Biscoito ou bolacha: eis a questão. Descubra o que está por trás desta rixa
Biscoito ou bolacha não é só uma das muitas rixas culinárias entre fluminenses e paulistas. Apesar de essas palavras serem sinônimos na língua portuguesa, há, sim, como diferenciá-las.
"Etimologicamente, temos que o biscoito é um alimento assado duas vezes e a bolacha é uma massa assada apenas uma vez. Se analisarmos a maioria dos biscoitos que conhecemos atualmente, eles se encaixam melhor na palavra bolacha", diz Lu Bonometti, da Casa Bonometti, autora do livro "Biscoito ou Bolacha?" (Editora Alaúde).
O que justifica então que existam torcidas por um e por outro termo? Para Andrea e Daniela Etchenique, sócias-proprietárias da BEIK Confeitaria, a regionalidade. "Nos referimos, comumente, ao mesmo produto quando falamos de biscoitos e bolachas: um produto feito com algum tipo de farinha, que pode ser doce ou não", comenta Andrea.
São Paulo, Goiás, Tocantins e Santa Catarina preferem o nome bolacha. Em contrapartida, o Rio de Janeiro e parte do Nordeste já apostam mais em biscoito. E no meio disso tudo está Minas Gerais, que adotou as duas nomenclaturas.
Quem nasceu primeiro?
Sem dúvidas, foi o biscoito que chegou antes da bolacha. "No passado, os homens consumiam os grãos de trigo e outros cereais crus. A história conta que, um dia, ao sobrar grãos moídos, a pasta se misturou com um pouco de água e, em seguida, foi colocada no fogo para secar. Esta foi a primeira variação de biscoito, sem forma definida ainda", compartilha Guilherme Carillo, sócio da Padaria Carillo.
Além disso, na própria língua portuguesa, o biscoito surgiu primeiro, como lembra Lu Bonometti. "Pelos registros históricos, a palavra 'biscoito' é cerca de 200 anos mais velha que a palavra 'bolacha'", afirma. A partir do século 18, o produto passou a ser nomeado de biscoito ou bolacha, seguido do nome da substância ou pelo nome dos ingredientes utilizados no seu fabrico, "como biscoito de polvilho, biscoito de milho e bolacha de coco", exemplifica Guilherme.
Biscoito doce e bolacha salgada?
Também pode ser biscoito salgado e bolacha doce, sem problema algum. Afinal, como explicado, a classificação não se resume ao sabor — doce ou salgado —, mas à quantidade de vezes que o produto foi assado e, principalmente, à questão cultural.
"Podemos falar biscoito água e sal ou bolacha água e sal, biscoito de queijo ou bolacha de queijo. Do ponto de vista do modo de preparo, é exatamente a mesma coisa, sem diferença alguma", expõe a doceira Adriana Lira, da Dona Doceira.
Clássicas, variadas e até finas
Falando em receitas, os ingredientes usados na preparação do biscoito (e da bolacha) podem variar bastante. Ainda assim, a farinha é um componente que aparece bastante entre as principais receitas — e pode ser de trigo, arroz, cevada, mandioca. Os demais ingredientes agregados vão depender do resultado que se deseja.
Para um biscoito amanteigado, é preciso mais gordura. Agora, se a intenção for um quitute crocante, a receita pede mais insumos secos, enquanto nas versões macias, vale adicionar líquidos, como leite ou até suco.
Agora, dizer quais são as bolachas (ou biscoitos!) clássicas é o mesmo que tentar eleger a nomenclatura certa. Mais uma vez, essa definição é totalmente influenciada pelo regionalismo. "Temos amanteigados, sequilhos, goiabinhas, cookies, 'macarons', os italianíssimos 'cantucci', biscoitos de polvilho? Isso vai variar muito conforme a cultura", pontua a confeiteira Lu.
Para terminar a discussão, há ainda uma versão mais sofisticada dos biscoitos/e bolachas, mais elaboradas, que fogem daquelas industrializadas e vendidas em supermercados, servidas como acompanhamento de cafés e chás ou presenteáveis.
"Um biscoito de araruta pode estar na categoria rústica, de casa de avó, de roça. Mas facilmente pode migrar para a categoria de biscoitos finos se for finalizado em gramatura menor e acondicionado em embalagem diferenciada", diz Adriana.
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