Topo

Pandemia impulsionou maus-tratos como o retratado pelo Livre Acesso

Colaboração para MOV, de São Paulo

12/12/2020 04h00

livre acesso - Reprodução - Reprodução
Cachorros em cena do programa Livre Acesso
Imagem: Reprodução

O último episódio do programa Livre Acesso, protagonizado pela ativista Luisa Mell, retrata uma situação complexa em que uma denúncia de maus-tratos contra cães e gatos é checada pela ativista e pela polícia. O ambiente insalubre em que animais são encontrados coloca em risco a saúde deles e dos vizinhos. O reality você pode assistir clicando aqui.

Em 2020, a pandemia foi responsável por impulsionar o crescimento do número de maus-tratos contra animais. Segundo dados da agência Fiquem Sabendo, a Depa (Delegacia Eletrônica de Proteção Animal) registrou um aumento de 81,5% nas denúncias de violência contra animais no estado de São Paulo entre os meses de janeiro a julho deste ano. A comparação foi feita em relação ao mesmo período de 2019.

Nos primeiros sete meses de 2020, a delegacia recebeu 12.581 queixas. Esse número já supera o que foi protocolado no ano passado inteiro, quando foram ouvidas 12.065 denúncias. Só no estado paulista foram cerca de 60 denúncias por dia.

"No começo da pandemia, tivemos um 'boom' no abandono, não só no Brasil, mas no mundo inteiro", afirma Natalia de Souza Albuquerque, doutora em comportamento animal e pesquisadora do Instituto de Psicologia da USP. "Isso se deu principalmente pela divulgação equivocada de muitas informações erradas e precipitadas em relação à possibilidade de cães e gatos serem agentes transmissores da covid-19".

O aumento dos índices de abandono está diretamente ligado ao crescimento dos maus-tratos, explica Albuquerque. "Se há maior número de animais abandonados, há maior número de animais vivendo em situação de rua. Portanto, um maior número de animais estaria passível de sofrer maus-tratos."

Em 2019, uma pesquisa realizada pelo Ibope com 2 mil pessoas apontou que 92% dos brasileiros já presenciaram maus-tratos contra animais, mas que somente 17% chegaram a denunciar os atos.

Apesar da impossibilidade de atribuir uma única resposta para esclarecer os motivos que levam as pessoas a maltratarem os bichos, Albuquerque diz que "dentro da psicologia (de uma forma muito geral), tem três explicações, que eu acho que são complementares. Uma delas seria a falta de conhecimento sobre os animais, a outra seria uma falta de empatia (ou de capacidade de atribuição de estados mentais a outros animais), e a última seria uma falta de compaixão —que seria, do ponto de vista mais filosófico talvez, a partir do conhecimento e da empatia, uma atitude positiva para com os outros animais ou a tomada de atitudes que são permeadas por respeito e pela tentativa ou pelo esforço de manutenção da integridade física e psicológica dos outros indivíduos".

livre acesso - Reprodução - Reprodução
Cena do programa Livre Acesso
Imagem: Reprodução

LIVRE ACESSO

No programa, Luisa Mell, o delegado Bruno Marcello de Lima e suas equipes chegam a uma casa repleta de cães e gatos vivendo entre sujeira, ossadas, fezes e ração. Lima conta que as denúncias geralmente chegam a ele via redes sociais.

Segundo o delegado, o boletim de ocorrência para esse tipo de denúncia é realizado após uma breve apuração do caso pelo assessor dele na região, que checa se a acusação procede.

"Nós fazemos o boletim de ocorrência junto com a denunciante antes de averiguar a denúncia. Nesse caso [retratado pelo Livre Acesso] estava muito evidente, porque dava para sentir o cheiro da rua. O assessor conseguiu avistar pelo vizinho que se tratava de situação de maus-tratos. Foi quando acionamos a delegacia, pedimos o apoio policial, e foi feita toda a ocorrência", afirma Lima.

Essa não foi a primeira vez que o programa mostrou Luisa Mell indo ao resgate dos bichos. No quarto episódio da primeira temporada, a ativista resgatou 13 animais que haviam sido abandonados em uma casa.

