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Luxo, carrões e português nas ruas: Bal Harbour é a Miami dos brasileiros

Bal Harbour, "village" da Flórida queridinho dos brasileiros e dos endinheirados - Divulgação
Bal Harbour, "village" da Flórida queridinho dos brasileiros e dos endinheirados
Imagem: Divulgação

Mari Campos*

Colaboração para Nossa

18/08/2022 04h00

Basta seguir ao norte de South Beach pela Collins Avenue para ver o cenário mudar drasticamente, principalmente logo depois de Surfside: saem as filas, os anúncios de outlets, as praias lotadas, a música alta e o trânsito congestionado.

Bal Harbour, um "village" (como eles preferem chamar) no sul da Flórida, propõe uma experiência totalmente diferente ao viajante que quer explorar Miami e seus arredores: praias vazias e muito limpas, extensa faixa de areia, um belo caminho arborizado à beira-mar, shopping com lojas e restaurantes badalados, instalações de arte urbana, hotelaria caprichada e muito, muito sossego.

Não à toa, se converteu nos últimos anos em um celeiro de influenciadoras brasileiras. Nomes como Lele Saddi, Suzana Gullo ou Helena Lunardelli são figurinhas fáceis por lá, além de inúmeros cantores e atores. Várias delas dizem em entrevistas que "Bal Harbour é como uma segunda casa".

O Brasil é um dos três principais públicos visitantes no destino, juntamente com argentinos e os próprios americanos. Brasileiros não apenas lideram o turismo internacional e o consumo por ali como são donos de muitos dos apartamentos locais.

A diminuta Bal Harbour (tem pouco mais de 3 mil moradores) chegou aos 75 anos vendo o pacato vilarejo à beira-mar de outrora se consolidar como um destino internacional sofisticado — e lançando projetos multimilionários.

Bal Harbour, "village" da Flórida  - Divulgação - Divulgação
Bal Harbour, "village" da Flórida
Imagem: Divulgação

Consumo de luxo e arte

Embora seja menor que muito bairro das grandes cidades brasileiras, Bal Harbour é uma cidadela com administração própria — e muito dinheiro disponível. Seus 2 quilômetros de extensão não impedem que atraia investimentos polpudos e tenha um patrimônio imobiliário de bilhões de dólares.

Tem um dos menores impostos imobiliários da região, o que atrai cada vez mais compradores de imóveis (chegam a crescer em torno de 10% ao ano). Esperta, mantém para si todo o valor arrecadado com suas "city taxes", sem repasse para órgãos regionais ou estaduais. Abriga ali quatro hotéis (sendo dois de luxo), diversos condomínios e um dos shopping centers mais rentáveis do mundo. E tem também as ruas, parques e praias mais limpos e bem cuidados da região.

Bal Harbour Shops e suas grifes de luxo - Jeffrey Greenberg/UCG/Universal - Jeffrey Greenberg/UCG/Universal
Bal Harbour Shops e suas grifes de luxo
Imagem: Jeffrey Greenberg/UCG/Universal

Mesmo em tempos de desvalorização sem precedentes do real, ainda somos maioria por lá; é português o que mais ouvimos nas praias, nos hotéis, nos restaurantes. No Bal Harbour Shops, shopping de luxo em plena expansão multimilionária, brasileiros ainda são os primeiros no ranking de compradores internacionais — e a maioria das lojas tem funcionários que falam português.

Bal Harbour é conhecida também pelo apreço às artes. Seus moradores e os hóspedes de qualquer um de seus hotéis recebem um cartão, que não expira nunca, do Museum Access Program. O programa, que já existe há quase uma década, libera acesso gratuito aos melhores museus de Miami e região, incluindo os sempre disputados PAMM, Frost, MoCA e ICA.

Além disso, a cidade também oferece gratuita e constantemente aulas de ioga na praia, apresentações de música ao vivo, mostras de arte e até sessões de cinema ao ar livre. E seu programa Unscripted Bal Harbour Art Access oferece tours privativos gratuitos e exclusivos (com champagne incluído) para moradores e hóspedes de Bal Harbour em diferentes museus de Miami e região.

Novidades para celebrar os 75 anos

Vista aérea de Bal Harbour, "village" da Flórida queridinho dos brasileiros e dos endinheirados - Divulgação - Divulgação
Vista aérea de Bal Harbour, "village" da Flórida queridinho dos brasileiros e dos endinheirados
Imagem: Divulgação

Como as praias de Bal Harbour sempre foram uma espécie de oásis de tranquilidade comparadas a outras praias de Miami, até a orla do vilarejo ganhou upgrade neste jubileu de diamante. Distantes cerca de 30 minutos de South Beach, suas praias ganharam mais 240.000 metros cúbicos de areia no final do ano passado, dobrando sua largura.

A areia "importada" foi selecionada em conjunto com cientistas e engenheiros ambientais para garantir a compatibilidade de temperatura e grãos aprovados para as tartarugas que fazem sua desova regularmente por ali.

Mas os demais projetos dessa nova fase de Bal Harbour vão muito além disso. Seu novo Waterfront Park, com impecáveis jardins, ganhará em breve áreas específicas para futebol e frisbee, espaços de meditação, zonas para a prática de exercícios e um playground ecofriendly.

