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Espresso Martini, drinque com vodca e café, ganha o coração dos brasileiros

Espresso Martini, do Watanabe: drinque está em alta no Brasil - Israel Pinheiro
Espresso Martini, do Watanabe: drinque está em alta no Brasil
Imagem: Israel Pinheiro

Sergio Crusco

Colaboração para Nossa

21/07/2023 04h00

Certa noite em Londres, uma garota bonita, provavelmente modelo, pediu um coquetel que a deixasse acordada e doidinha ao mesmo tempo (num linguajar não exatemente elegante: "a cocktail that would wake me up and then fuck me up"). Nascia a Vodka Espresso, mais tarde rebatizada como Espresso Martini.

Dick Bradsell, então bartender no Soho Brasserie, misturou uma dose de vodca, outra de café, um pouco de xarope de açúcar e serviu à moça. O efeito desejado, de tapa na pantera, levou com que outros clientes se interessassem pela mistura, que não constava na carta do bar. Uns dizem que o fato aconteceu em 1983. Outros, em 1985.

A imprecisão dos dados — o nome da bonita e o ano exato da criação do coquetel — não impediu que a mistura de vodca, café e xarope (o licor de café entraria mais tarde) corresse o mundo. Bradsell morreu em 2016, levando para a tumba maiores detalhes da história.

Até hoje, porém, a cafeína do Espresso Martini é pá-pum para quem quer dar um up com categoria, sem recorrer ao energético misturado a qualquer outra coisa. Fica mais fino.

Espresso Martini é bastante pedido em dois momentos: por quem quer dar uma levantada no início da noite ou por quem quer algo digestivo no final de um jantar ou de uma rodada de drinques", diz o bartender Gabriel Santana, proprietário do Santana Bar, em São Paulo.

Espresso Martini, do Santana Bar - Divulgação - Divulgação
Espresso Martini, do Santana Bar
Imagem: Divulgação

Nova onda do Espresso Martini no Brasil

Gabriel achou estranha a ausência do coquetel quando voltou Brasil, no final dos anos 2010, após longa temporada atuando em bares na Suíça e nos Estados Unidos. Desde sua invenção, o Espresso Martini sempre teve alta rotatividade no Hemisfério Norte — hoje é o sétimo drinque mais pedido do mundo, segundo levantamento da revista "Drinks International".

Mas a coisa tem mudado e, pelas beiradas, a mescla de café, vodca e licor vem ganhando adeptos ao sul do Equador. Quando assumiu o bar do restaurante Watanabe, em São Paulo, a bartender Marcinha Martins não se preocupou em listar o Espresso Martini em sua carta. Mas os pedidos começaram a chover espontaneamente, sobretudo no fim das refeições.

Espertamente, Marcinha vem trabalhando em variações da receita, como o Watanabe Espresso, finalizado com um pouco de missô desidratado sobre a densa espuma formada pelos óleos do café no coquetel. O novo ingrediente, ela explica, enriquece a bebida com um contrastante toque salino.

Vodca de volta

Sobre a repentina popularidade do Espresso em São Paulo, a bartender acredita não haver mistério.

A indústria quer recuperar a popularidade da vodca, que foi rainha nos anos 80 e 90. Quando comecei no bar, tudo era vodca: Cosmopolitan, Sex on the Beach e as Caipiroscas. O gim tomou conta a partir dos anos 2000, mas hoje as vendas de vodca começam a subir novamente", diz.

Maquininha de Espresso Martini da Ketel One  - Divulgação - Divulgação
Maquininha de Espresso Martini da Ketel One
Imagem: Divulgação

Ketel One, do poderoso conglomerado de bedidas Diageo, é uma das marcas que tem investido pesado nessa visibilidade. A vodca holandesa é o destilado base do mais recente campeonato World Class, um dos prêmios mais importantes de coquetelaria do planeta.

Para impulsionar o coquetel com café, especificamente, a Ketel One lançou maquininhas de Espresso Martini, tipo chopeiras, que prometem entregar o drinque em 20 segundos. De acordo com o braço brasileiro da empresa, ainda não há planos de trazer o Martini mais expresso do mundo para cá.

Café em alta entre bartenders e clientes

Gabriel encontra outros motivos para o renascimento do Espresso Martini no Brasil. "O café ganhou o coração dos bartenders", diz.