NOVA LEI PREVÊ PUNIÇÃO MAIS GRAVE

Em 29 de setembro, foi sancionada a lei 1.095/2019, que endurece a punição para quem praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais. Ela altera o artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais de 1998.

Antes, a pena prevista era de multa e três meses a um ano de reclusão. Com a nova legislação, a pena agora prevê de dois a cinco anos de prisão, proibição de guarda de novos bichos e multa.

Para o delegado Bruno, embora a severidade da lei possa desestimular maus-tratos, ainda faltam muitas políticas públicas no Brasil para garantir a segurança dos animais. Ele afirma que ONGs como o Instituto Luisa Mell acabando assumindo o papel do poder público.

"Não basta a gente ter tido um enrijecimento da legislação, com a previsão agora de dar cadeia para maus-tratos. Nós precisamos de clínicas veterinárias parceiras, precisamos que o governo subsidie o atendimento dos protetores que fazem esses resgates. São várias políticas públicas inclusive voltadas para a educação. Só previsão de cadeia para maus-tratos não é suficiente."

FOGO, RESGATES E ADOÇÕES

A segunda temporada do Livre Acesso —que você pode assistir na íntegra clicando aqui— retomou temas já exibidos na primeira temporada, de 2019, mas revelou uma situação ainda mais complexa vivida por Luisa Mell e também pelos animais resgatados. Os oito episódios da segunda temporada do Livre Acesso compuseram um retrato de algumas das questões mais estiveram em evidência quando o assunto é resgate de animais.

Desde os dois primeiros episódios, em que Luisa Mell viajou ao Pantanal onde testemunhou a destruição do bioma e dos animais, passando pelas dificuldades enfrentadas no seu instituto, com abrigos lotados, animais devolvidos e a falta de adoções em razão da pandemia, até a denúncia que vira caso de polícia.

livre acesso - Reprodução - Reprodução
Luisa Mell no Pantanal em segunda temporada do Livre Acesso
Imagem: Reprodução

Saiba mais sobre os episódios da segunda temporada do Livre Acesso:

Episódio 1 - Luisa Mell chega ao Pantanal para ajudar no resgate de animais

O primeiro episódio da segunda temporada segue Luisa Mell até o epicentro do fogo que devastou mais de um quarto do Pantanal. Lá, ela presencia fogo, fumaça, sede, fome e morte, mas também encontra pessoas que trabalham incansavelmente para conter as chamas.

Episódio 2 - Pantanal: Luisa Mell se espanta com situação dos animais e acompanha resgates

Retrato dos últimos dias da saga da ativista no bioma. O programa mostra a seca alarmante do Pantanal, o descaso com a morte de animais selvagens e a fome cinzenta.

Episódio 3 - Adoção de animais resgatados: Luisa Mell se preocupa com crise em instituto e abrigos lotados

O programa mostra o que a ativista encontra ao voltar do Pantanal: o Instituto Luisa Mell lotado de animais. Como resgates, adoções e eventos entraram em suspenso desde o início da quarentena, os pedidos de ajuda para bichos em situação vulnerável se acumularam.

Episódio 4 - Luisa Mell chama polícia para acabar com festa de vizinhos antes de evento de adoção online

Luisa Mell tem a ideia de fazer uma live para promover a adoção dos bichos do Instituto. O projeto toma forma com a confirmação da participação de famosos. No dia, uma festa na vizinhança ameaça todo o planejamento e a ativista chama a polícia.

Episódio 5 - Cadelinha Laka é devolvida por adotantes, mas ganha novo lar

A saga da cadela Laka, que foi adotada em 2019, mas, no meio da pandemia, foi devolvida. O Instituto Luisa Mell encontra um novo lar para Laka e a ativista vai visitá-la.

Episódio 6 - Animais idosos merecem uma chance: como a adoção de cães adultos pode transformar famílias

No programa, Luisa Mell visita as idosas Sassa e Maria em suas novas casas e conta como é a adoção de cães idosos. Ignorados em campanhas, cachorros mais velhos podem passar o resto de suas vidas em abrigos. O episódio mostra duas exceções.

Episódio 7 - 10 anos preso e isolado: o reencontro na nova vida feliz do chimpanzé Black

A história de Black, um chimpanzé que foi transferido de um zoológico a um santuário após uma ação judicial.