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Para brilhar entre deuses olímpicos, só a magia do carisma explica

Gustavo Kuerten virou atração para cada brasileiro na Vila das Olimpíadas de Sydney-2000 - Robert Cianflone/Getty Images
Gustavo Kuerten virou atração para cada brasileiro na Vila das Olimpíadas de Sydney-2000 Imagem: Robert Cianflone/Getty Images

Denise Mirás

Colaboração para o UOL, de São Paulo

30/07/2021 04h00

Carisma é algo que não se explica. Em Olimpíadas fica claro: mesmo chegando ao topo como um deus mitológico, ou o atleta tem, ou não. Vendo a sorridente fadinha-que-não-quer-mais-ser-chamada-de-fadinha Rayssa Leal rodeada de admiradores logo na primeira semana de Tóquio-2020, inevitável virem à memória imagens daqueles que cravaram seu brilho no inconsciente dos espectadores de Jogos Olímpicos. Pois se até mascotes entram nessa lista... (o ursinho Misha chorando no encerramento de Moscou-1980 virou ícone).

Das primeiras transmissões de tevê espalhadas pelo mundo, a ginasta romena Nadia Comaneci foi uma das atletas olímpicas que se tornou imortal, principalmente pelos exercícios na trave e barras assimétricas em fotos de Montreal-1976, que carimbaram o carisma da garota na história.

Claro que em coberturas olímpicas jornalistas ficam rodando que nem pião e não conseguem ver o todo - apenas aqueles esportes para onde se dirigem a pé, de transporte oficial ou público. Com a impaciência de todo dia no lendário metrô de Londres-2012, correndo para dar tempo de comer um pedaço de pizza antes do ouro da seleção feminina de vôlei; dirigindo carro alugado alucinadamente pelas highways de Los Angeles-1994 para "pegar" o ouro de Joaquim Cruz nos 800m, ou atravessando multidões que acompanharam a maratona pelas ruas, na subida de Montjuic, em Barcelona-1992 para ver a final do vôlei, o ouro da seleção masculina.

Kobe Bryant, jogador de basquete dos EUA, em Londres-2012 - Jesse D. Garrabrant/NBAE via Getty Images - Jesse D. Garrabrant/NBAE via Getty Images
Kobe Bryant, da seleção de basquete dos Estados Unidos, nas Olimpíadas de Londres-2012
Imagem: Jesse D. Garrabrant/NBAE via Getty Images

Mas personagens ficam marcados por arrastar verdadeiras minimultidões boquiabertas à volta, enquanto passam. Como Michael Jordan, marrento com seu chiclete na liderança invisível de um time de monstros como o Dream Team do basquete dos Estados Unidos, em Barcelona-1992. Ou Kobe Bryant, afogado em meio a uma multidão de repórteres lotando um hall imenso de Londres-2012 (Kobe morreu em acidente de helicóptero, no início de 2020).

Aleksandr Popov, nadador russo - Focus On Sport/Focus on Sport via Getty Images - Focus On Sport/Focus on Sport via Getty Images
Aleksandr Popov, ouro nos 50m e 100m livre da natação das Olimpíadas de Barcelona-12
Imagem: Focus On Sport/Focus on Sport via Getty Images

Ainda em Barcelona-1992: a sala de coletiva da natação tinha poucas cadeiras, dispostas em um retângulo de fileiras certinhas, espaços nas laterais para circulação. Foi Alexandr Popov, representante da Comunidade dos Estados Independentes (a CEI, que reuniu países da dissolvida União Soviética) , aparecer com o ouro dos 100m livre, para as pessoas começarem a se deslocar à frente, até sem perceber, como atraídas pelo magnetismo do russo.

Outra cena? O corpo a corpo de cotoveladas, mochiladas e notebookadas na zona mista do atletismo do Rio-2016 para nem conseguir ver o 1,95m do jamaicano Usain Bolt. Ao redor, vários grupinhos de repórteres com gravadores buscando os alto-falantes espalhados pelo espaço sob as arquibancadas do Estádio Nilton Santos.

Carisma não é questão de herói ou vilão. Ben Johnson, em Seul-1988 era outro que arrastava fãs de queixos caídos por onde passasse.

Brilho próprio

Também não depende de medalhas. Gustavo Kuerten passou em branco em Sydney-2000 e vivia rodeado de gente. Já era conhecidíssimo do público brasileiro pelas telinhas de tevê (jornalistas recebiam ligações de madrugada nas redações, para informar resultados do tenista em cidades escondidas no mundo). Mas Guga raramente estava no Brasil, para maior contato com repórteres ou fãs. Quando apareceu na Vila Olímpica de Sydney-2000, só sorrisos e ao vivo, conquistou o coração de todos e cada um dos atletas brasileiros hospedados por lá.

Só iluminados mesmo, para se destacar nesses Olimpos montados a cada quatro anos... ou cinco. Ou três: Paris 2024 já está na esquina.