Uma das maneiras de saber se algo funciona é medir seu "quociente de ruído". Se você entra e sai de um lugar com relativa facilidade, no horário, com conforto, sem percalços — e se esses detalhes operacionais fazem diferença para você —, vai chegar à conclusão de que sim, funciona.

Foi esse o saldo após uma semana navegando pelo Mediterrâneo com o MSC Grandiosa, que já está no Brasil para a temporada de verão e deve lançar âncora entre São Paulo, Rio e o Nordeste brasileiro a partir de 26 de novembro. É o maior cruzeiro da história a navegar em águas nacionais.

De cara, impressionou saber que havia mais de 6.300 passageiros no Grandiosa em setembro, diariamente comendo, relaxando na piscina e no bar, desembarcando, voltando ao navio para jantar e dormir, e que pouca coisa saiu do script ao longo dos 8 dias e 7 noites do passeio.

Pudera: cerca de 1.700 tripulantes trabalhavam na redução de ruído citada acima. Foi minha primeira experiência num cruzeiro, e fazer essa roda girar pareceu fundamental a uma neófita.

Os serviços são eficientes, quer se esteja num corredor de acesso às cabines ou perdida dentro do cassino, tentando entender as máquinas; há limpeza constante das áreas comuns e acomodações, sem que se note muito o vaivém. O restaurante principal opera quase sem pausa.

Piscinas, spa, elevadores, bares, salões de jogos: no hotel flutuante de 19 andares que carrega uma pequena cidade consigo, a sensação é de que há sempre alguém olhando por você (sem que você se sinta invadido).

Mesmo tentando memorizar os lugares essenciais do navio — piscinas, spa, restaurantes, bares, a própria cama — , dá para se perder muito no começo.

Mariana Pires Vieira, de 41 anos, fazia sua quarta viagem de cruzeiro e também demorou até se localizar no MSC Grandiosa. Nada que tenha comprometido a viagem da nutricionista — um presente de aniversário oferecido pelos pais. A família é do interior de São Paulo.

"Eles vieram comigo porque algumas das cidades dessa rota a gente ainda não conhecia. Viajar em cruzeiro é muito prático", disse ela, e completa:

De que outra maneira faríamos isso de avião, eu e duas pessoas mais velhas? Às vezes, tudo que se quer é não arrastar mala, nem se preocupar com deslocamento"

A saída principal ocorre em Barcelona. Às 18h de uma terça-feira, a embarcação navegou cerca de 38 horas rumo a Túnis (Tunísia, na costa africana) e, em paradas diárias, atracou em Palermo, Gênova e Nápoles, na Itália, e em Marselha (França), voltando a Barcelona ao final de uma semana.

Mariana também desconfiou que, certas noites, o navio mal saía do lugar, de tão tranquilas que estavam as águas. Ponto para o verão europeu que, em sua inclemência — o de 2023 já entrou para a história como o mais quente já registrado no Hemisfério Norte —, permitiu naquele período dias de sol e nada de chuva.

Como era fim de férias escolares e o navio fez três paradas no sul da Itália, o MSC Grandiosa parecia às vezes uma esquete que misturava "Terra Nostra" aos romances de Elena Ferrante.

Famílias italianas completas — "nonnas", adolescentes vermelhos de sol e crianças em carrinhos de passeio — conversavam em dialeto pelos corredores e, certas noites, cantavam sucessos napolitanos junto ao pianista, próximo aos bares do 6º andar.

O clima divertiu a analista de compliance Marília Sances Ferreira, de 36 anos, que saiu de Poços de Caldas (MG) para voar até Barcelona com o namorado. Juntos, embarcaram no MSC Grandiosa.

Seu primeiro cruzeiro foi só curtição. Quis visitar o máximo de restaurantes dentro do navio, e preferiu o L'Atelier Bistrot. Marília amou rodar por Túnis, Sidi Bou Said e Cartago, e escolheu como ponto alto da viagem a parada para o almoço (uma das opções oferecidas pela MSC), em que provou cuscuz e um pastel com recheio de grão-de-bico.

Outro acerto foi Gênova: o casal desembarcou logo cedo para, de Uber, conhecer Boccadasse, prainha de pedra a 20 minutos do centro da cidade.

Chamou atenção ainda o cuidado com acessibilidade e a simpatia dos atendentes. Agora, a piscina não deu para pegar. A principal, que atende todas as categorias de hospedagem, esteve lotada durante todo o passeio. O jeito foi fazer a Safari Pool e o ofurô, ambos na parte coberta.

O verão europeu desta temporada antecipa o que os viajantes do MSC Grandiosa vão enfrentar no Brasil — calor e necessidade de sombra, vento e água.

Quando chover ou o navio estiver em alto-mar — e isso deve acontecer algumas vezes, já que em um dos roteiros há uma "perna" de dois dias, entre Maceió e Santos —, espaços de entretenimento e a piscina descoberta devem continuar disputadíssimos.

Foi o que aconteceu na perna mais longa da travessia, de Barcelona ao porto La Goulette, em Túnis. A muvuca em torno dos jogos eletrônicos, simuladores, cinema 3D e boliche dava bem a medida.

Por isso, se o bolso permitir, e se piscina de cruzeiro fizer sua cabeça, tente uma categoria de hospedagem que lhe dê acesso às áreas exclusivas, em geral mais vazias.

Há um Solarium de uso comum no 7º, mas o Top 19, no 19º andar, atende a faixa de hóspedes Aurea (ou acima), que também têm direito a acessar o Aurea Spa.

Além do espaço de relaxamento, com cinco saunas e banhos — faça a escandinava e viva um momento zen —, acessa-se o Wild Forest, parque aquático com três toboáguas. Mimo extra de ser Aurea: receber na cabine, todos os dias, uma cesta de frutas frescas.

A experiência mais luxuosa do MSC Grandiosa rola do 17º andar para cima, na proa do navio. As suítes dos clientes Yacht Club, modalidade que aparece em outros navios da marca, têm direito a mordomo 24h, além de elevador, bar, restaurante, piscina e lounge privativos.

Fãs de cruzeiros até avisam antes, mas nada prepara o estreante para a animação com que o público embarcado participa das festas do navio. A grande maioria vai mesmo a caráter e faz selfie a valer nas escadarias cravadas de cristais Swarovski do Atrium, que conecta os 5º, 6º e 7º andares.

Em geral, o público faz uma hora próximo aos bares, bebericando champanhe. Tira fotos, depois confere os shows no Carousel Lounge e no Théâtre La Comédie e sai direto para a pista.

Ruidosos nos espaços voltados aos videogames, ao boliche e ao cinema interativo, adolescentes e jovens se mexiam de forma meio aborrecida na batida da pick-up, nas noites festivas ao redor da piscina.

Curiosamente, mas nem tanto, pareciam mais tímidos que seus pais, tios e avós, que se jogaram sem medo nas Festa do Branco, Retrô e na Noite de Gala. A boa e velha malemolência brasileira, contudo, promete levar todo mundo para o fervo na temporada de verão do Grandiosa por aqui.

* A repórter viajou a convite da MSC Cruzeiros.