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Reportagem

A ilha paradisíaca onde todos os habitantes estão mortos

9º35'N, 85º04'O
Ilha Cabuya
Puntarenas, Puntarenas, Costa Rica


Nicoya é uma península na Costa Rica que hoje é, talvez, mais conhecida, ou mais falada, por abrigar uma das chamadas zonas azuis, regiões com uma quantidade impressionante de pessoas centenárias.

Desde os anos 2000, o Blue Zones é uma empresa que pesquisa e divulga esses lugares por meio de livros, filmes e séries documentais, o que trouxe certa fama ao local.

Nicoya é um lugar onde a vida tende a se alongar mais que o esperado. E em uma ilha específica na península, a morte também tem contornos de realismo mágico.

A alguns quilômetros da mais movimentada Montezuma e próxima da entrada da Reserva Natural Cabo Blanco, Cabuya é uma praia que pode passar batido pelo roteiro dos turistas que visitam o isolado distrito de Cóbano. O maior atrativo da praia fica em frente a ela: uma ilha, de mesmo nome, conhecida por abrigar um cemitério — e só ele.

É uma ilha onde todos os habitantes humanos estão mortos.

Que lugar é esse?

Acredita-se que, pelo menos desde o século 18, os indígenas descendentes do antigo Reino de Nicoya, nação que ocupou todo o noroeste da Costa Rica entre 800 d.C. e a chegada dos espanhóis, no século 16, usavam a ilha para enterrar os mortos.

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A lenda diz que, há cerca de 100 anos, pescadores encontraram um corpo e, sem conseguirem identificá-lo, decidiram enterrá-lo na ilha. Desde então, Cabuya virou um cemitério de fato, com sepultamentos constantes, até hoje. O pórtico instalado na entrada não deixa dúvida.

Dá para chegar a Cabuya de barco, em passeios contratados de caiaque ou até mesmo a pé, quando a maré está baixa e é possível andar por 15 minutos em um incômodo caminho cheio de pedrinhas. Vira-latas dão as boas-vindas à curiosa ilha, que é frequentada também por uma fauna barulhenta. Macacos, pelicanos, iguanas e águias estão sempre em Cabuya.

Quem preferir visitar à noite vai escutar as inevitáveis lendas locais a respeito de misteriosos sons que brotam da ilha. Aliás, Playa Grande, em Montezuma, ali pertinho, também tem um causo do tipo, já que ali existia um — adivinhe — antigo cemitério indígena.

No cemitério de Cabuya, há desde túmulos mais simples, apenas com cruzes e pedras, a mais elaborados
No cemitério de Cabuya, há desde túmulos mais simples, apenas com cruzes e pedras, a mais elaborados Imagem: Getty Images/Collection Mix: Sub

Os túmulos são simples, mas bem variados. Um deles tem uma escultura de um punho com uma hélice de avião. Flores e arranjos de pedras e conchas evidenciam que os habitantes locais visitam o cemitério e preservam as tumbas dos entes queridos.

O nome "Cabuya" é uma referência à planta Furcraea cabuya, espécie da família dos agaves, parente próxima do gravatá-açu. Indígenas da América do Sul difundiram o uso das fibras obtidas de suas folhas, usadas na produção de itens que variam de arco e flecha a tapetes.

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Essa fibra é conhecida como "fique" na Colômbia, onde sua aplicação é muito difundida e é parte importante da cultura nacional. Na Costa Rica, ela não tem a mesma penetração.

Segundo o site local "Q Costa Rica", Cabuya merece atenção dos turistas que vão a Montezuma, e não só dos amantes de atrações mais bizarras e excêntricas (como os leitores assíduos do Terra à Vista). O local está ganhando restaurantes interessantes, focados em frutos do mar, sempre frescos e locais.

Dá para visitar a ilha dos mortos e almoçar na sequência. Que tal?

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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