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Cinco anos após ouro, Thiago chega à final sem clube e sem favoritismo

Demétrio Vecchioli

Do UOL, em Tóquio

31/07/2021 01h38

Quase cinco anos atrás, em 15 de agosto de 2016, Thiago Braz se tornava uma estrela do esporte brasileiro. Único anfitrião campeão no Estádio Olímpico dos Jogos disputados no Rio de Janeiro —o que fez em uma prova emocionante e com direito a recorde olímpico—, Thiago se tornou uma celebridade instantânea. Agora, novamente em uma final olímpica, seu status é completamente diferente.

Classificado para a decisão do salto com vara em Tóquio, que vai acontecer na terça-feira (3), às 7h20, (de Brasília), Thiago Braz chegou ao Japão distante da torcida que o transformou em ídolo, sem dar entrevistas há mais de um ano. Com a carreira gerenciada junto à de Neymar, não deslanchou como produto de marketing. Também é o único atleta de uma delegação de 54 integrantes do atletismo brasileiro na Olimpíada que não tem clube, o que significa que ele não compete no Brasil.

Quando ganhou o ouro no Rio, Thiago integrava a Orcampi, de Campinas. Logo após a conquista olímpica, foi disputado por BM&F Bovespa, equipe que depois se tornaria B3 e, posteriormente, encerraria o apoio ao atletismo no começo de 2018, e Pinheiros. Optou pelo último, e ficou no principal clube poliesportivo do país até abril do ano passado, quando foi demitido em plena pandemia.

"Não tenho clube, decidiram deste jeito e não posso fazer nada. É triste. Mas, não sei se esperaram o tempo das Olimpíadas, não sei o que aconteceu. Também fiquei bem chateado... é triste. Não vou criticar, mas foi triste", afirmou Thiago após o classificatório olímpico. Ele não havia dado entrevistas desde a demissão.

Como produto de marketing, ele também não estourou, com a carreira gerenciada pela N&N, empresa da família da Neymar. Com 300 mil seguidores no Instagram (a skatista Rayssa Leal tem 6,3 milhões), Thiago tem apenas três patrocinadores: a Nike, uma empresa de produtos de limpeza e uma de fones de ouvido. Nenhum patrocinador brasileiro.

"Não depende só do marketing nosso, da empresa. Depende dos clubes terem interesse em ajudar o esporte. Não só a mim. O esporte está carente e precisa de mais apoio. Eu sofri e muitos atletas sofreram. Eu desejo que isso melhore depois dos Jogos", continuou.

Passo atrás

Quando o ciclo olímpico começou, o técnico ucraniano Vitaly Petrov, que treina Thiago, explicou que o planejamento era trabalhar a força no braço do campeão olímpico para que ele pudesse carregar uma vara mais comprida e pesada sem perder velocidade e, assim, chegasse a Tóquio em condições de bater o recorde mundial.

Mas as coisas saíram de maneira muito diferente. Thiago, que treinava na Itália com Petrov, chegou a voltar ao Brasil para ficar mais perto da família e reatou com seu ex-treinador Elson Miranda. Depois de um período em São Paulo, porém, retornou a Fórmia, na Itália, onde fez o último um ano e meio de preparação ao lado novamente de Petrov.

Os bons resultados durante o ciclo podem ser contados nos dedos. Um 5,90m na França, em competição indoor, no início de 2018, um 5,92m em Mônaco, em meados de 2019, e só. Nesta temporada, ele ao menos foi regular. Saltou duas vezes para 5,80m e uma para 5,82m, o que foi suficiente para trazê-lo à Olimpíada como oitavo colocado do ranking mundial.

"Foi um ano bom, é claro que não foi um 6m, um 5,90m, que me colocaria perto dos líderes. Mas eu acho que se formos olhar na minha trajetória, fui bem constante, uma trajetória sólida. Espero manter essa constância na final, reduzir as falhas para chegar perto das medalhas", avaliou.

O grande favorito ao ouro é o sueco Armand Duplantis, que superou Sergei Bubka para ser recordista mundial e tem 6,10m na temporada. Aparecem bem cotados à medalha também o francês Renaud Levillenie (5,92m no ano), velho conhecido da torcida brasileira, e o norte-americano Christopher Nilsen (também 5,92m). Outro que fazia parte dessa briga, o americano Sam Kendricks, pegou covid e está fora dos Jogos.

Thiago faz parte de um segundo pelotão, que tem o filipino Ernest Obiena (5,87m), que treina com ele, o americano KC Lightfoot (5,85m) e o polonês Piotr Lisek (5,82m). Todos se classificaram com 5,75m.

Em Tóquio, as eliminatórias foram interrompidas depois que só 11 atletas superaram o sarrafo nessa altura. Outros três entraram na final com 5,65m. Augusto Dutra, o outro brasileiro na prova, foi eliminado.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado, Thiago Braz era atleta da Orcampi, e não da BM&F, quando conquistou o ouro olímpico em 2016. O texto já foi corrigido.