O píer principal, localizado logo após o hotel Ritz-Carlton, bem onde Bal Harbour "termina", começará em breve as obras para um makeover total, ao custo estimado de US$ 15 milhões. Batizado de Bal Harbour Jetty, o atual estreito caminho sobre o mar vai ser totalmente repaginado, com design ampliado e elevado para o novo cais. Previsto para ser entregue por completo em 2024, terá escadas, pistas de caminhadas, ciclovia, alcovas, passarelas, espaços para meditar, áreas de convívio e acesso direto à ao mar. E vai conectar o outro lado da Collins Avenue diretamente à praia, o que deve ampliar drasticamente o interesse turístico pela região.

Desfile de carros e marcas

Porsches no Bal Harbour Shops - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Porsches no Bal Harbour Shops
Imagem: Reprodução/Instagram

Na última década, Bal Harbour fortaleceu seu posicionamento como um destino de lifestyle de luxo. Basta cruzar os limites entre Surfside e Bal Harbour para ver a profusão de Porsches e Jaguars nos estacionamentos, e de bolsas e relógios de grandes grifes nos transeuntes.

Seu Bal Harbour Shops é até hoje o primeiro contato da maioria dos turistas com o vilarejo, seja para espiar suas lojas das mais famosas grifes do mundo ou para, principalmente, comer em um de seus badalados restaurantes, que estão sempre em destaque nas redes sociais. O shopping não tem muitas opções gastronômicas; mas todas, com reservas quase sempre mandatórias, estão lotadas dia e noite.

O asiático Makoto, que agora conta também com filial em São Paulo, é de longe o queridinho dos brasileiros dentre as opções gastronômicas do mall. Uma procura tão significativa que o restaurante acaba de ganhar uma área novinha, e muito maior, no terceiro andar do shopping — com direito a bar exterior e disputadíssimas mesinhas ao ar livre.

O italiano Carpaccio, à entrada do mall, tem a maioria de suas mesinhas preenchidas assim que o shopping abre, às 11 da manhã. Desde o começo da pandemia, ele e o vizinho francês Le Zoo ganharam simpáticas mesinhas extras, ao ar livre, no corredor central.

No segundo andar fica o elegante grill Hillstone, a gelateria Bianco foi inaugurada recentemente e o shopping abre em setembro finalmente as portas de mais um esperado restaurante: o descolado Aba. Os planos de expansão do empreendimento (avaliados em mais de US$ 500 milhões) prevêem ainda a chegada de outros quatro restaurantes nos próximos anos.

Hotelaria local não quer apenas visitantes do mercado de luxo

The Ritz-Carlton Bal Harbour - Divulgação - Divulgação
The Ritz-Carlton Bal Harbour
Imagem: Divulgação

Enquanto no Bal Harbour Shops a maioria está querendo mais é ver e ser visto, nos dois hotéis de luxo de Bal Harbour hóspedes buscam sossego e, em muitos casos, anonimato. Os hotéis possuem beach clubs gratuitos para hóspedes à beira-mar, mas tanto Ritz-Carlton Bal Harbour quanto St Regis Bal Harbour Resort criaram também "beach villas" (com áreas exclusivas, incluindo parte interna com ar condicionado em um dos hotéis e jacuzzi privativa em outro) para hóspedes que querem aproveitar praia e piscina sem serem incomodados por ninguém — com valores de day use que podem começar em US$ 500, dependendo da temporada.

O Ritz-Carlton Bal Harbour tem apenas 96 acomodações com vistas panorâmicas, entre quartos e suítes completas, com living e cozinha. Tão exclusivo e silencioso que cada elevador dá acesso a apenas duas acomodações por andar e o beach club logo ao lado do píer leva a uma praia vazia, quase privativa. Sua coleção permanente espalha pelo hotel mais de 400 obras de arte que juntas somam mais de US$ 3.5 milhões.

O St Regis Bal Harbour Resort, localizado bem em frente ao Bal Harbour Shops, acaba de ser nomeado hotel e spa 5 diamantes pelo ranking internacional da Forbes. Bastante maior — são 215 quartos e suítes, todos com muito espaço e vista para o mar —, tem também mais opções gastronômicas, com destaque para o restaurante grego Atlantikós e o serviço de chá da tarde à inglesa do café francês La Gourmandise.

Seaview Hotel  - Reprodução - Reprodução
Seaview Hotel
Imagem: Reprodução

Mas isso não quer dizer que Bal Harbour respire luxo 24 horas por dia. Dos quatro hotéis do vilarejo, dois não focam neste mercado. O econômico Seaview Hotel é o mais antigo, inaugurado ainda nos anos 60. E praticamente não mudou de lá pra cá: quartos com decoração e mobiliário antigos, restaurante pequeno. Mas tem as menores tarifas da região, piscina de frente para o mar, acesso direto à faixa de areia e serviço de praia.

Do outro lado, afastado do mar, o antigo Quarzo Hotel acaba de ser reformado e transformado em Beach Haus, empreendimento que oferece várias das acomodações em estilo apartamento de temporada, com cozinhas completas. Com valores mais econômicos que os hotéis de luxo do destino, o Beach Haus ganha pontos pelos quartos e apartamentos novinhos, extremamente espaçosos, com decoração minimalista em estilo nórdico. Fica longe da praia, mas tem sua própria piscininha e algumas das acomodações têm vista para a lagoa.

*A jornalista viajou a convite de Bal Harbour Village Hall