Rafael Tonon

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Opinião

Está na hora de as celebridades deixarem os restaurantes em paz

Cada dia, recebo uma notícia de que um famoso — atriz, cantor, modelo, rapper, atleta, BBB — acaba de abrir um novo restaurante.

São hot dogs e hambúrgueres com a assinatura do Maluma ou sushis que têm por trás investimentos de ninguém menos que Robert De Niro.

Há algumas semanas, soube que a atriz Cleo Pires está por trás de um novo bar em São Paulo que conta com "decoração mística, drinque com glitter e show de mágica".

De Hollywood ao Projac, passando por todos os tipos de celebridades, ter restaurantes virou moda entre aqueles que ganham um bom dinheiro com sua imagem.

Conceitos que têm famosos como investidores ou empresários não são uma novidade, claro.

Mas nos últimos cinco anos tem sido difícil encontrar uma celebridade que não tenha decidido expandir suas atuações também no setor de hospitalidade.

O apelo de ter um restaurante com o seu nome ou marca personalizada é autoexplicativo para celebridades que desejam exposição e dar aos seus fãs acesso condicional às suas personalidades através da experiência gastronômica.

Há, porém, famosos que preferem ser o investidor silencioso, que atua apenas por amor à comida ou a um determinado chef ou pela expansão de seus portfólios de negócios com novas fontes de receita.

Parece bem justo que as pessoas queiram aplicar suas fortunas em diversos tipos de negócios, entre eles restaurantes que possam rentabilizar ainda mais seu dinheiro.

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No geral, é um esforço mínimo que as celebridades precisam fazer para se vincularem a um restaurante, que, como empreendimento, pode exigir delas apenas um cheque assinado, ou o uso de seu nome, ou apenas algumas aparições bem divulgadas.

Além de tudo, pega bem ter um estabelecimento ligado à gastronomia, um lugar para convidar os amigos para jantar ou ser fotografado com um lindo prato em frente e uma taça de vinho na mão.

De Justin Timberlake a Channing Tatum, o nível a que as celebridades se envolvem — ou afirmam envolver-se — nos seus restaurantes pode mudar por ocasião, dependente do que mais beneficia a celebridade mais do que o restaurante, claro.

Justin Timberlake (centro) durante a inauguração de seu restaurante em Nova York
Justin Timberlake (centro) durante a inauguração de seu restaurante em Nova York Imagem: Wireimage

Mas ter um restaurante implica, sobretudo, em uma grande responsabilidade. Porque se trata de um ramo de negócios cheio de exigências e regras — afinal, está-se falando em alimentar pessoas, algo que é tão romântico quanto perigoso.

No ano passado, fotos de um prato servido no Peixe ao Cubo, restaurante que tem Sabrina Sato como uma das sócias, foram alvo de polêmica nas redes sociais, não por acaso.

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A criação mostrava tiras de salmão presas com mini pregadores de madeira no varal. A madeira, como especialistas sabem, é um material que pode ser foco de contaminação (o que fez, inclusive, a Anvisa proibir colheres de pau em estabelecimentos comerciais por questões sanitárias).

O varal de salmão do restaurante de Sabrina Sato
O varal de salmão do restaurante de Sabrina Sato Imagem: Reprodução Instagram

Nas manchetes, nenhum veículo dizia apenas "Peixe ao Cubo" para se referir ao negócio, mas sim o nome do empreendimento associado com o aposto "restaurante de Sabrina Sato", o que deve ter causado alguns (mesmo que pouco significativos) arranhões à imagem da apresentadora.

Os riscos de um restaurante deveriam ser levados em conta quando uma celebridade decide se alinhar a um — é um modelo de negócio arriscado, que requer seriedade.

Sobretudo porque, sem uma gestão muito competente, os restaurantes são muito suscetíveis e pouco propensos a prosperarem: dados da Abrasel dão conta de que apenas 50% daqueles que são abertos sobrevivem aos primeiros dois anos.

Trata-se de uma indústria, portanto, que deveria atrair mais profissionais e menos aventureiros; mais pessoas que veem em um restaurante uma vocação do que uma forma de melhorar sua imagem.

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No caso das celebridades donas de restaurantes, algumas querem ter um estabelecimento porque adoram comer e jantar ou até para fortalecer as suas comunidades de fãs.

Muitas delas, entretanto, decidem abrir um espaço porque querem ganhar dinheiro, enquanto tantas outras porque estão menos preocupadas em alimentar pessoas do que seus próprios egos.

Os resultados para muitos famosos, porém, sem o mínimo de entendimento sobre como é gerir equipes ou fazer compras para uma cozinha, é que podem ser bem frustrantes.

Tanto quanto descobrir que Sabrina Sato, uma descendente de japoneses, gosta do seu sushi de salmão com uma lâmina de caju e um pouco de algodão doce. Pelo menos, é assim que ela come em seu próprio restaurante.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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