de abandono, vandalismo e ação do tempo, as estátuas foram restauradas e instaladas no seu local atual, os jardins da Hidráulica Moinhos de Vento do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae).

Para além da estátua perdida, há outras perguntas sem respostas sobre a obra. A principal é quem esculpiu o primeiro monumento público de Porto Alegre? O que se sabe é que foi uma encomenda da companhia hidráulica da cidade feita em 1866. A fonte - com suas esculturas de ornamento - seria uma das oito primeiras inauguradas na cidade para disponibilizar água potável para a população. Muitas a chamavam de Chafariz do Imperador.

Foi somente em 1958 que o crítico de arte Aldo Albino, neto do italiano José Obino, publicou na imprensa uma matéria dizendo que seu avô era o autor da peça anônima. Até hoje é o nome atribuído como autor do monumento, apesar de não haver nenhum documento provando isso. Há outro indício que aponta para outro nome, o de Camillo Formilli. Em uma análise da obra ainda em 1924 foi identificada parte de uma assinatura no remo de um dos Netunos, já quebrado, lida como "... ormilli fecit". A palavra cortada seria justamente o sobrenome de Formilli assinando a obra. Camillo era escultor, ao contrário de José, que não era artista, porém possuía uma oficina de marmoraria.

Realizada com mármore de Carrara, são duas esculturas de ninfas, representando os rios Caí e Sinos. Os dois netunos representam os rios Jacuí e Gravataí. A quinta escultura, representando o Guaíba e desaparecida há 100 anos, era a de uma figura de um jovem inspirada na imagem da Liberdade. Guaíba e Afluentes ainda leva esse nome, apesar de restarem apenas as representações dos quatro afluentes.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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