Topo

Festas e restaurantes clandestinos: franceses burlam toque de recolher

Restaurante aberto clandestinamente em Nice; dono foi preso em seguida - ERIC GAILLARD/ REUTERS
Restaurante aberto clandestinamente em Nice; dono foi preso em seguida Imagem: ERIC GAILLARD/ REUTERS

01/02/2021 17h59

Uma das principais consequências do toque de recolher em vigor na França entre 18h e 6h foi o fim dos programas de final de dia para a população. Os jantares em restaurantes já haviam sido suspensos com o segundo lockdown, instaurado em outubro. Mas as medidas não impedem alguns os adeptos das baladas noturnas. Além de festas clandestinas, a polícia tem descoberto cada vez mais restaurantes que funcionam apesar das restrições impostas pelo governo e do risco de serem multados.

Se no início da pandemia a imprensa francesa noticiava principalmente festas clandestinas em locais abandonados, como as raves dos anos 1990, desde que o toque de recolher passou a entrar em vigor às 18h, impedindo qualquer tipo de happy hour, é cada vez mais frequente casos de restaurantes que funcionam clandestinamente, ou comerciantes que se revoltam e abrem suas portas como se não houvesse pandemia.

Alguns donos de restaurante se rebelaram nesta segunda-feira (1°) contra as medidas sanitárias impostas na França e reabriram seus estabelecimentos. Em 27 de janeiro, um proprietário de restaurante de Nice (sudeste) afrontou a medida que proíbe servir comida no interior dos estabelecimentos e serviu 100 pessoas na hora do almoço, o que o levou à delegacia.

Essas reaberturas são simbólicas, e os comerciantes servem comida apenas um dia para mostrar que se sentem lesados pelas restrições impostas pelo governo, mesmo se recebem um auxílio do Estado para enfrentar o contexto sanitário.

Os restaurantes e outros negócios obrigados a fechar pela pandemia podem optar por ajudas de ? 10 mil (R$ 65 mil) por mês ou uma indenização de 20% de sua renda, com um máximo de ? 200 mil mensais. Mas muitos consideram que o dispositivo não é suficiente. O ministro francês da Economia, Bruno Le Maire, avisou que que os comerciantes que infringissem as restrições seriam sancionados, com o corte dessas ajudas.

Mas além dos que reabrem suas portas como um ato militante, é cada vez maior o número de casos de comerciantes que preferem a clandestinidade. A polícia surpreendeu na madrugada desta segunda-feira (1°) dezenas de pessoas que participavam de uma festa em um restaurante em Gentilly, na periferia de Paris. As autoridades desconfiaram que o local funcionava apesar das restrições ao notarem que vários carros estacionavam e deixavam passageiros no local.

Mesmo se estavam reunidos ilegalmente, os participantes da celebração clandestina, que não usavam máscaras de proteção, reagiram com violência, atirando copos e garrafas nos policiais. Um agente chegou a ficar ferido. Resultado: mais de 130 sanções foram aplicadas.

O ministro da Economia garante que esses restaurantes "clandestinos" são "casos isolados" e que esses episódios são criticados por vários donos de restaurantes. Mas semana passada, em apenas dois dias a polícia de Paris fechou 24 restaurantes "clandestinos" que trabalhavam com as cortinas fechadas.

Juízes almoçavam em restaurante que funcionava ilegalmente

Na sexta (29), uma patrulha da polícia da capital multou dez juízes que comiam em pé em um restaurante durante o dia (algo que também é proibido, já que apenas os serviços de take away estão autorizados).

O mais impressionante deste caso é que o estabelecimento fica em frente ao quartel da polícia da capital. Os donos do restaurante alegaram que os clientes estavam apenas se protegendo da chuva enquanto esperavam suas encomendas. Mesmo assim, o local teve seu fechamento decretado durante 15 dias.

Multados no supermercado

O toque de recolher também tem criado situações inusitadas. Como os estabelecimentos comerciais fecham suas portas às 18h, a partir da 17h começam a se formar filas nos supermercados e padarias.

Neste fim de semana, a polícia multou vários clientes que aguardavam para passar no caixa de um supermercado em Paris às 18h06. Segundo a imprensa francesa, o gerente do estabelecimento já tinha sido alertado várias vezes e deveria ter impedido que os consumidores entrassem nos minutos que antecedem o fim do expediente.

Indignados e reclamando da "falta de tolerância", alguns clientes postaram mensagens nas redes sociais contando a história. "Agora na França somos multados porque não ultrapassamos 6 minutos de uma droga de toque de recolher. Será que estamos vivendo nossas últimas horas de liberdade?", se questiona um dos clientes.

O desrespeito do toque de recolher é punido com uma multa de ? 135 (quase R$ 900).