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Tá chovendo peixe: fenômeno misterioso em Honduras intriga e atrai

15º07'N, 87º10'O
La Unión
Yoro, Yoro, Honduras

Localizada no planalto central de Honduras, Yoro é uma cidade cercada de morros verdes e vales férteis. É uma região conhecida pela diversidade da produção agrícola.

Bom, isso nos livros de geografia e no noticiário econômico. Nos folhetos turísticos e na selva das redes sociais, Yoro é o lugar onde chove peixes.

Que lugar é esse?

A temporada começa, em geral, em maio. Todos os anos, entre o fim da primavera e o começo do verão, a terra pode, a qualquer momento, se encher de peixes. Às vezes acontece mais de uma vez na estação.

Mas, para que ocorra, é preciso chover (água mesmo). Muito. Só após tempestades volumosas, de preferência com muitos raios e trovões, para manter todos longe dos campos, os peixes brotam.

Assim que a tormenta dá uma trégua, as pessoas saem de casa com baldes e cestas e coletam centenas de peixinhos prateados em La Unión, na zona rural de Yoro. Ninguém sabe dizer como isso acontece.

Uma explicação diz que trombas d'água os transportam de riachos subterrâneos, cavernas ou até do mar - o que seria um causo de realismo mágico, pois o departamento de Yoro fica, no ponto mais próximo, a 20 quilômetro do Golfo de Honduras, e a cidade tem uma altitude de 650 m.

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Canais no YouTube e no Tiktok de qualidade duvidosa já trataram bastante do assunto, muitas vezes usando fotos de peixes nas ruas de cidades asiáticas, não de Honduras. Alguns dizem que isso acontece por causa de tornados. Só não explicam como um tornado pode fazer isso sempre na mesma época do ano, largando os peixes sempre no mesmo lugar.

Na falta de uma análise mais aprofundada, a hipótese dos animais virem das profundezas é mais verossímil. Os leitos subterrâneos transbordam e os levam até a superfície.

Então talvez o fenômeno esteja mais para uma "plantação" de peixes do que uma chuva. Mas beleza, sigamos.

Ninguém se convence muito com explicações mais técnicas em Yoro. A razão por trás seria um homem chamado Manuel de Jesús Subirana, missionário católico do século 19 que se tornou adorado na região por lutar contra a fome.

Segundo a lenda, a fome foi embora. Deus atendeu às orações de Subirana e começou a mandar as "chuvas de peixes". O padre espanhol está sepultado na igreja matriz da cidade.

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Para os menos de mil habitantes de La Unión, o evento é algo com forte teor comunitário. Todos têm direito a uma parte da colheita, e aqueles que pegam mais redistribuem os peixes com os vizinhos que não chegaram a tempo para a bonança.

Vender os peixes também está fora de cogitação, segundo moradores ouvidos pelo jornal "The New York Times". Milagres não podem virar comércio, argumentam.

Mas a cidade, naturalmente, abraçou o fenômeno, que faz parte de sua identidade cultural. O time de futebol local, Yoro, que joga a segunda divisão do campeonato hondurenho, é apelidado de "Los Peces".

Yoro realiza um festival para celebrar o evento, com direito a eleição da "señorita lluvia de peces". A miss piscícola desfila pela cidade vestida de sereia.

O site "Honduras Travel" lista outros atrativos da região e garante que Yoro oferece uma rica experiência para quem busca conhecer a Honduras rural, com igrejinhas de algumas centenas de anos distribuídas entre muitos bairros e distritos espalhados pelos campos.

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Se vivesse hoje, talvez o espanhol Subirana não teria passado três dias e três noites seguidos rezando só por comida, mas também para o céu dar uma trégua. Yoro, e outras regiões de Honduras, são castigadas durante a temporada de furacões - que começa em junho, pouco depois da "chuva de peixes".


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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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