Arroz e feijão estão caros? Atenção: no que depender do calorão, vai piorar
![Imagem](https://conteudo.imguol.com.br/c/entretenimento/6f/2024/03/21/prato-com-arroz-e-feijao-1711035578635_v2_900x506.jpg)
Desde outubro do ano passado, os preços dos alimentos têm disparado acima da inflação, levando os valores da cesta básica lá pra cima.
Alimentos básicos como feijão, arroz, batata e cenoura tiveram alta superior a 10% em 2024 se comparados com o ano anterior — alguns deles, mais de 50%.
O tema virou até questão política: novas pesquisas indicam um crescente descontentamento dos brasileiros com o governo relacionado justamente com o que (não) está no prato.
Ainda assim, muitos especialistas dizem que o principal motivo é um fenômeno que nem todos os partidos juntos são capazes de conter: o El Niño.
O aumento de ondas de calor, um volume de chuvas muito acima do tradicional e as abruptas mudanças do clima têm afetado diretamente as lavouras.
![Diminuição nas chuvas pode afetar lavouras em várias regiões do país Diminuição nas chuvas pode afetar lavouras em várias regiões do país](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/c4/2024/02/06/diminuicao-nas-chuvas-pode-afetar-lavoura-em-regioes-do-sul-e-centro-oeste-1707238806326_v2_750x1.jpg)
E a má notícia é que com as mudanças climáticas em altíssima velocidade, a produção de alimentos deve ser cada vez mais prejudicada.
Cientistas dizem que estamos diante de um sistema agroalimentar em colapso, já que aquilo que comemos é responsável por um terço de todas as emissões de gases de efeito estufa do planeta.
Um estudo publicado no começo deste ano no National Library of Medicine indica que a "mudança climática é a razão por trás da maioria dos problemas econômicos contemporâneos".
Diz o texto que "as crescentes pressões inflacionárias no setor alimentar são um desses problemas" e que:
O aumento dos preços dos alimentos ligado ao aumento da temperatura e às dificuldades na agricultura indicam que o fenômeno da inflação só deve crescer
Os pesquisadores focaram o estudo na Nigéria, mas dizem que é um exemplo de como o clima pode tornar nossos alimentos menos acessíveis — em produção, mas também para os bolsos, consequentemente.
De fato, as mudanças climáticas representam um risco significativo para o suprimento global de alimentos, e os efeitos do aquecimento global e das mudanças climáticas pioraram — e vão piorar ainda mais, segundo projeções.
![Mudanças climáticas representam risco para o suprimento global de alimentos Mudanças climáticas representam risco para o suprimento global de alimentos](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/fa/2021/01/22/milho-planta-plantacao-milharal-1611343658171_v2_750x1.jpg)
Uma consequência típica de um clima mais extremo é um declínio na produtividade agrícola e nos rendimentos das principais commodities agrícolas do mundo (milho, soja, trigo, arroz, aveia, etc) que são vitais para suprimento de alimentos e nutrição humana.
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Quero receberAlém disso, a produção de alimentos depende fortemente da água e da qualidade do solo. Com o aquecimento global e as concentrações de emissões de gases de efeito estufa, há uma mudança no regime de precipitação.
Isso não só reduz o suprimento de água sustentável, mas causa degradação na qualidade do solo ao mesmo tempo que aumenta a evaporação devido a altas temperaturas.
Um documento de trabalho elaborado pelo Banco Central Europeu e o Instituto Potsdam para a Investigação do Impacto Climático analisou no ano passado flutuações históricas de preços de alimentos ligadas a dados climáticos.
Segundo os levantamentos, as alterações climáticas já fizeram subir os preços dos alimentos e a inflação em geral.
Na perspectiva do futuro, prevê-se que o aquecimento global crescente aumente os preços dos alimentos entre 0,6 e 3,2 pontos percentuais até 2060 numa escala global, de acordo com o relatório.
A inflação aumenta à medida que as temperaturas sobem — e as taxas atingem níveis ainda mais altos no verão ou em regiões quentes geralmente de latitudes mais baixas, essencialmente nos países do hemisfério sul.
Climatologistas alertam que a posição da inflação dependerá, é claro, de quanto a humanidade será capaz de reduzir as emissões e conter os danos causados pelas alterações climáticas.
![Pesquisas alertam que é preciso reduzir drasticamente a produção de carne e lacticínios para evitar um aquecimento global catastrófico Pesquisas alertam que é preciso reduzir drasticamente a produção de carne e lacticínios para evitar um aquecimento global catastrófico](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/2e/2021/05/18/criacao-de-gado-de-corte-em-confinamento-1621370975517_v2_750x1.jpg)
Mas os prognósticos não são muito otimistas. Isso porque novos estudos descobriram que não basta apenas eliminar os combustíveis fósseis do planeta, mas também reduzir drasticamente a produção de carne e lacticínios se quisermos evitar um aquecimento global catastrófico.
Ou seja, parte daquilo que comemos é um dos principais fatores para agravar um problema climático que pode nos trazer enormes riscos sobre a outra parte dos alimentos que compramos.
Não há muito para onde fugir se não tratarmos realmente de reverter o colapso do clima no planeta — que, os mais céticos, dizem não ser mais possível.
As emissões globais da pecuária mundial devem atingir o pico em 2030 ou antes. Nos países de rendimento alto e médio, que produzem e consomem a esmagadora maioria da oferta mundial de carne e lacticínios, essas emissões deverão atingir o seu pico ainda mais cedo. Ou seja, antes do que podemos imaginar.
Mesmo no melhor cenário, em que o mundo inteiro conseguiria cumprir as metas climáticas firmadas no Acordo de Paris, investigadores acreditam que a inflação alimentar vai mesmo aumentar.
Nos dias que os termômetros passam dos 35 graus em pleno início de outono e que nos canais de TV as notícias são de nevascas fora de época, chuvas que alagam cidades interfiras e outras anomalias climáticas, é melhor acender um alerta.
Muito provavelmente os alimentos nas semanas e meses seguintes ficarão mais caros. Resta entender se a dor no bolso vai ser capaz de nos fazer mudar de hábitos e tentar, pelo menos, atenuar os efeitos do El Ninõ e de outros cataclismos.
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