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Abel fala sobre ego, família e critica demissões no Brasil: 'Emoção no DNA'

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, em entrevista ao "Seleção SporTV" - Reprodução / SporTV
Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, em entrevista ao 'Seleção SporTV' Imagem: Reprodução / SporTV

Do UOL, em São Paulo

16/03/2021 15h01

Campeão da Copa Libertadores e da Copa do Brasil pelo Palmeiras, o técnico Abel Ferreira foi o convidado da edição de hoje do 'Seleção Sportv'. O comandante português ganhou período de férias após o término da última temporada e está em Portugal aproveitando o descanso com a família.

Abel Ferreira fez questão de tranquilizar o torcedor palmeirense e garantiu que após a folga estará de volta ao Brasil para o seguimento da temporada de 2021.

"Quero deixar o torcedor do Palmeiras tranquilo que minha família vai permitir que eu volte ao Brasil. Quando tentei voltar a Portugal, e dois voos tinham sido cancelados, eu vou dizer que fiquei muito ansioso. Eu preciso dessa estabilidade emocional da minha família e da aceitação deles. Acho que foi a primeira vez na minha vida enquanto treinador que eu publiquei uma foto em família. Isso nunca aconteceu. Foi a forma que eu encontrei, com a autorização da minha esposa porque quem manda em casa é ela, e modéstia parte manda bem. Então se manda bem, deixa ela mandar. Mas essa foto com eles foi uma forma de agradecer o que o Palmeiras fez por mim, por me deixar retornar para Portugal e ficar alguns dias aqui com eles. Isso é algo que jamais esquecerei, isso me tocou e sei que essas situações não são fáceis de lidar", agradeceu o treinador.

Antes desconhecido por grande parte dos brasileiros, Abel Ferreira conquistou a confiança do torcedor alviverde. Após duas conquistas em pouco mais de quatro meses de trabalho, o treinador revelou que tanto ele como a diretoria do Palmeiras fizeram uma aposta que se comprovou acertada.

"Acho que vocês não conheciam muito da minha carreira enquanto treinador, mas posso dizer que o Palmeiras conhecia muito bem. Quando cheguei, me lembro que o diretor entregou o relatório sobre mim, até eu fiquei admirado como conheciam tanto da minha forma de trabalhar. Eu tenho objetivos de conquistar títulos como treinador, por que até ano passado todas minhas conquistas foram apenas como jogador. Por isso, entendo perfeitamente que as pessoas não me conhecessem. Mas uma hora isso tem que acontecer. O Guardiola até ser Guardiola também não tinha títulos. Assim como Klopp ou Mourinho. Isso uma hora tem que começar. Felizmente, acho que casou muito bem a filosofia do clube, a forma como o Palmeiras pensa, e a pesquisa que fizeram do perfil de treinar que queriam naquele momento. O Maurício Galiotte me entrevistou três vezes e fiz as mesmas perguntas que fizeram a mim. O que o clube esperava de mim? Se eu tinha como entregar as expectativas que o clube desejava. Acabou se tornando uma aposta certa das duas partes. Em um campeonato que em um ou dois meses se despedem treinadores com muita facilidade, desculpe dizer isso, mas esse são os fatos. No Brasil é assim. Portanto, também foi um risco de minha parte. E para o Palmeiras também foi um risco, porque contratou um treinador que não tinha vencido nenhum título até então", disse Abel Ferreira.

Ao ser questionado sobre o volume de demissões de técnicos no futebol brasileiro, o treinador do Verdão afirmou que muitas decisões são tomadas pelo calor do momento.

"Acho que o futebol brasileiro é muito emocional. É por isso que vocês mandam tantos treinadores embora. É porque mandam com a emoção e não com a razão. Isso está no DNA de vocês. Os brasileiros são pessoas emotivas, que gostam do afeto. Mas isso atrapalha nos momentos de manter a cabeça fria para tomar decisões. Se deixam levar pelo aspecto emocional. Ouvem muito a opinião pública, as manifestações dos torcedores. É preciso ser mais frio e respeitar os processos", avaliou Abel Ferreira.

O treinador afirmou que embora se encontre talento no futebol brasileiro, os conceitos táticos ainda estão distantes do que se vê na Europa.

"Os brasileiros são muito talentosos. Os jogadores do Brasil têm técnica de sobra. É por isso que vocês têm um campeonato tão competitivo, onde o último vai na casa do líder e ganha ou o líder vai na casa do último colocado e perde. Não é por acaso que os clubes europeus vão ao Brasil buscar novos jogadores, porque eles reconhecem algo que só vocês têm. Mas procuro desafiar meus jogadores. Já perguntei uma vez ao Danilo, se errar dois passes seguidos e a torcida começar a vaiar, o terceiro passe vai ser pra frente ou para trás? Ele me disse que tentaria para frente novamente. E acho isso correto. Quem manda somos nós. O jogo quem faz somos nós. É de dentro para fora e não de fora para dentro. O que falta ao Brasil é a organização tática, porque talento o Brasil tem de sobra. Eu disse ao grupo para deixar o ego em casa. Se viermos para jogar como equipe, na ideia que tenho a propor, todos nós vamos sair valorizados. Meu compromisso é valorizar o espetáculo, os jogadores e o clube. E tem outra coisa que não abdico que são os processos. Não dá para pensar em ganhar sem pensar a maneira como vou fazer isso. Como vou atacar, como vou defender, como vou cobrar as bolas paradas, como vou neutralizar o adversário? Esse é o processo. É exatamente isso que nos leva ao resultado", finalizou.

Abel Ferreira iniciou a carreira como treinador das categorias de base do Sporting (POR), passou pelo Braga (POR) e estava no PAOK (GRE) antes de chegar ao Palmeiras. O técnico de 42 anos conquistou os primeiros títulos da carreira na última temporada. No comando do Verdão, Abel comandou a equipe campeã da Libertadores e da Copa do Brasil de 2020.