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'Empanada-raiz' e sempre tostadinha: os segredos da rede de Paola Carosella

A sócia Paola Carosella tem participação ativa na La Guapa Empanadas Artesanais - Divulgação
A sócia Paola Carosella tem participação ativa na La Guapa Empanadas Artesanais Imagem: Divulgação

Gabrielli Menezes

De Nossa

04/08/2022 04h00

A expansão de restaurantes e lanchonetes acompanha uma sucessão de processos. Para facilitar a padronização e o transporte, não raro as receitas entram num caminho de cada vez menos ingredientes naturais e mais conservantes. A surpresa de quem vê o "close" da rede de empanadas La Guapa, dos sócios Paola Carosella e Benny Goldenberg, alçando outras regiões do país e abrindo a sua 32ª loja é que o "corre" ainda preza por etapas artesanais de produção.

Os princípios culinários da marca, inaugurada em 2014 no bairro paulistano do Itaim Bibi, se mantêm na expansão própria iniciada na pandemia a partir da injeção de R$ 50 milhões da empresa de private equity Concept Investimentos.

O "x" da questão é que, desde o começo, a empresa foi projetada para crescer. "Eu e a Paola pensamos que precisávamos escolher um único produto muito bom e usar ingredientes de qualidade", conta Benny.

Receita "nota dez"

Focar numa só receita diminui a dificuldade da manutenção do rigor. No caso das empanadas obrigatoriamente tostadinhas, são "apenas" duas preocupações: a massa e o recheio.

A mistura, a abertura e o corte da massa ao estilo argentino, composta por farinha, sal grosso e banha de porco (alternativa à gordura de boi utilizada no país vizinho), cabem às máquinas. Já o repulgue é feito pelas mãos dos funcionários.

Repulgar é como costurar uma empanada juntando as duas bordas. Existem muitas formas de fazer repulgues — mais redondinhos, com pontas, da esquerda para a direita, da direita para a esquerda", explica Paola.

Isso garante a espessura fina ao redor do recheio e o acúmulo estratégico de massa nas bordas. "Não é só uma questão estética ou de tradição, mas também a melhor maneira para que nossas empanadas fiquem sempre suculentas. Mudar isso nunca foi uma opção", afirma Benny.

O repulgue também permite que cada unidade, vendida a R$ 9, tome o seu formato de acordo com os sabores do menu. São dez fixos e um sazonal, todos obra da chef que ganhou fama no Brasil ao ser jurada do reality "MasterChef", da Band.

La Guapa - Divulgação - Divulgação
Benny e Paola levam La Guapa para outros estados
Imagem: Divulgação
La Guapa Empanadas - Divulgação - Divulgação
Empanadas fechadas a mão
Imagem: Divulgação

Para determinar as combinações não basta ter como objetivo a melhor mordida gastronômica. É necessário que elas possam ser reproduzidas em grande número e aos mínimos detalhes sem perder a qualidade.

"É importante termos processos e padronizações em toda a cadeia para que a empanada que se come no Itaim seja exatamente a mesma da provada em Brasília. Mas padronizar é diferente de pasteurizar".

Quando a gente percebe que para escalar a receita precisaríamos baixar para nota sete o que é dez, a gente não faz".

La Guapa Empanadas - Divulgação - Divulgação
Cada formato, um sabor
Imagem: Divulgação

Segundo Benny, os preparos realizados desde dezembro de 2020 na fábrica de 2.500 metros quadrados localizada na Vila Leopoldina, Zona Oeste da capital paulista, são exatamente os de quando a especialidade nasceu nos fundos do Mangiare (restaurante do administrador que funcionou por dez anos e encerrou as atividades em 2021). "Só muda o tamanho das panelas e a quantidade de pessoas".

Na prática, quer dizer que mesmo usando uma tonelada mensal de "frango caipira livre", o ingrediente é desfiadinho na mão; que ovos "de galinha de vida digna" cozidos são indispensáveis pedidas na a salteña, de carne; e que os legumes que vão dentro do salgado são cultivados por cooperativas de orgânicos em Parelheiros, no extremo Sul de São Paulo.

La Guapa Empanadas - Divulgação - Divulgação
Empanada queimadinha...
Imagem: Divulgação
La Guapa Empanadas - Divulgação - Divulgação
... é marca registrada
Imagem: Divulgação

Todo computadorizado, o sistema que mede faz a ficha técnica dos produtos e calcula o tempo de produção mostra que cada lote demora cerca de 96 horas para ficar pronto. Como saem caminhões com sacos congelados da fábrica para as unidades diariamente, é provável que a empanada devorada hoje tenha sido fechada poucos dias antes.

De nada adiantaria todo o trabalho na cozinha central, no entanto, se todos salgados esperassem os clientes suando dentro de uma estufa.

Com a operação simplificada — os pedidos são feitos e retirados direto no balcão —, o trabalho mais importante da equipe que fica nos endereços é finalizar as empanadas na hora. Ou seja: fechar o ciclo artesanal ao lambuzar o topo de egg wash (mistura de ovo que dá o tom dourado) e assar no forno de 400 graus até ficar bem queimadinha, como manda Paola.

Quer aprender a fazer? Clique na imagem abaixo e confira a receita escrita pela própria chef:

Empanada salteña da Paola Carosella

Dificuldade Fácil
12 porções
Ver receita completa

12 cidades, 3 estados "and counting"

La Guapa Empanadas - Divulgação - Divulgação
Empanadas são assadas na hora
Imagem: Divulgação

De 2014 a 2020, a La Guapa chegou a dez pontos em São Paulo. Com o aporte financeiro e a construção da fábrica, a expansão engatou a primeira marcha e acelerou.

Em 2021, aconteceram outras dez inaugurações e o faturamento dobrou. Neste ano, o plano é triplicar os ganhos com 20 aberturas.

La Guapa Empanadas - Divulgação - Divulgação
Operação enxuta nas lojas: pedidos direto no balcão
Imagem: Divulgação
La Guapa Empanadas - Divulgação - Divulgação
Sócios: Paola e Benny
Imagem: Divulgação

Uma dezena já ocorreu, incluindo a primeira fora do estado, em Brasília. A próxima a subir as portas será a de Curitiba, em agosto.

Até dezembro, 500 mil empanadas fechadas a mão devem sair mensalmente da cozinha central para abastecer as lojas de São Paulo, do Distrito Federal, do Paraná e dos demais lugares que a sagaz dupla de sócios mirar.

Ao que tudo indica, outros tantos brasileiros terão a chance de tirar uma casquinha da receita de Paola. Isso porque a fábrica está preparada para soltar — nada mais, nada menos — do que três milhões de empanadas por mês.