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Ursa risonha e Olinda: isolamento fez jornalista se descobrir como artista

Aline Feitosa focou no trabalho com barro, que sempre esteve presente em sua vida - Chico Porto
Aline Feitosa focou no trabalho com barro, que sempre esteve presente em sua vida Imagem: Chico Porto

Carol Scolforo

Colaboração para Nossa

18/10/2022 04h00

Aline Feitosa

Aline Feitosa

Quem é

Aline Feitosa é formada em Jornalismo, profissão na qual atuou por 25 anos em Olinda, PE. Agora se dedica a criações artesanais à frente do Pequeno Ateliê, no mesmo Estado.

Uma ursa risonha, a pureza das crianças e uma brincadeira popular marcam o Carnaval pernambucano todos os anos. A La Ursa passa e quer dinheiro para brincar, atestando o quanto o brasileiro envolve suas festas com cor e folclore. Mas não só os festejos do país são coloridos. O casario de Olinda está perto com mais tonalidades alegres e suas platibandas. Um patrimônio que evoca as memórias de Aline Feitosa.

Depois de 25 anos atuando como jornalista, ela descobriu que esses ícones se tornariam um novo rumo em sua vida. "Olinda é um lugar cosmopolita e a arte pulsa muito aqui. O Carnaval é criativo, tem uma pegada política forte", ela conta, sempre atenta e envolvida no cenário cultural da cidade. E foi natural quando a pandemia interrompeu seu trabalho jornalístico, que ela desse abertura a essa arte pulsante.

Pouco antes que o mundo se fechasse, ela resolveu dar vazão ao trabalho com o barro, que sempre esteve presente em sua vida. Na época, Emmanuel Cansanção, artista pernambucano, foi quem deu um empurrão para que isso acontecesse. "Comecei a fazer cerâmica como hobby até que um dia meus amigos passaram a querer comprar", ri.

Quando a pandemia se instalou, os trabalhos no jornalismo foram por água abaixo e o plano B parecia perfeito para não enlouquecer com as horas vagas. "Foi impressionante que a notícia se espalhou sem que eu divulgasse ou fizesse assessoria de imprensa para mim mesma. A La Ursa foi a primeira peça e não parei mais", conta.

Aline Feitosa - feito à mão -  - Chico Porto - Chico Porto
A peça ficou popular nas redes sociais sem muito esforço de divulgação
Imagem: Chico Porto

Depois veio à mente o casario de Olinda, com as platibandas - recursos da arquitetura para esconder o telhado, na fachada, muito usado antigamente. "Amo passear pelo centro histórico de Olinda. Comecei a moldá-las em miniaturas e deu certo". Atualmente, Aline produz em média 300 peças por mês, entre La Ursas e casinhas - que se tornam cachepôs de plantas, outra grande paixão dela, no Pequeno Ateliê (@pequeno.atelie).

Aline Feitosa - feito à mão -  - Chico Porto - Chico Porto
As curvas do casario de Olinda viraram arte nas mãos de Aline
Imagem: Chico Porto

As pessoas me pedem para fazer a casa de sua avó, ou a que viveram na infância e assim entro na história delas. Conservar a memória e um patrimônio como esse no Brasil é extremamente importante.

Ícones brasileiros

Quando um cachepô de plantas se alia a histórias populares brasileiras, adiciona uma camada mais interessante à decoração. "A riqueza de detalhes, as cores vivas e toda a representação da cultura popular faz com que o trabalho da Aline se destaque entre outros jovens artistas", conta Lucas Lassen, curador e diretor criativo da Paiol, que vende suas criações.

"Nesses dois anos vendi seis mil itens. De forma muito natural, muito linda, tudo aconteceu. Sempre trabalhei com arte e me alimentei disso a vida toda. Agora sou a Aline artista", ela diz, animada.

Veja as obras de Aline Feitosa

@s que me inspiram - Aline Feitosa

@sovequemvaiape1

"O jornalista Josué Nogueira me inspira porque mostra as casas preservadas e que ainda resistem à especulação imobiliária que acaba com a memória arquitetônica do Recife".

@artistajacare

"Jacaré é um artista que teve sua arte projetada no movimento manguebeat. A arte dele me inspira porque transforma o lixo, ou algo que geralmente não vemos mais nada, em peças originais, criativas e divertidas."