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Os mullets estão de volta e provam que, sim, "é bonito ser feio" em 2020

Tim Roney/Getty Images
Imagem: Tim Roney/Getty Images

Gustavo Frank

De Nossa

16/09/2020 04h00

Sempre ouvi as pessoas dizerem: "parece que acha bonito ser feio" para qualquer coisa que fugia do que era dito "bonito". Agora, em 2020, essa opinião virou uma constatação da verdade e, um dos motivos para isso, é o mullet.

Assim como a pochete, já taxada como brega por muitos e marcada pelo retorno memorável ao streetwear, o penteado foi colocado na caixinha do que é cafona, mas fez sua reviravolta e se tornou uma tendência no cabelo de homens e mulheres.

Uma das principais razões para o mullet ter voltado foi a quarentena. Ir ao cabeleireiro com frequência se tornou improvável com o confinamento e os fios que cobrem a nuca cresceram e, aos poucos, foram adaptados ao visual — digo isso por experiência própria.

E não sou o único. O beauty stylist Rodrigo Costa contou ser um dos que cederam à tendência:

"A quarentena fez com que as pessoas, deixando o cabelo crescer, fossem se entendendo com o próprio cabelo", conta ele a Nossa. "Eu fui um dos que se adequou rápido à moda do mullet. Tenho muito dessa referência dos anos 90, como em 'Barrados no Baile', por exemplo".

Rodrigo conta ainda que os mullets vão aparecer cada vez mais, tanto no público masculino como feminino — uma constatação de acordo com o retorno que tem pelo Instagram, onde compartilha com seus seguidores o cultivo do penteado.

O beauty stylist Rodrigo Costa - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
O beauty stylist Rodrigo Costa
Imagem: Reprodução/Instagram

"Vai virar cada vez mais tendência, com certeza", reafirma. "Os anos 1990 e 2000 vão vir cada vez mais fortes, seja no estilo, no cabelo e na maquiagem".

Aos que têm Chitãozinho e Xororó como referência para o corte de cabelo, não está completamente errado.

"Esse visual agrega trazendo modernidade, por vir repaginado", complementa Rodrigo. "Agora, ele vem com uma nova pegada, com um visual mais wet (molhado), trazendo mais sofisticação".

Exemplos de cortes para afro mullet - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Imagem: Reprodução/Twitter

Vale lembrar que, há uns bons anos, diversos artistas se apropriaram do penteado para criar suas identidades, desde os sertanejos aqui no Brasil até David Bowie na Europa, ou Brad Pitt no começo da sua carreira em Hollywood.

David Bowie - Reprodução - Reprodução
David Bowie
Imagem: Reprodução
Brad Pitt - Reprodução - Reprodução
Brad Pitt
Imagem: Reprodução

Reconhecimento da nova geração

Para quem nasceu nos anos 80 ou antes, o mullet já tem uma história. Já a Geração Z tem outro reconhecimento dele: autoafirmação.

No TikTok, um dos principais medidores de tendências na internet atualmente, a hashtag #mullet possui 830 milhões de visualizações.

E certamente não faltam personalidades para servir como inspirações para essa nova geração.

Desde Joe Exotic, protagonista de um dos maiores documentários de sucesso da Netflix de 2020, com seu estilo único, até Miley Cyrus e a atriz Barbie Ferreira, figuram a lista dos mullets lovers.

Miley Cyrus - Reprodução - Reprodução
Miley Cyrus
Imagem: Reprodução
Barbie Ferreira - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Barbie Ferreira
Imagem: Reprodução/Instagram

Os fios longos na nuca, predominantemente masculino entre os anos 1980 e 1990, ocupam a cabeça não só dos jovens tiktokers, como uma marca de estilo andrógina.

Prova disso são as buscas pelo termo "how to cut a mullet" ("como fazer mullets", em português), que apresentou crescimento de 124% no Google. junto ao aumento de 632% pela procura de "how to cut a men's hair", ("como cortar o cabelo de homens").

Já, especificamente no Brasil, o termo "mullet" apresentou crescimento de 110% nos últimos 90 dias — com destaque para o Distrito Federal e quatro estados: Acre, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro.

Tem até concurso

Na Austrália, diga-se de passagem, o hype pelo visual nunca morreu e é, inclusive, um "símbolo da masculinidade". Exemplo disso é o Mulletfast, uma competição anual de mullets, homenageando os melhores e mais longos deles.

A fim de eternizar o retorno do penteado em 2020, o fotógrafo Craig Gibson registrou retratos dos participantes para narrar esse não-tão-novo conceito de beleza.

"Essas pessoas formam um grupo que se identifica por meio dos seus cortes de cabelo e se expressam por meio dele", diz o profissional na descrição do projeto. "Alguns caras com quem conversei disseram que sempre quiseram um e a competição deu a eles confiança para fazê-lo".