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Pioneira na narração na TV viveu hiato de 19 anos: 'Não deram chance'

A narradora Luciana Mariano  - Acervo pessoal
A narradora Luciana Mariano Imagem: Acervo pessoal

Do UOL, em São Paulo

16/01/2023 04h00

Luciana Mariano, de 47 anos, foi a jornalista que abriu as portas da narração de futebol na televisão para as mulheres.

A história dela como a voz das partidas começou em 1997, mas sofreu uma longa pausa por falta de espaço nas emissoras.

Eu nunca abandonei a profissão, mas a narração eu tive de abandonar não porque eu quis, mas porque não me deram chance, Luciana Mariano.

A narradora foi a primeira mulher a comandar a transmissão de um jogo de futebol na televisão brasileira, em setembro de 1997. No entanto, segue fazendo estudos e buscando dados para checar se também é pioneira na América Latina e no mundo.

Mesmo após quebrar uma grande barreira ao começar a narrar, Luciana acabou sendo 'tirada' desta função para voltar a ser repórter. Mas ela não aceitou a situação.

"Promoveram um repórter a narrador e me rebaixaram de narradora para repórter só porque eu era mulher, mas não aceitei. A partir daí eu passei a ter um programa. Fiquei durante todo esse período sem narrar, só voltei em 2018, Foram 19 anos sem narrar porque não tinha oportunidade", diz.

Ainda sonho narrar uma decisão olímpica do futebol feminino, sonho narrar uma decisão do futebol feminino no Mundial, uma Copa do Mundo, Luciana Mariano.

Sua história com a narração aconteceu por acaso. Ela participou, por insistência do jornalista Mauro Beting, de um concurso da TV Bandeirantes e acabou ganhando.

"Foi um acidente de percurso, na minha cabeça isso não existia, porque não tinha nenhuma mulher que narrava, eu nunca tinha visto, nunca tinha ouvido, então simplesmente não existia (...) Eu tinha já uma vivência no futebol com o jornalismo esportivo, mas a narração foi realmente uma surpresa", disse.

Luciana Mariano, narradora de futebol - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Luciana Mariano, narradora de futebol
Imagem: Acervo pessoal

Apesar de ter sido a voz de um momento histórico da televisão e do jornalismo brasileiro, Luciana não se lembra qual foi o jogo que narrou pela primeira vez. Se recorda apenas que era uma partida de futebol feminino.

"O jogo eu não lembro, mas lembro que era um torneio de clubes de futebol feminino de São Paulo e do Rio de Janeiro. Nele estavam as maiores lendas que nós tivemos no futebol feminino, como por exemplo a Sissi, a Katia Cilene, a Pretinha, a Taffarel e a Formiga", contou.

A narradora, que hoje está na ESPN, exaltou o aumento no número de colegas de profissão nos últimos anos. Para ela, houve uma "evolução meteórica em quatro anos". No entanto, reforçou que ainda há um longo caminho para percorrer.

Sou a pessoa que mais narrou entre as mulheres até hoje e vou chegar aos meus 500 jogos agora, então quer dizer, é um abismo [com relação aos narradores], Luciana Mariano.

Luciana também destaca que acha ótimo ver cada vez mais mulheres assumindo o comando das transmissões dos jogos. Nomes como Renata Silveira e Natália Lara vêm se destacando no mundo da narração.

"Não me sinto mais sozinha, é a coisa mais prazerosa do mundo. Era terrível, me sentia num deserto, me sentia uma estranha, diferente, esquisita, e hoje vejo que o problema não era eu", mencionou.

Luciana Mariano foi a primeira mulher a narrar uma partida de futebol na TV brasileira - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Luciana Mariano foi a primeira mulher a narrar uma partida de futebol na TV brasileira
Imagem: Acervo pessoal

Como pioneira e mulher, Luciana não passou ilesa pelo machismo do jornalismo esportivo. No entanto, isso foi algo que ela foi percebendo ao longo dos anos.

"Fui me dando conta ao longo da carreira, porque quando comecei eu não sabia o que era preconceito, o que era feminismo. (...) A gente começava a usar roupa mais larga, não passava maquiagem, colocava boné... Era uma tentativa de me deixar mais parecida com um homem", revelou.

A jornalista também sofreu preconceito ao se relacionar com Luciano do Valle — com quem ficou casada por 12 anos. Apesar disso, Luciana cita a ajuda que teve de uma das maiores vozes do rádio e da televisão.

"Ele foi muito importante, eu via como ele montava os times, como conduzia a transmissão (...) Hoje, eu monto a escalação exatamente do jeito que ele montava", comentou.