Rodada de Espresso Martini do El Barón, na cidade colombiana de Cartagena - Divulgação - Divulgação
Rodada de Espresso Martini do El Barón, na cidade colombiana de Cartagena
Imagem: Divulgação

Juan Díaz, proprietário do El Barón, na cidade colombiana de Cartagena, também atesta o crescimento do Espresso Martini em seu estabelecimento, o 66º colocado na mais recente lista global 50 Best Bars. A cada dois dias, são preparados 7 litros de cold brew (prensagem a frio do café) para o preparo da receita.

O empresário acredita que o interesse por drinques com café venha do melhor conhecimento por parte do consumidor sobre o ingrediente — fenômeno idêntico ao que ocorre no Brasil. "Até alguns anos, a Colômbia exportava seu melhor café e sobrava para nós o de pior qualidade. Hoje o cenário mudou e há muito interesse por cafés especiais, cultivados por pequenos produtores", diz.

Espresso Martini e suas variações

Um Espresso Martini clássico, segundo a receita de Dick Bradsell, é composto por: 60 ml de vodca, 30 ml de café espresso fresco, 15 ml de licor de café e 7,5 ml de xarope de açúcar.

Espresso Martini, do Virô Bistrô - Divulgação - Divulgação
Espresso Martini, do Virô Bistrô
Imagem: Divulgação

Além de ter uma vodca de qualidade (estamos falando do mundo ideal), a escolha do café pode influenciar e muito o resultado do coquetel. A torra pode variar de média a intensa, mas é importante que seja fresco, extraído imadiatamente antes do preparo do drinque, para evitar sua oxidação.

A extração bacana é feita na máquina de espresso, mas é possível conseguir bons resultados com o café coado forte, com aquele feito na cafeteira italiana ou com cold brew. Essencialmente, o café deve ter corpo, pois são seus óleos que formam a desejada, aerada e sedosa espuma do Espresso Martini. E a espumona é tudo nesse drinque.

Como em tudo o que se refere à palavra Martini, a discussão sobre o Espresso perfeito pode gerar rusgas entre bartenders e cocktail geeks. Contrariando as proporções de Bradsell, o pai da criança, há quem demonize o uso de xarope de açúcar, uma vez que o licor de café já seria o agente de dulçor da receita.

"Prefiro não usar o xarope, mas não vejo mal em acrescentá-lo, caso o cliente goste de algo mais doce. Brasileiro tem mesmo esse paladar adocicado, que chamamos de amabile", contemporiza Marcinha Martins.

Gabriel Santana também dispensa o xarope e acentua a presença do café em sua receita: 50 ml de vodca, 50 ml de café e 20 ml de licor de café preparado na casa. O resultado é de amargor potente e muita cremosidade.

Espresso Martini, do Watanabe  - Israel Pinheiro - Israel Pinheiro
Espresso Martini, do Watanabe
Imagem: Israel Pinheiro

Portanto, não é preciso dar bola a quem mete o bedelho no dulçor (ou na falta dele) do seu coquetel. Use seu xarope numa boa, dispense-o ou intensifique a dose de licor ou de café, de acordo com seu paladar. Há crimes muito piores do que alterar as proporções de um coquetel.

Quanto ao licor, os bartenders indicam marcas como o italiano Tia Maria, os mexicanos Kalhúa, Patrón XO e Herencia de Plata (os dois últimos à base de tequila), o irlandês Sheridan's (aquele que tem dois lados, branco e preto, mas use só a parte escura) ou os brasileiros Schluck e Gouveia Brasil (à base de cachaça).

Invente seu Espresso Martini

Acabou a vodca? O Espresso Martini permite infinitas variações com várias famílias de destilados. Gabriel aposta em bebidas amadeiradas como bourbon, rum envelhecido, uísque escocês defumado ou uma boa cachaça com passagem por amburana, que trará notas de canela ao preparo. Marcinha diz que o rum com especiarias é par perfeito para o Espresso.

Juan Díaz gosta da variação com mezcal, destilado de agave mexicano de forte caráter defumado. Outra versão frequente é feita com grappa, destilado de uvas italiano de perfil bem aromático. E se destilado de uva já deu certo na Itália, você pode testar com pisco ou diversos estilos de conhaques e brandies. Fuce o bar e recrie o drinque da moda.