'Pequena Provença': conheça a vila na Itália onde não se fala italiano
Na fronteira da região piemontesa, entre a Itália e a França, está escondida uma joia para turistas com sede de novas culturas e experiências: Sancto Lucio de Coumboscuro, uma cidade da Bota onde a língua italiana não é falada.
Por lá, o dialeto vigente é o provençal, que tem sua origem ainda na Idade Média e em território francês, mais especificamente na Occitânia.
Segundo a CNN americana, apenas cerca de 30 pessoas moram no vilarejo rural, que vive do pastoreio de ovelhas principalmente. A eletricidade pode falhar durante semanas e a conexão com a internet — e com o mundo — é para lá de distante.
"Não temos uma televisão. Você não sente falta daquilo que nunca teve, em primeiro lugar. Quando falta luz por quinze dias seguidos, não há motivo para entrar em pânico. Nós desenterramos as lamparinas a óleo dos nossos avós", contou ao veículo Agnes Garrone, pastora e dona da La Meiro di Choco, uma fazenda que também é a única pousada da cidade.
"Estou acostumada a acordar ao amanhecer para cuidar das ovelhas. Trabalho 365 dias por ano, zero férias. Não conheço Natal ou véspera de Ano-Novo, porque durante as festas meus rebanhos precisam ser alimentados e cuidados. É uma vida de sacrifícios, mas é tão recompensadora quando você vê o nascimento de um cordeiro", conta.
Para quem procura contato com a natureza e ritmo mais calmo, Coumboscuro oferece as paisagens dos Alpes, vistas para campos, além de neve e silêncio no inverno. Segundo Agnes, "visitantes são bem-vindos".
"Precisamos de pessoas para descobrir nosso mundo. Não queremos ser esquecidos e temos tanto a compartilhar", acredita. O apelo dela é calcado em um problema já sinalizado pela Unesco em 2010: o provençal é uma língua — e, portanto, uma cultura — que corre o risco de desaparecer.
A área onde se encontra Coumboscuro já pertenceu tanto à França quanto à Itália diversas vezes ao longo da história, o que fez com que seus habitantes desenvolvessem uma identidade única, não inteiramente francesa ou italiana. Seu artesanato e os hábitos culinários — entre eles, a fabricação local de cidra — estão entre os traços que mantêm vivos não só o turismo como o imaginário local.
Além das exposições, festivais de música, competições de danças e fantasias populares, também é parte da tradição provençal uma forte espiritualidade. Todo mês de julho, falantes do dialeto se vestem em trajes típicos para realizar a Roumiage, uma peregrinação que sai da Provença, no sul da França, rumo a Coumboscuro, refazendo o trajeto de seus ancestrais pelos Alpes.
Peregrinos são recebidos em um grande festival em que tendas e armazéns funcionam como acomodação temporária para os visitantes que acreditam experimentar ali uma energia mágica de bruxas, fadas e faunos que ensinaram aos moradores receitas do queijo Castelmagno e de manteiga — mas, em contrapartida, estes seres pregariam peças ao roubar o leite e as castanhas deles.
Uma lenda local diz que alguns nativos de Coumboscuros podem curar ossos quebrados e torções no tornozelo. Parte saborosa desta herança são os pratos como "La Mato" ou "o louco", que mistura arroz, temperos, alho-poró e batatas defumadas; ou o Dandeirols, uma espécie de macarrão caseiro servido com creme branco e nozes.
O calendário das festividades na cidade é disponibilizado na página de seu Centro Cultural, no coumboscuro.org.
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