Resort de luxo com bangalôs sobre lago marca história de família no Paraná
Na zona rural do município de Teixeira Soares, no interior do Paraná, o amanhecer entre as araucárias e uma floresta de pinus é regido por uma sinfonia de quero-queros, gralhas, andorinhas e... peixes. Sim, peixes. O alvorecer parece ser a happy hour dos cardumes que se movimentam no lago que ainda desprende uma névoa própria de uma manhã de frio nas pradarias paranaenses.
Na dúvida se o frenesi aquático é ainda resquício de um sonho, basta olhar para a lateral da cama. Em frente à lareira, uma placa de vidro no chão permite ver o ondular das águas — e, por uma abertura, até alimentar os peixes.
Estamos no Bangalô do Lago, um chalé de madeira que 'flutua' sobre a água sustentado por uma estrutura estilo palafita. A acomodação bem aos moldes 'casa de montanha' é a estrela do Virá Charme Resort, um elegante hotel fazenda a pouco mais de 150 quilômetros de Curitiba.
E mais que isso, é a realização de um sonho da família Gryczynski — tantas consoantes denotam a ascendência polonesa — numa trajetória marcada pelo pioneirismo.
Numa época em que o modelo de hospedagem do Airbnb ainda era uma ideia distante — e, vá lá, um tanto estranha — o casal David e Ieda transformou a casa simples na fazenda em pouso para familiares, amigos e visitantes. Eles cediam a própria cama e, por vezes, com a lotação dos três quartos, iam dormir na sala para deixar bem-acomodados os hóspedes. Ieda cozinhava e o marido geria passeios a cavalo e tardes de pesca. Foi um ano dessa experiência até decidir criar, de fato, um hotel.
Diziam que éramos loucos de construir um lugar no meio do nada", conta David.
A resposta que ele dava estava na ponta da língua: "Nós é que seremos o destino turístico". Os anúncios de 3 centímetros impressos nos classificados do jornal Gazeta do Povo — os 'posts' possíveis lá em 1998 — tentavam convencer os moradores de Curitiba a se desbancar da capital para aproveitar o fim de semana na fazenda. "E o pessoal começou a vir mesmo", lembra o proprietário.
Sustentável
Do ofício de engenheiro veio a preocupação, desde o início, com a sustentabilidade. Cada novo bangalô levantado no terreno de 170 hectares ganhava um bosque privativo ao lado. Não por acaso: no verão, a sombra das árvores protege as paredes do sol forte à tarde, o que reduz a necessidade de ar-condicionado e economiza energia. "No inverno, quando as folhas caem, o sol esquenta as paredes e garante conforto térmico", explica David.
A floresta de pinus que margeia o lago não apenas compõe o cenário daquele amanhecer idílico nos 38 chalés — quatro deles sobre as águas. É deste projeto de reflorestamento tocado pela família que veio a madeira que deu base a parte das estruturas do resort, como o restaurante central, o espaço infantil e a chamada Casa de Banho, uma construção rústico-chic com sauna e piscinas externa e interna, ambas com vista para o lago. A floresta também serve a lenha que alimenta as lareiras em todos os quartos.
Da fazenda para o prato
A sustentabilidade também vai à mesa. O conceito farm to table — tendência da gastronomia e da hotelaria que valoriza sabores frescos e cultivo local ou de pequenos produtores rurais — reflete-se na horta orgânica do resort. Ali são plantados boa parte dos temperos, hortaliças, legumes, verduras e frutas utilizados na composição dos pratos servidos no restaurante.
Aquilo que não é produzido nas terras dos Gryczynski vem de fazendas vizinhas, colônias rurais e fornecedores da região, movimentando a economia local — outra característica do conceito 'da fazenda para a mesa'.
Pães de fermentação natural, doces e salgados, como o bolinho de barreado — ensopado de carne cozido em panela de barro, típico do Paraná — e a torta de costela, andam cerca de 35 quilômetros desde o pequeno município de Rebouças até o Virá.
"Aqui é assim, um eleva a qualidade dos outros, e todos evoluem", diz Everton de Souza, que comanda a Lopes Padaria. Para escolher a melhor farinha para pães de castanha, focaccias e as fatias que compõe seu famoso sanduíche de pastrami, por exemplo, Everton testou muitas fábricas da região até encontrar na vizinha Irati uma moageria com trigo de origem "É 100% paranaense, e com um terroir que resulta em um pão realmente com sabor".
Também é em Irati que estão os fornecedores de embutidos. Na Feira do Produtor Iratiense, o stand da família Brandalize é destino certo para selecionar linguiças, copa defumada, pancetta e conhecer iguarias como o bacon de rolo e o queijo de porco, preparado com miúdos do animal. "Já são mais de 20 anos dessa história. E a tradição vai continuar", diz o produtor Agostinho Brandalize olhando para o filho, Diego, que também abriu em 2021 sua própria marca de charcutaria, a D'Brand, com uma pegada mais gourmet.
Nova geração, outras ideias
O bastão também já está sendo passado no Virá. Os filhos Marina e Iago se uniram aos pais no comando do complexo e injetaram novidades. "Ela viajou por toda a Itália visitando spas antes de implantarmos aqui", conta David. Aquela antiga casa que deu origem ao resort hoje abriga um spa da marca francesa L'Occitane, com massagens, tratamentos estéticos e uma área externa em meio à vegetação, com ofurô.
Mas o relaxamento realmente profundo é prometido no spa de flutuação, inaugurado este ano. Um caminho de pedras leva à nova construção com enormes janelões com vista para um bosque de bambus e arquitetura em madeira e pedra.
Os revestimentos naturais contrastam com o ar futurista da cápsula de flutuação, onde o hóspede boia em uma solução de água super salinizada — mais do que a do Mar Morto, por exemplo — e, fechado neste "casulo", passa cerca de 50 minutos em uma experiência imersiva — já descrita como a sensação de voltar ao ventre materno.
Na terra e na água
Para quem prefere mergulhar na natureza, atividades exploram as paisagens locais. Vale fazer a trilha sinalizada de dois quilômetros que dá a volta ao lago passando pela floresta de pinus.
A fazenda também pode ser desbravada de bicicleta, de charrete ou a cavalo — prefira o passeio a galope no final dia (pago à parte; o da manhã é gratuito), que leva até uma área elevada para curtir o pôr do sol com vista panorâmica da floresta, dos animais na pastagem, do lago e das propriedades rurais que cercam o resort.
Marcante na estadia, o lago também é palco de atividades como pesca, pedalinho, caiaque e a prática do stand up paddle — se tiver coragem de madrugar, em temporadas mais frias, quando o sol começa a aparecer 'sobe' da água um névoa que cria um belo espetáculo natural.
O ponto de partida para as opções aquáticas é um bar com deque sobre o lago, a pedida perfeita para depois pedir um drinque e fechar o dia como ele começou, com uma sinfonia de quero-queros, gralhas, andorinhas e... peixes.
Serviço:
Virá Charme Resort
Hospedagem: são 38 chalés, em 5 categorias, do apartamento aos bangalôs do lago
Diárias: de R$ 1.440 por casal (chalé apartamento) a R$ 2.880 por casal (bangalô do lago), com pensão completa (café, almoço e jantar, exceto bebidas)
Site: viracharmeresort.com.br
* O jornalista viajou a convite do Virá Charme Resort
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